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Aramis

O jazz vai muito bem, obrigado!

Progresso houve. Nestes últimos dez anos, a partir do I Jazz Festival São Paulo-Montreaux (Anhembi, São Paulo. 1978), sem dúvida que muitos álbuns de jazz foram editados. E embora o São Paulo-Montreaux não tenha passado de duas edições e a tentativa de fazer o Rio-Monterrey Festival, no Maracanãzinho, há 8 anos, tenha sido frustrada, a coisa engrenou a partir de 1985, quando as irmãs Monique e Sylvia Dauelsberg, da Dueto Promoções, acreditaram nas possibilidades de fazer o grande Free Jazz Festival. A terceira edição, realizada em setembro, no Rio (Hotel Nacional) e São Paulo (Anhembi), consolidou o evento, patrocinado pela Souza Cruz e com a maior cobertura nacional (graças a eficiência da assessoria de imprensa Ivone Kassu), já em fase de planejamento, só tende a crescer, cada vez com melhores atrações internacionais e valorizando os instrumentistas brasileiros. Paralelamente, grandes nomes do jazz - e dos correlatos blues e correntes fussion - passaram a encarar algumas cidades brasileiras (Curitiba, infelizmente, raramente incluída) dentro de seus esquemas internacionais. O interesse do público aumenta - que se reflete na absorção de contínuas (e excelentes) edições que cobrem desde o período histórico do jazz às gravações de artistas jovens, editados desde poderosas multinacionais (CBS, WEA, EMI/Odeon) até etiquetas menores, como a Imagem, do bravo Jonas Silva, que desde 1969, aqui traz produções de pequenos selos americanos e europeus, de ótima qualidade. Em Curitiba, uma jogada de marketing promocional da firma Sigma/Dataserve, do rico empresário Eduardo Guy de Manoel, jazzófilo apaixonado - a manutenção de um grupo de jazz com bons músicos da terra - evoluiu para o Blue Note Jazz Club, hoje com vida autônoma, crescente número de associados, animadas reuniões numa boite da cidade, e que vale, especialmente, pela chance de estimular os nossos instrumentistas mais capazes a desenvolverem suas potencialidades. Pretensões maiores - como cursos e palestras - fazem parte da programação, iniciada com uma conferência do expert José Domingos Raffaelli em novembro último. Fonograficamente, foi mais uma vez a CBS, que fez o maior número de edições de jazz, não só em produções avulsas, mas principalmente em coleções bem estruturadas, fruto da associação com a cadeia Breno Rossi, cujo presidente, o empresário Henrique Sverner, fortalecendo ainda mais sua política de tiragens exclusivas para suas lojas (em Curitiba, no Shopping Center Mueller), desenvolveu com Maurício Quadrio, diretor de projetos especiais da CBS, a montagem de coleções, em álbuns simples ou duplos, de históricas gravações de jazz, inclusive uma dezena de elepês de Miles Davis, pistonista, 62 anos, entre as melhores da história do jazz. O Museu do Disco, outra poderosa loja paulista, também fez algumas edições especiais com a CBS, inclusive trilhas sonoras de filmes marcantes, mas que, na época, não foram lançadas no mercado ("Billy The Kid & Pat Garret", de Bob Dylan; "O Fundo do Coração / One From the Heart", de Tom Waits, etc.). Até lojas de outras cidades estão fazendo experiências e o astuto Virgílio Savarim, de Curitiba, também tentou entrar no esquema, bancando com a Polygram, a reedição de alguns discos de rock - mas sem obter mais repercussão. Enquanto a CBS fez mais de 50 preciosas edições de seu (imenso) acervo, a Polygram também trouxe para o mercado brasileiro as preciosidades da EmArcy e, especialmente, da Verve Records, enquanto a WEA, com várias representações (MCA, Elektra, Warner, Atlantic), abriu as portas para o blues, com quatro álbuns duplos que traçam um histórico do gênero, e, posteriormente, mais seis álbuns - "Blues Anthology", com gravações originais da Chess, com roteiro através de interpretações de John Lee Hooker, Muddy Waters at Newport, Big Bill Broonzy and Whasboard Sam, Bo Diddley, Chuck Berry e Little Walter. E o panorama completou-se ainda mais com o álbum duplo "The Story of the blues", dentro da coleção "O Grande Jazz", da CBS / Breno Rossi, em dezembro. Enfim, o Blues - tema para toda uma ampla digressão - teve em 1987 uma completa introdução no Brasil. Agora, é esperar que as edições continuem a acontecer.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
20
03/01/1988

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