O Invisível que faz pensar com H. Wells
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de abril de 1985
O romancista inglês Herbert George Wells é conhecido e admirado especialmente por uma obra : " A Guerra dos Mundos ", que levado ao cinema por George Pal ( 1908 - 1980 ) se transformou num clássico de ficção cientifica. O mesmo Pal transportaria à tela outro notável romance de Wells, " A Máquina do tempo " ( 1960 ), enquanto outros de seus livros continuam inéditos em termos de adaptação à tela. Entre eles, um que, por certo, daria um ótimo filme : " O Homem Invisível" do qual temos agora uma nova edição na coleção Mestres do Horror e da Fantasia ( Francisco Alves Editora, tradução de Elsa Martins. 172 páginas, CR$ 15 mil ).
" O Homem Invisível " não é apenas um romance entretenrimento. Wells não se limita a desenvolver uma história. Ao contrário, seu propósito é fazer o leitor refletir. Quem não gostaria de experimentar as sensações de ser invisivel ? A idéia de ser invisivel acarreta uma noção de extrema liberdade, de livre-arbitrio e traz consigo a impunidade, pois i individuo se furtaria não só à vista dos homens como à lei e a justiça. E como todo ser de execeção é visto com temor e desconfiança.
Wells mostra neste romance como essa liberdade (e impunidade) são ilusórias. Griffin, o fisico que inventa um meio de se tornar invisível, deixando-se embriagar pela noção do incrivel poder de que dispõe, percebe de imediato o outro lado da questão : em provocar espirros e gripe; vê-se obrigado a usar permanentemente máscaras e roupas para "existir" e comunicar-se com o mundo; não consegue, em grande parte devido a seu gênio irascivel, estar em boas relações com ninguém, o que lhe fursta as ambições de ser "reconhecido" como gênio e como pessoa especial. Ao invés disso, é caçado como um marginal da pior espécie, um inimigo público, o simbolo da maldade e da estranheza que o homem comum enxerga em tudo aquilo que não compreende.
E ele próprio,por fim, parece aceitar e desejar essa marginalidade. Mas ainda: ciente de que a invisibilidade é uma força, um poder de que se acha investido, sonha com um reinado de terror sobre as pequenas aldeias que atravessa. Todavia, tendo-se acumpliciado com um vagabundo ao qual confia os livros em que estão escritos os seus trabalhos e a fórmula secreta em código de como se fazer invisível, vê-se roubado e recorre a um antigo companheiro de faculdade, a quem conta seu segredo, e que o atraiçoa.
" O Homem Invisível " oferece a reflexão - presente em todos os romances de Wells, desde "A Máquina do Tempo ": o problema da dificuldade ou mesmo da total incomunicação do ser dito execepcional com seus semelhantes.
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