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Aramis

O cinema brasileiro fica de fora dos lançamentos

Assim como a chamada lei da Obrigatoriedade foi o grande cavalo-de-batalha da indústria cinematográfica brasileira a partir do final dos anos 60 - e especialmente na década de 70 - a questão repete-se com a reserva de mercado para os filmes brasileiros junto ao segmento do vídeo. A questão é ampla, complexa e polêmica mas deve ser discutida! Os realizadores brasileiros conseguiram, após muita luta, chegar até a 140 dias/ano para que os filmes produzidos em nosso país fossem exibidos no circuito comercial. Era a época em que mais de 100 títulos - muitos de qualidade, alguns até premiados internacionalmente - supriam o mercado e justificavam que os cinemas reservassem datas para que os trabalhos dos diretores e intérpretes brasileiros pudessem [ser] vistos. Infelizmente, a lei deixou de ser cumprida por uma simples razão o esfacelamento da indústria cinematográfica brasileira. Se os exibidores bufavam e cumpriam apenas compulsoriamente - sob ameaça de terem suas salas fechadas pela Polícia Federal - a exibição dos filmes nacionais, com a progressiva redução da produção a lei foi sendo esquecida e hoje é ridículo pretender a sua aplicação. E os raros filmes que nos últimos 5 anos conseguiram ser exibidos, mesmo os que tem sido concluídos a duras penas e levados aos festivais mais importantes - como o de Gramado (cuja 20ª edição acontecerá em agosto próximo) e o de Brasília (que comemora 25 edições, com uma ampla programação entre 1º a 7 de julho tiveram rendas mínimas). Dos filmes que deverão disputar as premiações de Brasília, apenas três estão concluídos - "Sampaku" de José Joffily (já premiado em Gramado no ano passado e que teve uma única exibição no cine Ritz), "Oswaldianas", reunião de 4 curtas inspirados em temas de Oswald de Andrade, financiado pela Secretaria da Cultura de São Paulo e "Perfume de Gardênia", do paulista Guilherme de Almeida Prado. Sergio Bianchi, paranaense de Ponta Grossa, faz das tripas-coração para tentar concluir seu "A Causa Secreta" que filmou no ano passado mas não pode finalizar ainda por falta de recursos; [idêntico problemas] enfrenta Ozualdo Candeias ("O Vigilante") e que também atinge Carlão Reichenbach ("Alma Corsária, Alma Gêmea") e Chico de Paula ("Oceano Atlantis"). O mineiro Paulo Thiago que rodou "Moças de Fino Trato" em Vitória, com ajuda do governo do Espírito Santo, já estaria com seu filme concluído. Entretanto, o grande drama é que concluídos com os maiores sacrifícios os filmes que tem participado dos festivais de Brasília e Gramado (os dois únicos de importância nacional) nos últimos 5 anos, permanecem inéditos para o grande público. De nada adianta a cobertura que a imprensa dá aos eventos, as premiações (em Brasília, valores relativamente elevados, que este ano deverão permitir até a finalização de alguns trabalhos) se os mesmos não conseguem obter datas no circuito. Mesmo em salas oficiais - como o diretor da Fucucu (Riitz-Groff-Guarany-Luz), mantido pela população de Curitiba e que deverão prestigiar mais o cinema brasileiro, devido a estupidez de seus programadores (sic) raramente tem prestigiado o nosso cinema. A opção do vídeo também é difícil. Se a legislação previu uma reserva de mercado - com obrigatoriedade das distribuidoras em terem uma quota proporcional de filmes nacionais para os lançamentos estrangeiros - com a redução da produção - e esgotamento do catálogo existente - levou esta lei a cair no esquecimento (assim como aconteceu com a 'lei do curta", que obrigava o complemento das sessões de filmes estrangeiros com curtas nacionais). Só que no caso do vídeo, ainda existe, felizmente uma reação e o pau está quebrando entre produtores, cineastas e distribuidores. Em 17 de março, no Rio, um encontro do "Comitê de Entendimento" quase acabou com esforço físico do produtor Luís Carlos Barreto (que tem a seu favor um dos filmes de maior bilheteria do cinema nacional, "Dona Flor e Seus Dois Maridos") e o exibidor Roberto Darze, quando se discutiu a lei 8.401. Uma listagem de filmes em condições de lançamento, em finalização e filmagens, divlulgada pelo "Jornal do Vídeo", mostra mais de 50 títulos que [as] distribuidoras em vídeo recusam-se a incluir em seus pacotes. Algumas (poucas) distribuidoras ainda fazem edições - como a Sagres (que procurou obras de qualidade como "Que Bem Te Ver Viva", de Lucia Murat), a Reserva Especial e a Globo Vídeo - especialmente buscando o acervo de Mazzaropi ou mesmo, como está fazendo a Globo Vídeo, trazendo os títulos mais comercias do acervo da Atlantida, com grandes momentos da chanchada como "Carnaval Atlantida" e, no mês de abril, "O Homem do Sputnik", um dos últimos [alentos] daquele estúdio, que Carlos Manga dirigiu em 1959, com Oscarito, Zezé Macedo, Cyll Farney, Jô Soares e, em seu início de carreira, Norma Bengel, fazendo uma deliciosa sátira à Brigite [Bardot] - então o grande mito sexual dos anos 50. Filmes levados aos últimos festivais de Brasília e Gramado - premiados e com grande cobertura na época - continuam inéditos e, ao julgar pela reação dos distribuidores de vídeos, continuarão inéditos sob as mais diversas alegações ("não atraem público", "já são superados", não tem qualidade" etc.). "Argumentos" risíveis, mas que, infelizmente, impedem que o grande premiado em Gramado-91 - "Não Quero Falar Sobre Isso Agora" de Mauro Farias - ainda inédito nacionalmente - seja conhecido, assim como a comédia "Sua Excelência, o Candidato" de Ricardo Pinto e Silva, "Barrela" que Marco Antonio Cury adaptou da peça de Plínio Marcos; "O Beijo 2348/72", de [Valte] Rogerio - filme cuja produção se estendeu por 5 anos; as produções rodadas em Brasília - "Césio 137", de Roberto Pires (para nós o mais importante filme-denúncia em termos ecológicos feito no Brasil), "O Círculo do Fogo", de Geraldo Moraes e "República dos Anjos" de Carlos Del Pino. A ironia é grande: até uma co-produção Brasília-Itália, com um astro internacional - Bem Gazzarra, ator favorito do falecido John Cassavetes - "Forever", produção de Oswaldo Massaini, direção do caprichoso Walter Hugo Khouri, continua inédito, embora com cópias prontas há quase dois anos. Realmente, o cinema brasileiro só pode ser visto em alguns raros lançamentos em vídeo ou nas sessões '"Sétima Arte" da TV Cultura ou na Rede Manchete. E olhe lá! FOTO
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Vídeo
10
26/04/1992
Olá, pessoal. Em 1991, participei, fazendo algumas figurações em gravações do filme 'Oceano Atlantis'. Acontece, que nunca consegui assistí-lo, pois nunca entrou em cartaz no circuito ordinário de cinema e, quando eu descobria que tinha passado em algum festival, já era tarde demais. Se alguém puder me indicar onde eu posso adquirir uma cópia, ou (pelo menos) assistí-lo, ficaria muito agradecido. Muito obrigado pela atenção, Fábio.
canal brasil, veio. la deve passar.

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