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Aramis

E o Donato bossanovista voltou com muita paixão

Em apenas cinco meses de explícita paixão por Leila Svartsnaider. João Donato (de Oliveira Neto, Rio Branco, Acre, 17/8/1934) lhe dedicou nada menos que 50 músicas. E fez mais: afastado de gravações há 10 anos, entusiasmou-se tanto que fez um disco ao vivo, resgistrado durante sua temporada no People, de 18 a 21 de junho. O resultado é que "Leilíadas" (Elektra/Musician, novembro/86) se inclui, ao lado de "Muito à Vontade" e "A Bossa Moderna" (que gravou em 1962, na Philips, num rápido retorno dos Estados Unidos) na categoria de discos antológicos. Um prazer imenso para quem gosta de música instrumental, da melhor qualidade, romântica e criativa, com os toques da Bossa Nova - da qual Donato sempre foi um mestre (amigo maior de João Gilberto, deu no piano a batida tão inovadora quanto João fez no violão). Assim, com o calor e emoção da música ao vivo Donato vai deixando fluir seus temas "Leilíadas" acompanhado por Serginho (trombone), Paulinho (trumpete), Mauro Senise (sax/flauta), Zé Carlos (sax/flauta), Sidinho (percussão), Teo Lima (bateria), Luizão Paiva (baixo) e, em duas faixas, também no baixo, Jamil Joanes. "Leilíadas" flui lento, gostoso - com um "Royal Salut", no qual Donato improvisa, recria, faz citações ("Laura", por exemplo), num disco admiravelmente bem construído que, dificilmente deixará de estar entre os melhores do ano. O VIGOR DE TISO Outro nectar sonoro é "Branco e Preto" (Polygram/Barclay), o 13º elepê-solo de Wagner Tiso, 41 anos, mineiro hoje internacional e popular ("Coração de Estudante", o hino das Diretas e o requiem de Tancredo Neves). Como em seus álbuns anteriores, Wagner traz temas dos mais harmoniosos, somendo desta vez também duas faixas da trilha sonora de "Chico Rei", o filme de Walter LIma Jr. que nesta semana está concorrendo aos "candangos" do Festival de Cinema de Brasília. Em "Chico Rei", tema central, há participações especiais do grupo Vissungo e mais um coral de sete vozes, enquanto em "Santa Efigênia", outro momento sonoro do filme de Walter Lima Jr., destaca-se a vocalise de Nana Caymmi e a flauta de pau de Rao Kyao. Só por estas duas faixas, "Branco e Preto" valeria recomendação imediata, mas há outros momentos magníficos - como a liberta junção que Wagner fez misturando "Le Petit Négre" de Debussy e "Penny Lane" de Paul McCartney/Lennon, os duetos com Egberto Gismonti ("Dueto Andante") e o pianista João Carlos Assis Brasil ("Pai Francisco"), além da homenagem a Tavinho Moura com "Dona Beija", parceria com Fernando Brant e na qual volta a ter participação especial a Flauta de Rao Kyao, entre um octeto de cordas, a banda de sopros (Ornelas, Macaé, Maciel, Niltinho) e as vozes do próprio Tiso, Ary Sperling (violonista em várias faixas) e Ronaldo Nascimento. Há três anos, Wagner dividia com Cesar Camargo Mariano o histórico "Todas as Teclas". Agora, simultaneamente ao "Branco e Preto", Camargo Mariano também sai com seu "Ponte das Estrelas", gravado ao vivo, nas noites de 16 a 18 de julho último, durante as suas apresentações no Projeto SP. Acompanhado por instrumentistas da maior competência - Dino Vicente (teclados/programação de computador), Azael Rodrigues (baterista, também integrantes do Pau Brasil), João Parahyba (percussão), Ulisses Rocha (guitarras), Pique Riverte (saxes e flauta) e Pedro Ivo (baixo), esta produção não poderia ser melhor desenvolvida. Há temas inéditos - "Guaicá", "Xique-Xique" (de Parahyba/Azael), "Volto Já", "Don Quixote", a primeira gravação de "Merda", a polêmica música de Caetano e duas releituras impressionantes: "Sabia" e "Imagine". Mais do que as palavras é ouvir o disco. Aliás, pena que não saia em laser, para dar toda a dimensão deste som redondo e grandioso. Uma nova estrela no mundo dos teclados: Rique Pantoja. A prova de sua versatilidade e talento está num belíssimo elepê, com sete temas próprios (Elektra/Musician/WEA), no qual desfila suas músicas com um grupo da maior competência: Jurim Moreira (bateria), Zé Nogueira (alto e soprano sax), Don Harris (trumpete/Fluegelhorn), Widor Santiago (sax-tenor), João Baptista 9baixo) e Armando Marçal (percussão). Sem falar na participação especial do saxofonista Ernies Watts. Moderno, criativo, rolando em ritmos que vão a várias vertentes, Rick Pantoja é um tecladista-autor que justifica os elogios recebidos por sua presença no Free Jazz Festival. Depois de se ouvir este elepê, é de se dizer: queremos mais! LEGENDA FOTO 1 - Wagner Tiso: mais uma vez, com perfeição. LEGENDA FOTO 2 - Donato: 50 temas para musa Leila.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
02/11/1986

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