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Aramis

O cantor da Amélia, da mulata, do melhor samba

Um evento especial para marcar os 20 anos de morte - e os 80 de nascimento - de Ataulfo Alves: na próxima semana, a Sigla/Som Livre lança o elepê "Ataulfo Alves - Leva Meu Samba", segundo volume da nova fase do selo Som Livre Documento, que obteve consagração em sua criação, em outubro/88, com "Cartola - Bate Outra Vez..." - considerado um dos melhores discos do ano que passou. Produção de Aretuza Garibaldi, com assistência de Márcio Gaspar e Pedro Paulo Marins, com assistência de mixagem do experiente Mário de Aratanha, "Ataulfo Alves - Leva Meu Samba", a exemplo do álbum feito em homenagem a Cartola, reúne diferentes intérpretes para as canções das mais expressivas selecionadas dentro de sua imensa obra. Com isso, há diferentes leituras de músicas que todos conhecem mas que são revistas com interpretações perfeitas - mostrando para um novo público (e também aos mais velhos, seus admiradores tradicionais) a extraordinária densidade de Ataulfo. Como diz, com muita clareza, o jornalista Márcio Gaspar, a voz macia de Emílio Santiago flui à vontade através de "Errei, Erramos", samba lançado em 1938 por Orlando Silva e saudado na época como uma novidade, pelo seu balanço livre e suave que, alguns até podem considerar como precursor da batida da bossa nova - que só viria a aparecer 20 anos depois (em "Chega de Saudade", gravado por Elizeth Cardoso, no lp "Canção do Amor Demais"). Ataulfo foi também inovador a partir do momento em que resolveu gravar suas composições, o que era inconcebível naquela época de grandes intérpretes. Ataulfo estreou como cantor em dezembro de 1940 com "Leva Meu Samba", com sua voz pequena, mas afinada e muita bossa - fazendo dessa uma das campeãs do Carnaval de 41. No disco da Sigla, é reinterpretada pela voz quente de Sandra de Sá, com um arranjo em que Rildo Hora reverencia Severino Araújo (dos tempos da Orquestra Tabajara). Ataulfo emplacaria mais um sucesso no carnaval seguinte (1942) - o clássico "Ai! Que Saudades da Amélia" - agora regravada pelo seu herdeiro legítimo, Ataulfo Alves Júnior. Uma faixa diferente, com uma música pouquíssimo conhecida: a lembrança da infância do compositor, vivida na roça, no interior de Minas, é captada com emoção pela dupla mineira Pena Branca e Xavantinho, escolhida para interpretar "Não Irei lhe Buscar", composição de 1944. Nos anos 40, os sucessos de Ataulfo e suas Pastoras eram inúmeros. Um dos maiores foi "Infidelidade" (parceria com Américo Seixas), lançado em 1947 e agora regravado por uma das mais belas vozes do Brasil - a Divina Elizeth Cardoso. Em 1950, uma polêmica musical: Ataulfo fornecia a Dalva de Oliveira (1917-1972) músicas que respondiam a composições cruéis de seu ex-marido, Herivelto Martins (Vassouras, RJ, 30/1/1912) - de quem havia se separado de forma violenta. "Errei Sim", foi um dos sambas, puxado para o dramático, mais famoso daquela polêmica - agora é regravada por Paula Toller, a Sra. Caetano Veloso - mostrando muita sensibilidade numa interpretação em que tem a acompanhá-la apenas os teclados de Eduardo Souto Neto e o sax-soprano (com afinação de clarinete) de Paulo Sérgio. Outro clássico samba da fase dor-de-cotovelo, "Pois É" (1951), aparece aqui num ousado arranjo com blues, na voz de Jorge Ben. "Mulata Assanhada", que Ataulfo lançaria em 1956, só se tornaria popular em 1961, com a interpretação ritmada de Miltinho. Agora é Eduardo Dusek que faz uma revisão nova deste samba que está entre os três mais conhecidos trabalhos de Ataulfo. Uma dupla de bambas - Bezerra da Silva e Moreira da Silva - comparecem num dueto impagável: "Vestiu Saia Tá Pra Mim" (1953) e "Desaforo Eu Não Carrego" (1962), acopladas numa mesma faixa - e na qual "Kid Moringueira", 87 anos, mostra todo seu estilo breque - junto à malandragem musical - marginal de Bezerra. Outro sucesso de Ataulfo, "Na Cadência do Samba" (que em 1961, teve três diferentes intérpretes - Elizeth, Jorge Veiga e o próprio Ataulfo) fecha o lp na voz de Martinho da Vila. LEGENDA FOTO - Bezerra e Moreira da Silva: fundindo dos sambas de Ataulfo numa interpretação com muito breque & bossa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/04/1989

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