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"O Corpo"é o grande vencedor em Brasília

Brasília - Seis anos depois de "A Hora da Estrela" de Suzana Amaral ter saido deste festival com uma superpremiação de 12 troféus, outro filme inspirado na obra dita infilmável de Clarice [Lispector] (1925-1977) repete a consagração: "O Corpo", primeira obra-solo do paulista José Antonio Garcia, foi o grande vencedor desta 24a. edição encerrada na noite de domingo: recebeu seis prêmios - filme, atriz (Marieta Severo, que concorria também por "Vai Trabalhar Vagabundo II: a volta"), roteiro ( Alfredo Oroz), montagem, cenografia (Felipe Crescente), e música (Paulo Barnabé), este último paranaense de Londrina, irmão caçula de Arrigo Barnabé - uma das participações especiais neste filme cuja produção [estendeu-se] por três participações especiais neste filme cuja produção estendeu-se por três anos. Numa festa de encerramento que, como definiu o irreverente jornalista Edmar Pereira ("Jornal da Tarde", TV Cultura) "parecia filme indiano, pois teve de tudo" - a premiação foi considerada equilibrada, só merecendo vaias o carioca Neville de Almeida, surpreendentemente escolhido melhor diretor por seu apelativo "Matou a família e foi ao cinema" (os favoritos nesta categoria eram José Antônio Garcia e Hugo Carvana, por "Vai Trabalhar..."). Dos seis longas concorrentes, somente "Rádio Auriverde" ficou totalmente de fora da premiação. "Foi por unanimidade do júri em relação a este documentário que tentando denegrir e ofender a FEB provocou protestos dos expedicionários e do público - embora ganhando muito espaço, por sua polêmica, na imprensa local. Antecedido da pré-estréia mundial de "A República dos Anjos" do uruguaio-brasiliense Carlos Del Pino (que estará disputando o próximo Festival de Gramado do Cinema Brasileiro, na primeira quinzena de agosto), a premiação estendeu-se por mais de uma hora, como a leitura de um manifesto dos curta-metragistas pedindo a volta da lei que obriga a sua exibição nos circuitos comerciais e da carta subscrita por mais de 150 nomes dirigidas ao jornalista Nascimento Brito, presidente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, solicitando a imediata reabertura da Cinemateca - fechada desde o dia 2 de julho. Quem leu o documento foi a atriz Imara Reis, que também cuidou de entregar uma nova categoria de premiação extra - o "prêmio ao crítico mais belicoso" (leia-se cáustico em relação aos filmes em competição) do festival: Amir Labaki, da "Folha de São Paulo", venceu por pequena margem sobre o brasiliense Sergio Bazi - do "Jornal de Brasília". Embora "A Loira Fantasma", de Fernando Morini, também não tenha sido premiado, o Paraná esteve entre os contemplados: além do londrinense Paulo Barnabé ter sua trilha para "O Corpo" vencedora num páreo difícil (a favorita era de Sérgio Sarraceni, com música de Chico Buarque em "Vai Trabalhar Vagabundo"), um curitibano, o nissei Tadao Milaqui, 25 anos, que começou fazendo cinema de animação com Jaime Brustolim ("Brasileiros") e depois de estudar em São Paulo fixou-se em Porto Alegre, nos últimos 4 anos, ganhou o prêmio especial do júri por seu interessante "Projeto Pulex". Num festival em que não aconteceram maiores frissons, com um comportamento ultra discreto de todos os participantes (nunca se viram tantas crianças levadas pelos pais-cineastas, pais-artistas etc.,correndo pelos corredores e ao redor da piscina do Kubitschek Plaza) coube a Rogério Sganzerla dar o toque explosivo no encerramento. Ao ser chamado ao palco para receber um retrato de Zé do Caixão defronte o túmulo de Carmen Miranda - feito por Ivan Cardoso, como o troféu oferecido pela Associação Brasileira de Cineastas, pelo seu média "Isto é Noel", atacou violentamente ao júri, por não ter premiado o seu filme, citando nominalmente o presidente do mesmo, Nelson Pereira dos Santos, "que deveria se chamar Nelson Pereira Diabos". Elegantemente, o diretor de "Memórias do Cárcere" subiu ao palco e explicou o posicionamento do júri (que aliás, ficou reunido até 6 horas da manhã de terça-feira, para chegar ao resultado) e foi aplaudido pelo público. Entre vitoriosos e derrotados, todos foram comemorar no jantar no Kubistchek Plaza - felizes com a promessa de que em julho de 1992 acontecerá o 25o. festival, "ainda com melhores prêmios e condições" como disse a grande organizadora deste evento, Maria Luiza Dornas, diretora-executiva da Fundação Cultural do Distrito Federal.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
11/07/1991

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