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Aramis

O documento que se perdeu pelo autoritarismo oficial

"Pense N'Eu" - Gonzagão/Gonzaga/Gonzaguinha", idealizado inicialmente como um espetáculo para teatro - a primeira opção era o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto - foi transformado num grande show ao ar livre justamente por representar melhor a filosofia que sempre caracterizou os homenageados: autores-intérpretes que buscavam o contato direto com o povo. O velho "Lua'", como seu filho Gonzaguinha, sempre fizeram música para que todos cantassem - e tanto "[Aza] Branca' ou "Começaria Tudo Outra Vez", diferentes em suas concepções - mas ambas [obras-primas] como músicas - são hoje hinos que todos conhecem. Lamentavelmente, imagens em vídeo que poderiam ser projetadas em telões, mostrando o último show que Gonzaguinha fez em Curitiba, em 20 de abril de 1991, não existem única e exclusivamente por culpa da Fundação Cultural de Curitiba. Conforme denunciamos amplamente na época, a insensibilidade, autoritarismo e incompetência da então "diretora de ação cultural", a assistente social Celise Niero, impediu que o cinegrafista Rafael Brenner e Silva, documentasse o espetáculo. Autorizado pessoalmente pelo artista - e com documento assinado pelo empresário Renato Duarte Costa, Rafael faria a filmagem (sem iluminação, não interferindo no espetáculo) para o arquivo da Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira - e com uma cópia solicitada pelo próprio Gonzaguinha. Impedido por Celise de entrar no teatro o cinegrafista teve vetado, inclusive, o uso do telefone público ali existente, para chamar um taxi e assim, qunado procurava condução, há poucos metros do local, foi violentamente assaltado por marginais que levaram a [câmara] de vídeo (valor de US$ 2 mil) e quase o assassinaram. O fato teve grande repercussão, com centenas de manifestações de solidariedade para a APMPB, repercutiu na Câmara de Curitiba - que por iniciativa do vereador Angelo Vanhoni, exigiu a presença da Presidente da FUCUCU, quando ali tentou (mas não conseguiu) justificar a arbitrariedade e, 120 dias depois, finalmente, o prefeito Jaime Lerner demitiu a assistente social Celise Niero, contra quem havia, aliás outras graves reclamações. O irreparável, entretanto, foi a perda de um precioso material de documentação, No show "Cavaleiro Solitário", Gonzaguinha não só interpretava 8 músicas inéditas, mas, de improviso, fazia referências a sua vida, ao seu pai, e depoimentos da maior sensibilidade. M registro que seria feito para uma instituição criada e mantida única e exclusivamente para preservar a memória da nossa cultura popular, foi brutalmente prejudicada ela incompetência e autoritarismo de uma "executiva" sem a menor condição de chegar ao cargo da qual, felizmente, hoje está afastada definitivamente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
29/04/1992

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