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Aramis

O grupo pioneiro que fez parte da história da BN

Aos mais jovens, que desconhecem a importância histórica e artística dos Cariocas - e não leram (ainda) "Chega de Saudade", é importante algumas informações sobre este grupo que alcançou seus picos de popularidade entre os anos de 1948/55 e, posteriormente, 61/62. Organizado pelos irmãos Ismael e Severino Silva (não confundir com o instrumentista e band-leader paraibano Severino Araújo), quando residiam já no bairro carioca da Tijuca, o grupo atuou como quinteto até 1961. Contando inicialmente com Ari Mesquita, Salvador e Tarquinio, amigos e moradores do mesmo bairro, começou apresentando-se no Instituto Lafayette, colégio onde os pais dos irmãos Silva trabalhava como professor. Nessa época, Ismael iniciou-se no violão, enquanto Severino tomou aulas de teoria musical com Hans Joachim Koellreutter. Em 1945, com Vladir Prado Viviani (pianista e solista de gaita), substituindo Ari Mesquita, que adoecera, o grupo se inscreveu no "Papel Carbono", programa de calouros de Renato Murce na Rádio Clube (hoje Mundial), que revelou grandes talentos. Estrearam cantando o fox "If You Please", obtendo o terceiro lugar, o que animou e tentaram nova apresentação, desta vez alcançando o primeiro lugar com a interpretação de "Run and Coca-cola". Quando Murce decidiu reunir no programa todos os vencedores das diversas disputas, o conjunto liderado por Ismael Neto foi o campeão absoluto. Decidiram, então, profissionalizar-se e, através de um amigo da família, Ismael conseguiu uma apresentação para o maestro Radamés Gnatalli, na época diretor artístico da Rádio Nacional. Este gravou um acetato com o grupo e mostrou-o a Haroldo Barbosa, chefe da discoteca da emissora, que contratou o conjunto, na base do cachê, para atuar no programa "Um Milhão de Melodias", produzido por Paulo Tapajos. Em princípios de 1946, intitulando-se Os Cariocas, iniciaram carreira como artistas exclusivos da Rádio Nacional, onde permaneceram por mais de 20 anos. Ainda em 1946, Tarquinio e Salvador deixaram o grupo, e foi com a seguinte formação que Os Cariocas atravessaram sua primeira fase de maior popularidade: Badece (Emanuel Barbosa Furtado), primeira voz; Severino Filho, segunda voz: Ismael Neto, terceira voz e autor das vocalizações; Quartera (Jorge Quartarone), quarta voz. Valdir, quinta voz e solos, inclusive assobiados. Em fins de 1947, João de Barro, diretor Artístico da Continental e versionista de vários filmes de Walt Disney, além de um dos mais férteis compositores brasileiros (último remanescente da época de ouro da MPB, felizmente vigoroso aos 85 anos, completados dia 19 de março), chamou o conjunto para realizar a dublagem do desenho animado "Ferdinando". Convidados em seguida a gravar na Continental, lançaram no início de 1948, um 78 rpm, uma música já com acordes precursores da Bossa Nova - "Nova Ilusão" (Luís Bittencourt/José Menezes) e "Adeus, América" (Haroldo Barbosa/Geraldo Jacques), que marcaram, ambos, os primeiros grandes sucessos do grupo. Em 1948, obtiveram outro êxito com os sambas "Sinceridade" (Roberto Faissal/Luiz Bittencourt) e "Cadê a Jane"(Wilson Batista/Erasmo Silves). Entre outros 78 rpm lançados na Continental destacaram-se a marcha junina "Eu também seu Batista" (Wilson e José Batista) e o baião "Juazeiro" (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira). Atuando também como compositor, Ismael Neto fez "Marca na Parede", este já sucesso na Sinter (cujo acervo hoje pertence a Polygram) para o qual passaram em 1950. Em 1953, Ismael casou com uma cantora extraordinária, Heleninha Costa, do elenco da Nacional e iniciou estudos de harmonia e orquestração. Passou a compor com Antônio Maria ("Canção de Volta", lançada por Dolores Duran, 54; "Valsa de uma Cidade", gravada por Os Cariocas) mas o grupo voltaria em 54, para a Continental para participar de um projeto inédito: a "Sinfonia do Rio de Janeiro", LP de dez polegadas, com músicas de Tom Jobim e Billy Blanco, um suite de amor ao Rio de Janeiro (reeditado várias vezes). Em fins de 55, Severino substituiria Ismael Neto, já doente (vítima de cirrose), e com sua morte foi substituído pela irmã Hortência. Em 56, o grupo internacionalizava-se (Argentina, México, Porto Rico e EUA). Em 57, o grupo com arranjo de Severino para orquestra, acompanhava o estreante Carlos Lira em "Criticando", uma espécie de samba-de-protesto mas com toques bossanovistas, movimento ao qual o grupo se integraria com toda perfeição - pois sempre havia estado além de seu tempo. Na Bossa Nova, o grupo atuaria intensamente, gravando uma série de elepês na Philips (hoje Polygram, na época Companhia Brasileira de Discos) que tem sido reeditados, alguns deles remontados num excelente CD. Em 61, o grupo sofreu novas alterações, com a saída de Hortência e Valdir, este substituído pelo baixista e cantor Luiz Roberto. Como quarteto, o grupo faria vários LPs na Philips, dois na CBS e também na então Columbia. Entre 62/67, criaram inúmeros sucessos ("Pra que Chorara", Baden/Vinícius), "Telefone" (Menescal/Boscoli), "Rio" (Menescal/Boscoli), "Só Danço Samba" (Tom), "Minha Namorada" (Lira/Vinícius), além de composições próprias, como "Devagar com a Louça". Em 1967, por divergências internas, após uma temporada em Buenos Aires desta longa interrupção, seu prestígio continuou intacto e o retorno foi saudado como o grande acontecimento musical do final dos anos 80. Só prejudicado pela morte de Luís Roberto, mas felizmente, com um substituto a altura, Edson Bastos, no baixo e vocal.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
05/07/1992

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