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Aramis

O jazz em festival

SÃO PAULO - Uma das grandes preocupações de José Eduardo Homem de Mello, coordenador dos eventos paralelos e um dos tripés na organização do I Festival Internacional do Jazz, foi procurar fazer com que nos 7 dias deste evento (11/18 setembro, parque Anhembi) se apresentassem instrumentistas de jazz representativos das diversas correntes. Precedido de uma série de jam-sessions realizados em estações do metrô, programas na TV-Cultura (que co-patrocinou o evento e transmitiu, integralmente, todos os espetáculos) e um excelente programa de 50 páginas, com informações sobre o que é o jazz, sua importância cultural e biografia de todos os músicos participantes, este Festival buscou dar uma oportunidade a que se conheça melhor, em nosso País, uma forma musical desenvolvida há quase 100 anos, de linguagem universal, mas ainda vítima de preconceitos em muitos setores. Os Cr$ 8 milhões investidos na promoção, em mais de 80%, foram recuperados através da venda de ingressos, programas e realização de uma pequena feita de som - com "stands" de fábricas de discos, instrumentos e aparelhos musicais, no hall do Anhembi. José Eduardo Homem de Mello, o "Zuza", produtor de antológicas reedições na RCA Victor (prepara atualmente um álbum duplo, com depoimento e músicas de Orlando Silva), autor de um completo estudo sobre a MPB entre 1958/68 e coordenador de música popular da "Enciclopédia da Música", além de responsável por um dos programas de maior audiência na Rádio Pan e cronista de "O Estado de São Paulo", é o homem que mais se movimentou no Festival. Além de coordenador dos eventos especiais - incluindo projeções de filmes, conferências e jam-sessions com músicos brasileiros, às 19 horas - foi, junto com Roberto Muylaert, jornalista, ex-diretor de "Visão", coordenador geral e Max Feffer, secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia, apaixonado por jazz, e mesmo músico amador, quem deu as últimas palavras sobre os nomes convidados para o Festival. Houve, evidentemente, substituições de última hora - mas se procurou evitar que certas gravadoras multinacionais, como a poderosa WEA, "tomassem conta" do Festival. Assim mesmo, a WEA aproveitou muito bem a promoção que incluiu apresentações de vários de seus contratados: Al Jarreau e Etta James, cantores, os guitarristas Larry Coryell e Philip Catherine e o grupo de Taj Mahal. Outra preocupação salutar foi equilibrar, a cada noite, os músicos estrangeiros - no total mais de 60, com instrumentistas brasileiros que se dedicam ao jazz, incluindo Luís Eça, Paulo Moura, Nivaldo Ornelas, Maurício Einhorn, Victor Assis Brasil, Marcio Montaroyyos, entre outros. Assim, houve uma integração salutar e benéfica a ambas as partes. TEMPO INTEGRAL - Quem se dispôs a assistir o Festival em todas suas manifestações teve que, forçosamente, permanecer quase que em regime de tempo integral no Anhembi. As promoções começavam às 16 horas e nunca encerravam antes das duas horas da manhã. Mais de 20 filmes sobre figuras e festivais jazzísticos, a maioria cedida pela Embaixada dos Estados Unidos, foram projetados em 4 sessões diárias. Às 19 horas, num auditório de apenas 150 lugares, conferências de especialistas: Felix Grant, disc-jockey americano foi um dos responsáveis pela introdução da Bossa Nova nos EUA e que há 3 anos esteve em Curitiba, falou na terça-feira sobre "100 Anos de Música Americana!". Na quarta-feira, três pesquisadores paulistas falaram sobre as grandes orquestras brancas e negras: José Cândido Cavalcante, Adriano Simões Filho e Paulo Ucci. Na quinta-feira, Giuseppe Suppa, de Belo Horizonte, traçou um perfil de Duke Ellington e na sexta-feira, Luís Carlos Antunes, do Rio - e que em julho de 1973, a nosso convite, participou do I Curso Sobre Jazz, realizado no Teatro do Paiol, falou sobre " música de Charlie Parker". A maior estrela entre os conferencistas foi Leonard Feather, crítico do "Down Beat", autor da "Enciclopédia do Jazz" (3 volumes). Finalmente, amanhã, José Domingos Raffaelli e, dependendo de confirmação, Maurício Quadrio, da Odeon, analisarão as relações entre o jazz e a música popular brasileira. Raffaelli, aliás, a convite da Fundação Cultural de Curitiba, estará terça e quarta-feira na sala Arnaldo Fontana do Museu Guido Viaro, também falando sobre jazz. Paralelamente aos grandes concertos no salão principal, estão também se apresentando grupos de músicos brasileiros, com linguagem jazzística, num dos auditórios do Anhembi: Originais Jazz Band (ex-Tradicitional Jazz Band, que esteve 3 vezes em Curitiba, agora liderado pelo pistonista Austin Roberts), São Paulo Dixieland Band, Grupo Obus, Humahuaca (jazz-rock) e Hotel das Estrelas, Septeto Aurinocipo e Síntese Como não poderia deixar de acontecer, o Festival do Jazz está estimulando as gravadoras a reforçarem seus lançamentos nesta área: a WEA, Phonogram, RCA, Copacabana e Odeon estão colocando na praça centenas de excelentes gravações. A Odeon, por exemplo, lançou nesta semana a série "Jazzology", com gravações históricas de nomes como Satchmo (1926/1928), Django Reinhardt (1928/40), Fats Waller (1938), Original Dixieland Jazz-Band (81919), Ragtime (1899/1916), num total de 16 volumes. A WEA já oferece o jazz contemporâneo, enquanto a Copacabana tem o catálogo da Bue Note. Em síntese, passou-se a dar, no Brasil, uma atenção a altura do que o jazz merece. E para isso, sem dúvida, este Festival contribuiu bastante.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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17/09/1978

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