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Aramis

O fim do caciquismo nos clubes de campo

A derrota do grupo Pinto Ribeiro, que há 15 anos se mantinha no poder do Três Marias Clube de Campo, em eleições realizadas no último domingo, é significativa e ultrapassa a área do interesse clubístico. Em poucas semanas, um ex-diretor social do mesmo clube, o sr. José Gazal - até agora nome totalmente desconhecido afora a área local, conseguir mobilizar sócios em números suficiente para evitar a reeleição do sr. Murilo Lessa Ribeiro, filho de José Pinto Ribeiro - fundador e presidente do clube até 1980, quando transferiu o cargo para o seu herdeiro. O mesmo fato aconteceu há 5 anos no Santa Mônica Clube de Campo, quando cansados do mesmo grupo que desde 1962 dominava a entidade, os associados apoiaram um industrial, também até então desconhecido na área clubística - Ari Paiva Siqueira, derrotando o presidente Leonel Amaral. A derrota dos incorporadores do 3 Marias Clube de Campo mostra que a tendência oposicionista é um fato. Basta alguém surgir com vontade de denunciar supostas irregularidades, colocar o dedo nas feridas, o que os associados apoiam. Na Sociedade Thalia, há 5 anos, foi José Vieira Sibut, já falecido, que a dominava há 20 anos, que sofreu uma derrota. Em fevereiro próximo, o atual presidente Flavio Cini, pretendendo a reeleição - o que de certa forma contraria as promessas feitas pelos grupos que combatiam ao continuismo de Sibut, também enfrentará duas organizadas chapas oposicionistas: lideradas pelos srs. Leandro Freitas de Oliveira Júnior e Almyr Sabbag, respectivamente. xxx Durante décadas, os clubes era redutos tranqüilos daqueles sócios que mostrando "idealismo e amor pelas entidades", se mantinham por longos períodos em suas diretorias. Hoje, com as sociedades em crise econômica, centenas de sócios abandonando-as mensalmente por não poder pagar -0 cada vez mais extorsivas taxas de manutenção, há necessidade de uma reciclagem em termos de filosofia e administração clubística. Curioso é que de certa forma observa-se nos clubes aquilo que a história tem mostrado em muitos países, ao longo dos séculos: um grupo renovador surge contra o continuismo, combate os que estão no poder, mas chegando lá acabam sendo mordidos pela mosca Azul e insistem em permanecer. No Santa Mônica Clube de Campo isto foi sintomático: Ari Paiva Siqueira, sono de uma fábrica de móveis, quebrou lanças para derrotar Leonel Amaral e Walter Cardoso dos Santos, que além de dirigirem a entidade desde sua fundação por Joffre Cabral e Silva (1914-1967) também eram donos da firma que o administrava e vendia os títulos patrimoniais. Ari havia prometido em sua primeira campanha que não ficaria mais do que 2 anos, mas antes de terminar o seu mandato, já se organizava para uma reeleição. Companheiros que não concordaram com esta atitude formaram uma dissidência e foram buscar o ex-ministro Ivo Arzua Pereira para liderar a chapa opocionista. Escudado em seu prestígio de homem público inatacável, bom administrador, o grupo liderado por Arzua chegou ao Poder. Dois anos depois era o ex-ministro da Agricultura que se lançava como candidato [à] reeleição, provocando nova dissidência, desta vez liderado pelo advogado Athos Abihoa, que, corajosamente, no ano passado, foi [à] luta. Mesmo perdendo (por pequena margem de votos), Abilhoa promete que, dentro de alguns meses, quando houver novas eleições, voltará a tentar impedir o continuismo do grupo de Arzua. xxx Lendo-se os boletins que Jorge Gazal distribuiu na semana passada, no clímax de sua campanha para derrotar José e Murilo Lessa Ribeiro, no 3 Marias Clube de Campo, observa-se muito itens criticados que há 5 anos eram também lembrados por Ari Paiva Siqueira contra Leonel Amaral e Walter Cardoso dos Santos: emissão de milhares de títulos patrimoniais, mordomias e, especialmente, o fato dos diretores do clube serem os proprietários da firma que comercializa os títulos. É natural que numa sociedade capitalista, onde o lucro é o objetivo comum, os incorporadores de um clube de campo - uma instituição relativamente nova, copiada de moldes americanos dos anos 40/50, busquem compensar o tempo que gastam nestes projetos obtendo um natural retorno financeiro. Ocorre, entretanto, que a idéia que os associados têm ainda é da época das sociedades comunitárias, como as ingênuas agremiações operárias que, no início do século, surgiam nas cidades pequenas, com fins filantrópicos e sociais. Hoje, a mentalidade é empresarial e se erro houve por parte dos homens que incorporaram clubes de campo e depois ali permaneceram por mais de uma década, auferindo naturais vantagens, foi o fato de não terem oficializado os empreendimentos como iniciativas comerciais. Camuflando as atividades sociais, proporcionaram que grupos de associados se revoltassem com supostas (e muitas vezes inexistentes) vantagens pessoais. O resultado foi a que se observou no Santa Mônica e, agora, repetiu-se no 3 Marias. xxx Agora, quando surge por exemplo o primeiro clube-fazenda do Estado - o Pousada da Serra, no km 22 da BR-277, incorporado por dois madeireiros - Erno Alfredo Bender e Antonio Degado - que decidiram fazer um clube ao invés de lotear mais de 100 alqueires de mata virgem, é de se levantar a questão: quem incorpora um clube, deve ficar dono dele? Até onde os associados que ajudam a sua concretização, pagando títulos patrimoniais, devem - e podem - questionar sua ação no futuro? O Santa Mônica Clube de Campo, há exatamente 14 anos, através de seu então presidente, Joffre Cabral e Silva - um dos mais dinâmicos animadores sociais e comunitários que o Paraná já teve, anunciava a fonte de água-mineral existente em sua sede, se explorada industrialmente poderia render dividendos que ajudariam o clube a enfrentar os pesados investimentos programados. O tempo passou e nada mais se falou: será que a fonte secou ou foi alarme falso? xxx O presidente eleito do 3 Maria, Jorge Gazal, em seu último boletim cometeu um erro que, com razão, irritou ao jornalista Carlos Tavares, o editor das "Dicas do Charles" aqui de O ESTADO. Por falta de parágrafo, a colocação que Gazal fez sobre um dos argumentos lembrados por Murilo Lessa Ribeiro para "provar a sua liderança" - a que Charles o distinguiu várias vezes como administrador social, ficou empastelada com a afirmativa de "são diplomas pagos e que na época todas as casas comerciais de Curitiba possuíam". O que Gazal se referia era a outra "distinção" obtida pelo 3 Marias, outorgado pela SONAP em 1971/73. Ocorre que a leitura do parágrafo, dá a impressão de que a escolha dos "Melhores do Ano", que Carlos Tavares coordena desde 73, tem implicações comerciais. O que absolutamente não acontece: jornalista profissional dos mais conceituados, Tavares granjeou respeito e admiração de toda a área clubística pela seriedade e independência com que faz sua indicações anuais. O próprio Gazal, quando diretor social do 3 Marias, por 2 vezes foi escolhido por Charles como melhor do ano. Cabe a ele, portanto, esclarecer o engano gráfico que ocorreu no boletim, sob pela de Charles, com toda razão, lhe mover um processo legal. xxx Frente às reviravoltas dos clubes, dirigentes que vinham se encastelando nos cargos já entenderam: acabou a época dos caciquismos e, ao menos no âmbito social, o que o povo quer é a renovação.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
15/12/1981

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