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Aramis

Ò disco alternativo de Adolfo

O pianista Antônio Adolfo (Mauriti Sabóia), 28 anos, que se apresenta neste fim de semana (Teatro do Paiol, 21 horas), em temporada musical, é hoje um instrumentista-compositor bastante diverso daquele garoto que, aos 17 anos, já estreava num dos mais vigorosos elepês da fase da Bossa Nova. ("Tema 3 D", RCA Victor, 1964) ou do pianista-compositor que, ao lado letrista Tibério Gaspar, lideraria um comercial movimento no final da década passada (Brazuca, 1969/71). Hoje, Antônio Adolfo, amadurecido tanto pessoal como musicalmente, é um criador liberto de fórmulas, esquemas e escolas que, neste ano de 77, apareceu com uma experiência totalmente inédita, pessoal e que, graças ao seu talento e trabalho foi bem sucedido" o disco alternativo. Casado do esquema imposto pelas gravadoras - que conhece muito bem, não apenas pelos discos gravados em várias delas, mas pelo seu trabalho de músico de estúdio, e sem querer limitar a sua música aos esquemas de marketing, que muitas vezes conduzem as regras da gravação, Antônio Adolfo após preparar uma série de novas composições, reuniu um grupo de músicos integrados ao seu espírito - violinista Jamil Joanes, percussionistas Rubinho e Arivaldo Contesini, pistonista Márcio Montarroyos, Obedan (sax-tenor), Danilo Caymi (flauta), Luizão (baixo), mais as vezes de Suzana, Luna, Márcio Lott e Malu, e, com calma, no período de novembro de 1976 a março de 1977, no estúdio Sonovisto, no Rio, fez uma fita de alta qualidade. Inicialmente, pensava em negociar o tape com alguma gravadora comercial, mas frente a má vontade ("o teu trabalho é bom mas pouco comercial" ouviu de vários diretores artísticos), partiu para o esquema próprio: contratou a prentagem de mil cópias, fez a capa do disco em papelão, carimbando o título na capa "Feito em Casa"), e, como o selo Artesanal, saiu vendendo os primeiros exemplares nas lojas do Rio. O esquema funcionou e o disco começou a ter repercussão. Mandou fazer mais mil cópias e pode então em lojas mais adiante, nos subúrbios e interior do Estado do Rio. Acumulado todas as funções - de criador a vendedor - Antônio Adolfo já chegou a mais de 6 mil cópias, colocando o disco não só no Rio, mas em São Paulo, Rio Grande do Sul e Nordeste do Brasil. Há mais de um mês esteve em Curitiba; veio de ônibus e, disco debaixo do braço visitou todos os nossos lojistas, aqui vendendo mais de cem exemplares. Divulgou o seu trabalho e acertou ainda com João Ricardo Labatut, administrador do Paiol, uma temporada, que começa amanhã. Quando, então, no palco, mostrará ao lado de sucesso do passado - como "Sá Marina", "Juliana", "Telemaco", "Porque Hoje é Domingo" etc..; um trabalho bem mais recente, entre o instrumento-vocal, desenvolvido a partir de 1972, com música composta desde o período em que passou nos EUA ("Venice", por exemplo, composto na praia do mesmo nome), ao próprio "Feito em Casa", que como o "Tema 3D", que fez em 1964,- e que designou o seu primeiro trio instrumental ("Três Dimensões", formado inicialmente com Nelson e Cacho, este depois substituído por Robertinho) - é uma espécie de marca registrada. Antônio Adolfo, com seu trabalho liberto individual e, sobretudo artesanal, mostrou o caminho para outros criadores musicais e provou que, apesar do poderio multinacional das gravadoras, ainda é possível ao criador musical desenvolver um trabalho independente e alternativo. Desde que se dispunha a descer do pedestal de "artista" e acumular todas as funções, humildemente. Sabendo desempenhar bem a todas, naturalmente! A cidade da dança Até agora ainda não foi formulada nenhuma teoria sociológica, mas o campo está aberto as interpretações: qual é o motivo que faz o público curitibano, normalmente arredio a imprevisível em termos de preferências artísticas, capaz de condenar ao fracasso de público concertos de jazzistas como Bill Evans ou Art, ser tão entusiasta por dança? Enquanto as respostas não aparecem, os empresários artísticos, deslumbrados com as casas lotadas que tem obtido, com os mais diversos de espetáculos de dança, continuam a programar apresentações de seus grupos. Em julho, novo festival de balé em nossa principal casa de espetáculos, iniciando já no sábado, com a estréia do Ballet Artdanse, de São Paulo, que no domingo fará mais duas apresentações: às 10 e 17 horas. *** Dirigido pela coreógrafa Halina Biermacka, o Artdanse é um dos mais conhecidos grupos de dança de São Paulo, reunindo a experiência de três décadas de Halina, dedicadas a esta arte. Com assistência de Karen Schwartz e Muni Carnewall, Halina criou um programa especial para a temporada curitibana, incluindo os números "E vocações", sobre tema da Poulenk; "Paysant", pas-de-deux, sobre música de Corali; "Pas Classique", sobre música de Auber; "Esquema", sobre música de Ravel e; como grande final, uma nova coreografia de "Carmen" de Bizet. *** Ainda em julho, uma atração maior: O Ballet da Ópera de Colônia, mais a primeira bailarina Márcia Haydee, brasileira há anos na Alemanha, afora o Ballet Riga, com temporada de 23 a 26. O Corpo de Baile da Fundação Teatro Guaíra a se apresentar repetindo o êxito da temporada encerrada ontem à noite, quando mostrou, entre outros novos números, uma belíssima coreografia de Hugo Delavalle sobre "Salomé", de Richard Strauss, e um aproveitamento do som pop de Passaport, trabalhando pelo sonoplasta Wasyl Stuparyk.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
30/06/1977

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