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Aramis

O cinema para ler

Após anos de indigência editorial nas áreas das artes, começamos a entrar em dias melhores. Ano a ano, cresce a produção editorial de obras que se voltam ao cinema, música, teatro e artes plásticas - incluindo edições de arte. Mesmo com os tempos bicudos que enfrentamos, e, no caso de edições-brinde de obras de arte tenha havido uma natural recessão com o fim da Lei Sarney (que estimulava investimentos culturais), aliada aos rigores do Plano Collor, ainda se publicou bastante em 1990. Aqui, sem pretensão de tentar rastrear todas as publicações feitas em cinema e música, seguem os principais títulos que chegaram às livrarias. Frise-se que uma relação completa da área cinematográfica vem sendo elaborada a cada ano por Cosme Alves, conservador adjunto da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que inclui os livros de menor tiragem, edições regionais, que muitas vezes não chegam a saírem nos Estados em que são produzidas. Por outro lado, não estão citadas publicações estrangeiras - estas em número elevadíssimo, de colocar água na boca dos leitores - mas, com a alta cambial, cada vez mais proibidas nas vitrinas de (poucas) livrarias que trabalham com obras importadas. "Dicionário de Cineastas Brasileiros" - de Luiz Felipe Miranda. Art Editora / Secretaria de Estado da Cultura, 1990, 409 páginas. Apresentação de Fernão Ramos. Depois que Ruben Ewald Filho publicou o "Dicionário de Cineastas" (2ª edição, L&PM, 1988), aguardava-se que chegasse a vez de seu volume sobre realizadores brasileiros. Rubinho acabou cancelando o projeto mas, em compensação, o pesquisador Luiz Felipe Miranda, de São Paulo, produziu um "who's who" indispensável de quem já fez - e faz - cinema no Brasil, com 750 cineastas que rodaram longa-metragens no Brasil desde que Afonso Sogreto (devidamente verbetado) chegou filmando aqui. O que o autor já resume na introdução. Cada verbete com média de 20 linhas, objetivo e documental, uma obra referencial indispensável que se constitui entre os mais importantes lançamentos do ano. "And the Winner is... Os Bastidores do Oscar", de Emanuel Levy. Tradução de Magda França Lopes. Editora Trajetória Cultura, 418 páginas. "Tudo sobre o Oscar", de Fernando Albagli, Cinemin / Eebal, 334 páginas. Duas obras referencias sobre o Oscar. No ensaio de Levy, um mergulho arqueológico-sociológico na maior promoção de marketing da industria cinematográfica americana. Já Albagli, coordenando um trabalho de pesquisa, reuniu em livro o completo referencial sobre o Oscar - indicados, premiados, biografias, etc. - publicados originalmente em forma de fascículos como encarte da revista "Cinemin", que em sua atual fase é a mais completa publicação referencial de cinema. "Escritos sobre Cinema" - Coletânea de textos do cineasta Jean Renoir (1894-1979), escritos entre 1926/71, possibilitando uma visão crítica do cinema através da ótica de um dos maiores cineastas europeus. Tradução de Pinheiro de Lemos. Editora Nova Fronteira, 358 páginas. "Cinema - A Imagem-Tempo; A Imagem-Tempo Cinema 2". De Giles Delueze. Dois volumes contendo ensaios profundos, destinados a cinéfilos de sólida formação. Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro. 340 páginas cada volume. Editora Brasiliense. "Cinema e Ideologia", de Jean Patrick Lebel. Editora Mandicaru, 350 páginas. "Sergei Eisenstein, A Forma do Filme". Obra teórica do realizador de "O Encouraçado Potenkim". Ensaio sobre cinema de alto nível. Tradução de Teresa Ottoni. Edição Jorge Zahar. "As Estrelas - Mito e Sedução", de Edgar Morin, 162 páginas. Editora José Olympio. Clássico estudo sociológico sobre o star system escrito nos anos 50 mas que mantém impressionante atualidade. Indispensável. "Hollywood", de Gore Vidal. Tradução de Elaina Sabino, Rocco, 512 páginas. Lançamento em dezembro/90, a Cr$ 4.300,00. Com o subtítulo de "Um Romance da América nos Anos 20", este é 21º livro de Eugene Lauther Vidal Jr. (Gore é um pseudônimo em homenagem ao seu avô). Obra monumental, que apesar do título não tem como cenário apenas Hollywood, mas também Washington, Marion (Ohio) e Nova Iorque, cobrindo o período que vai de 1917/1928. Personagens reais como o magnata da imprensa sensacionalista Willian Randoph Hearst (que inspirou o "Cidadão Kane" de Orson Welles), "ex", futuros e então presidentes como Woodrow Wilson, W. G. Harding, Theodore Roosevelt e seu primo Franklin Delano convivem com os fictícios Blaise e Caroline Sanford, os irmãos do jornal "Washington Tribune", personagens do "Império" e também protagonistas desta nova trama histórica que está fazendo a delícia dos apreciadores de cinema. "Hollywood, a Meca do Cinema", de Blaise Cendras. Escrito originalmente como reportagem pelo francês Blaise Cendras, esta visão da Meca do cinema é um fascinante retrato da época (anos 40). Tradução de Fátima Murad. Editora Brasiliense. "Hollywood" de Charles Bukowski - O autor de "Barfly" - cujo roteiro escreveu para o cineasta francês Bert Schroeder - que já teve outros livros adaptados para o cinema, dá sua visão de Hollywood, em seu estilo debochado, sincero e corajoso. Tradução de Marcos Santarina, 260 páginas. Editora L&PM. "Charles Chaplin" - Paralelamente a reedição da fundamental biografia de Chaplim - pela José Olympio - temos também um estudo do crítico André Bazin, 107 páginas, pela Editora Marigo, 157 páginas. Outro ensaio sobre o mais famoso cineasta-ator de todos os tempos é "Nosso Amigo Charles Chaplim", de Alfredo Stenheirn e Marcia Kupstas. Editora Sampa Diretriz, 104 páginas. "O Carnaval das Imagens", de Michele e Armand Mattelart. Editora Brasiliense, 206 páginas. "Fellini / Giulietta", de Federico Fellini, tradução de José Antônio Pinheiro Machado, 106 páginas. Em estilo de romance, o roteiro do filme realizado por Fellini em 1965 ("Julieta dos Espíritos"). "A Voz da Luz" (La Voce della Luna). Roteiro do filme homônimo de Fellini (1990), livre adaptação de "Il Poema dei Lunatici", de Ermano Cavazzoni, que colaborou na distribuição das cenas com Túlio Pinelli. Tradução de Susie Fercik Staudt. 158 páginas. Ambas edições da L&PM Editores. "As Salas de Cinema de São Paulo" - de Inimá Simões, 190 páginas, 280 fotos. Co-edição PW Editores / Secretaria Municipal de Cultura / Secretaria da Cultura de São Paulo. Um estudo do circuito cinematográfico paulista do período que vai dos "takes" do final dos anos 20 até os nossos dias. Livro que resultou de uma longa pesquisa encerrada em 1985, rastreando os prédios dos cinemas de São Paulo, com bonitas fotos. "Mestre Mizoguchi - Uma Lição de Cinema" - Organização de Lúcia Nagib. Vários autores. 189 páginas. Co-edição Navegar / Cinemateca Brasileira / Aliança Cultural Brasil-Japão. Motivada pela retrospectiva do cineasta Kenzi Mizoguchi (1898-1956) foi montado este livro, indispensável para a compreensão de seu cinema - ainda pouquíssimo conhecido no Brasil. "As Novas Confissões", de William Boyd - Tradução de Waldéa Barcelos, 644 páginas, editora Rocco. Lançamento em dezembro - Cr$ 4.800,00. John James Todd, o sábio, ambicioso, aventureiro e romântico diretor de cinema que narra sua "autobiografia" no quarto livro de William Boyd não existiu. Mas o autor inglês descreve sua movimentada vida de forma que, acompanhando a filmagem de um grande épico que é a sua razão de existir com tamanhos detalhes, que a dúvida pode se instalar no leitor. Já conhecido por "A Guerra do Sorvete" (editado também pela Rocco), Boyd, 28 anos, formou-se em literatura pela Universidade de Oxford. Os Livros dos Filmes - Mais de uma dezena de romances que tiveram adaptações para o cinema também editados no Brasil nos últimos meses, especialmente pela Record e Rocco. Esta última, editora com um excelente catálogo, acaba de lançar "O Céu que nos Protege", romance de Peter Bowles (tradução de Roberto Grey, 296 páginas, Cr$ 3.500,00) publicado em 1949 e que foi filmado por Bernardo Bertolucci, em superprodução recém lançado nos Estados Unidos e França. "Richard Burton - Meu Irmão", de Ghahm Grahm, tradução de Geni Hirata, introdução de Elizabeth Taylor, 252 páginas. Mais uma visão da vida do grande ator inglês, falecido há dois anos - e que já tem três outras biografias lançadas no Brasil. Vale sempre como referencial. "Há Males que Vem para Bem" - É o título da autobiografia do ator Alec Guinnes (Marylebone, Londres, 02/04/1914), considerado um dos maiores nomes do teatro e, especialmente, cinema britânico. O astro de tantos filmes inesquecíveis fala de sua carreira cinematográfica, de suas crenças religiosas, de suas experiências de guerra, escrevendo com modéstia, perfeito sentido de oportunidade, falta de malícia e, sempre e acima de tudo, com amor e senso de humanidade. Tradução de Teresinha Batista dos Santos, 270 páginas. Editora Francisco Alves Editora. "A Linguagem Cinematográfica" - Teve sua primeira edição há 35 anos, merecendo sucessivas edições na França. O livro de Marcel Martin virou um clássico que resistiu até à aplicação do estruturalismo e da semiologia ao cinema. Por isto, foi das mais importantes a iniciativa da Brasiliense em encomendar Paulo Neves para uma cuidadosa tradução, supervisionada tecnicamente por Sheila Schwartzman. Na nota da orelha Jean Claude Bernardet fala do livro e de seu autor, lembrando-se que também tem outros livros (Jean Vigo e Charles Chaplin) que merecem serem lançados. 280 páginas. Em Curitiba, pode ser encontrado na livraria Ypê Amarelo que mantém uma ampla prateleira de obras de cinema. "Faltou Dizer - A Vida de Ingrid Bergman" - Depois de editar a biografia oficial da atriz Ingrid Bergman (1915-1982), a Editora Nórdica publicou o livro de Laurence Leamer com uma visão menos glamourizada - mas mais verdadeira - da atriz sueca, contando aquilo que ela não desejou narrar em sua biografia oficial. Tradução de Myriam Campello, 440 páginas. Nórdica. "A Divina Garbo" - Poucas semanas após a morte de Greta Garbo (1905-1990) a Nórdica lançou sua única biografia autorizada - escrita por Frederick Sands (autor de "Chaplin e Oona") e o jornalista sueco Sven Broman. Escrita em 1977 e publicada em 1979, foi aceita pela atriz de "Ninotchka". 200 páginas. Nórdica. "Fritz Lang - 100 Anos" - Editado pela Cinemateca brasileira / Goethe Institut para acompanhar a retrospectiva de Fritz Lang (1890-1976) reúne excelentes informações sobre seus filmes, em trabalho coordenado pela crítica Julia Nagib. 33 páginas, circulação dirigida. Catálogos - Merecem menção também os catálogos da XIV Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, dirigida por Leon Cakoff, e especialmente, o da Mostra Internacional de Cinema promovida pelo Cineclube Estação Botafogo, editado pelo crítico e cineasta David Mendes. Já os catálogos do Festival de Gramado, Brasília e RioCine, pelas próprias limitações financeiras com que foram realizados, não puderam ter o mesmo requinte das edições anteriores. "Entre Amigos" - Gabriel Garcia Marquez manteve uma coluna semana de cinema no jornal "El Espectador" de Bogotá, entre fevereiro de 1954 a junho de 1955. Assinava-a com as iniciais G.G.M., e na época tinha 26 anos. Uma coletânea destes textos, foi publicada no Brasil: "Entre Amigos", tradução de Remy Gorga, prefácio de Jacques Gillard. 512 páginas. Editora Record. "Brando - A Biografia não Autorizada" - Após ter editado (1989) "O Filho do Trapeiro", autobiografia de Kirk Douglas, a Civilização Brasileira - que nos anos 60 era a editora que mais espaço abria para obras sobre cinema (chegou a lançar vários roteiros de filmes de Federico Fellini), publicou uma biografia renegada pelo astro de "Uma Rua Chamada Pecado", que, aliás, em 1990, enfrentou seríssimos problemas: seu filho assassinou o marido de sua filha, que tentou por 2 vezes o suicídio. Existem várias biografias sobre Brando, mas esta, de autoria de Charles Higham (tradução de Aulyde Soares Rodrigues, 382 páginas) é das melhores. LEGENDA FOTO - O cineasta François Truffaut escreve sobre o cinema e seus filmes em livros lançados pela Nova Fronteira.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
3
13/01/1991

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