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O centro de convenções que Curitiba precisava

A Secretaria da Indústria e Comércio conduziu as negociações que possibilitaram a compra do cine Vitória e sua transformação futura num centro de convenções - reivindicação que há mais de 15 anos vem sendo feita por vários segmentos. Apesar de toda a preocupação do secretário Fernando Miranda em fazer o mais transparente dos negócios, nomeando uma comissão com a participação de representantes de todos os setores interessados, sobraram farpas, críticas e mesmo acusações - estas devidamente respondidas com farta documentação. Independente da discussão do acerto (ou não) do local para um centro de convenções, agora a questão é irreversível. O Estado já é dono do imóvel que, logicamente, entrará como parte do valor necessário para a constituição da empresa de economia mista a ser criada neste primeiro trimestre. A Embratur participará com até 40% e a iniciativa privada (hoteleiros, empresas de turismo, demais interessados) também terão presença acionária. O local é central e embora existam problemas de estacionamento e expansão, há soluções possíveis. Surge, inclusive, a idéia de um aproveitamento futuro do antigo Palácio do Governo - hoje Secretaria da Justiça - ser integrado através de uma passarela sobre a Rua Rio Branco. Outra opção, mais cedo ou mais tarde: o prédio do antigo Hotel Johnscher, hoje pertencente ao rico comerciante Carlos da Costa Coelho, também virá para o Estado - já que é tombado, sua estrutura está com problemas e dificilmente aparecerá outro interessado. Só que, até agora, Coelho não quis fazer negócio: insiste em pedir Cz$ 8.000.000,00 pelo prédio de 610,84 metros quadrados, cujo valor avaliado pelo Estado é de Cz$ 4,5 milhões - chegando ao máximo, em Cz$ 5,6 milhões. xxx Enquanto em Foz do Iguaçu, finalmente foi constituída a companhia de empresa que agilizará as obras do sonhado Centro de Convenções naquele pólo turístico, o Centro de Cultura e Turismo de Curitiba - nome oficial do espaço - deverá ter um programa de reforma e adaptações que torne possível sua inauguração ainda em 1987. Para tanto, o escritório de arquitetura Luís Forte Neto já vem trabalhando num projeto há quase um ano. Sujeito a muitas modificações, a começar pelo próprio fato de o Hotel Johnscher (643 metros quadrados, área edificada de 1.272 m²) não ter entrado nesta primeira fase dos negócios - as modificações para que o cine Vitória se transforme num centro de convenções serão múltiplas. Com uma área edificada de 5.930 metros quadrados, o atual cine Vitória será totalmente mudado em sua parte interna para possibilitar a implantação de um programa básico: o principal será o Plenário (1.870 metros quadrados) - grande auditório (900 pessoas), balcão (opcional - 360 pessoas); cabinas de projeção e tradução simultânea (3), sala para conferencistas, "foyer", "hall" e palco. 1.060 metros quadrados serão reservados para três pequenos auditórios - cada um com capacidade para 160 lugares, equipados com palcos, cabinas de projeção e tradução simultânea - destinados a seminários, debates, reuniões em grupos e convenções menores. Como funções complementares haverá parlatórios (135 m²), com sete salas destinadas a conversas e pequenas reuniões; um cinema de 315 metros quadrados (260 lugares), bomboniére, sanitários e mais 395 metros destinados a restaurante e bar. No total, haverá uma área construída de 7.295 metros e mais mil metros de área descoberta - sobre um espaço físico real de 3.050,09 metros quadrados - pelo qual o governo do Estado pagou, no final do ano passado, exatamente Cz$ 28.378.380,00. xxx Há um ano, as obras necessárias para a transformação do cine Vitória num centro de convenções eram estimadas em Cz$ 13.836.000,00. Apesar do Plano Cruzado, hoje até o próprio secretário Fernando Miranda, da Indústria e Comércio, admite que com menos de Cz$ 40 milhões será impossível executar o projeto. O estudo elaborado pelo arquiteto Forte Neto, há um ano, chegou a fazer otimistas previsões de receita e despesa. Por exemplo, para o primeiro ano de funcionamento estabeleceu o faturamento em Cz$ 57.907.000,00 que subiria para Cz$ 58.095.000,00 no segundo e atingiria Cz$ 64.383.000,00 no terceiro. Como despesas operacionais (pessoal, encargos sociais, divulgações e promoções, seguros, manutenção etc.) as previsões são de Cz$ 16.900.000,00 nos três primeiros anos. Como se vê uma projeção mais do que furada, já que não foram considerados reajustes salariais e os próprios índices de inflação. xxx O estudo sobre o futuro Centro de Convenções desce a detalhes mínimos, estabelecendo previsões de receitas de prestação e taxas de serviços, locações das instalações, receitas de luvas (cabinas telefônicas, correios e telégrafos, artesanato, tabacaria etc.). Também em relação aos investimentos a serem feitos o estudo vai a detalhes: tipo de material a ser usado em cada setor, móveis, fiação, eletricidade, sistema hidráulico, decoração etc. Os secretário Fernando Miranda tem uma série de argumentos fortes que justificam a implantação do Centro de Convenções. De princípio, lembra a valorização que trará ao centro da cidade, pela proximidade dos hotéis e comércio de suporte - beneficiados naturais em qualquer convenção. Ao contrário de centros de convenções que se localizam distantes do centro (como no Recife, Fortaleza e Salvador), transformando-se em elefantes brancos, o de Curitiba deverá animar e reciclar uma área da cidade cujo comércio tem decaído nas últimas décadas. Os velhos casarões da Barão do Rio Branco - que já foram, no passado, valorizados pontos comerciais - poderão ser recuperados para lojas mais sofisticadas e até o prédio do ecologista João José Bigarella, que há 25 anos abriga o boêmio Bar Palácio (hoje um dos restaurantes mais caros do País, considerando suas características) também deverá estar livre em breve. Afinal, o milionário dom Pepe, dono do Palácio, construiu um prédio na Rua André de Barros para dar ao folclórico restaurante das madrugadas curitibanas sua definitiva sede própria.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
15/01/1987

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