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Aramis

O discurso e as esperanças com os tempos de René Dotti

Foi um discurso erudito, repleto de citações de autores nacionais e estrangeiros. Frases bem construídas. Enfim, uma peça de oratória como se esperava um dos mais famosos juristas do Paraná, professor (por concurso público, em 4 etapas) da Universidade Federal do Paraná, obras publicadas e reputação nacional. Ao assumir a Secretaria da Cultura, na quente tarde de segunda-feira, o professor René Dotti, formulou, em seu discurso, as reflexões e pensamentos que o fazem encarar este novo desafio profissional não como uma função apenas executiva ou trampolim para vôos maiores (como foi o caso de tantos outros secretários de Estado), mas sim como um momento em que se voltou a redescoberta de valores esquecidos, formulando aquilo que ele insiste em definir como "novo humanismo". xxx O comparecimento maciço de representantes dos diversos segmentos da sociedade - não apenas da comunidade artística, confirmou, mais uma vez, o acerto que foi a escolha de René para a Secretaria da Cultura. Agora, passada a (difícil) fase de composição de equipe e de equilibradas negociações, começa o trabalho, para tentar recuperar o tempo perdido nos três anos em que a mais medíocre das administrações fez a Secretaria da Cultura quase desaparecer. Suzana Maria Munhoz da Rocha Guimarães (lembrada elegantemente no discurso de René como professora e filha do grande estadista que foi o ex-governador Bento Munhoz da Rocha Neto) tentou, nos sete meses em que permaneceu naquela pasta, realizar alguns projetos. Procurou fazer com que a pasta se reaproximasse de setores que tinham sido agredidos pelo seu antecessor e se empenhou em melhorar a comunicação, criando para tanto o quinzenário "Raiz" (que reestruturado, com novo título, voltará a circular dentro de algumas semanas) e programas de televisão. xxx Um novo tempo, espera-se, deve acontecer na área cultural, não apenas no Paraná, mas também em vários Estados. Afinal, a escolha de uma atriz da dimensão e dignidade de Beth Mendes, em São Paulo, ou de compositor como José Carlos Capinam, na Bahia, mostram que as Secretarias da Cultura terão funções cada vez mais importantes na política oficial. Os recursos continuam reduzidos e a Lei Sarney é encarada como varinha mágica para a solução de todos os problemas. Embora isto seja ilusório (por mais boa vontade que exista do empresariado, não será apenas com deduções fiscais que se resolverão problemas crônicos) não deixa de representar um acréscimo para que a Cultura realmente aconteça, com realismo e realizações. Para isto, há necessidade de competência, entusiasmo, diálogo e idealismo - virtudes que, neste momento, René Dotti concentra em torno de sua pessoa e de sua pasta.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
19/03/1987

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