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Aramis

O delito Matteotti

Ao escolher "O Delito Matteotti" para inaugurar a nova fase do cine Scala, agora programado pelo grupo Cinema-1, a sra. Hanny Rocha prestou, indiretamente, uma homenagem à imprensa, numa feliz coincidência, lançando esta obra polêmica na semana em que se comemora o Dia da Comunicação. Realmente entre os múltiplos aspectos que fazem do "Il Delito Matteotti" um filme importante, está a valorização que o diretor Florestano Vancini deu [à] imprensa italiana, para contar a história do deputado anti-fascista, assassinado por ordem de Benito Mussolini, há 51 anos.. Como "O Caso Mattei" e "O Bandido Giuliano", ambos de Francesco Rosi, "O Delito Matteotti" é um filme que ajuda o público a conhecer fatos da história contemporânea da Itália. Um filme linear e claro, que, em imagens cinematograficamente perfeitas, transforma-se num semi-documentário sobre as condições de que se valeu o "Duce" para instalar o fascismo quando só havia para ele, duas opções: ou renunciar, como queriam os adversários, violentados com o assassínio de Matteoti, mas incapazes de tomar atitudes conjuntas - os múltiplos partidos se dividiam nas suas próprias discussões - que levassem à queda do futuro ditador, ou ser como acabou sendo um tirano absoluto até 1945. Lançado em Veneza, em agosto/73, quando ali se realizou um festival de filmes experimentais e inquietos, "Il Delito Matteotti" teve sua principal carreira no ano passado, quando toda a Itália comemorou o cinqüentenário da morte de seu personagem. Foi no dia 10 de junho de 1924, que Giacomo Matteotti (1885-1924) foi raptado em Roma e assassinado por Sicários fascistas. Nascido em Fratta Polesine, província de Rovigo, Matteotti pertencia a uma rica família de proprietários de terras, mas após formar-se em Direito e estudar na Alemanha e Inglaterra, começou sua carreira política. Neutralista na época da Primeira Guerra Mundial, foi eleito prefeito de sua cidade natal. Em 1919, foi eleito deputado em Ferraca e Padua, com um número de votos que se repetiu na eleição posterior. Em 30 de maio de 1924, Matteotti, líder da oposição democrática no parlamento italiano, pronunciava veemente discurso na Câmara dos Deputados, contestando a legitimidade das eleições de abril que haviam dado ao Partido Fascista do primeiro-ministro Benito Mussolini - um ano e meio após a Marcha sobre Roma - ampla maioria da Câmara. Dez dias depois, ao sair de sua casa, em Roma Matteotti era seqüestrado e barbaramente assassinado por um grupo de homens da Ceka, a esquadra especial de Mussolini incumbia de punir os adversários políticos mais incômodos do fascismo. Numa linguagem linear, quase jornalística, Florestano Vancini mostra a evolução política da Itália após a I Guerra Mundial e os agitados anos que marcaram a tomada do poder pelo Partido Fascista. E através de manchetes de jornais das diversas tendências, Vancini narra aspectos da história contemporânea, fazendo desfilar personagens conhecidos como o rei Victor Emmanuello III (vivido por Giulo Girola), os deputados Giovanni Amendola, Felippo Turatti, Alcide de Gaspari, Antonio Gramsci e tantos outros. O roteiro de Lúcio M. Battistrada e [Vancini], valoriza tremendamente o juiz Mauro Del Giudice (vivido por [Victorio De Sica], num de seus últimos trabalhos como ator), l que resistindo a todas as pressões, conduziu com severidade a instrução do processo dos assassinos de Matteotti, mas o que pouco adiantou: Numa cidadezinha de província de difícil acesso - Chietti, no Abruzo - foram julgados e condenados a penas quase simbólicas. Interpretando a figura de Mussolini, o ator Mario Adorf tem notável atuação, assim como Franco Nero, no personagem-título, embora com uma curta aparição. No elenco de apoio, estão outros nomes conhecidos: Ricardo Cucciolla, Gastone Moschim, Umberto Ordsini e até o cineasta Damiano Damiani.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
03/04/1975

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