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Aramis

O jornalismo em questão num clássico do cinema

Dentro de uma filmografia básica que se proponha a rever, com independência e a dignidade, a colocação do jornalista na tela, um filme é indispensável: "A Montanha dos Sete Abutres". Só isto já faz com que mereça atenção a reprise (hoje, 20h30min, Cinemateca do Museu Guido Viaro) deste filme que, realizado há 35 anos, permanece vigoroso e atual. Glamouroso, super-herói, conquistador, aventureiro - as múltiplas (e falsas) imagens do jornalista como herói de um sem-número de filmes - especialmente americanos - foi desmistificado neste corajoso e cruel "The Big Carnival", que Billy Wilder, austríaco de Viena, 80 anos a serem completados em 1986, realizou em 1951, num período dos mais criativos de sua carreira em Hollywood. Depois de mergulhar no terrível mundo do alcoolismo em "Farrapo Humano" (The Lost Weekend, 46) - por sinal reprisado pela televisão na semana passada - e ter, em 1950, mostrado o ocaso de uma superstar no dilacerante "Crepúsculo dos Deuses" (Sunset Boulevard), Wilder ajustou sua câmera-metralhadora contra o sensacionalismo da imprensa. E produziu assim uma obra ímpar, denunciando não uma grande corporação jornalística capaz de exercer pressão ou defender causas antidemocráticas, mas, sim, mostrar como o mau-caratismo de um repórter ambicioso, apoiado por uma autoridade (no caso um xerife corrupto), pode causar uma tragédia. Numa pequena comunidade americana, um acidente numa mina isola um jovem operário. A salvação poderia ser providenciada em poucas horas, mas um repórter em busca da fama (Kirk Douglas), na tentativa de reconsquistar um espaço perdido, explora o fato sensacionalisticamente e obriga as autoridade a retardarem a liberação da vítima. Por trás de uma história simples e linear, Billy Wilder construiu um drama de profunda conotação social e política, mostrando - em plena época do MacCarthismo - os riscos de uma imprensa irresponsável e, especialmente, discute o aspecto ético do jornalismo. "A Montanha dos Sete Abutres" é um filme-nervo, cujos diálogos se mantêm atuais passados 35 anos. Como aquele em que o repórter (Kirk) ao chegar ao pequeno jornal do Interior, procura o editor e se autocredencia dizendo: - "Eu sou tão bom repórter que se não houver nenhuma notícia, vou para a rua, mordo um cachorro e escrevo a reportagem." xxx Neste fim-de-semana, Francisco Alves dos Santos programou dois outros clássicos na Cinemateca: amanhã, sábado, "Forte Apache", 1948, com Henry Fonda e John Wayne. No domingo, 19, "No Tempo das Diligências" (Stagecoach), 1930, também com John Wayne. Dois dos mais vigorosos e conhecidos filmes de John Ford (1895-1973), que sempre é um prazer rever. xxx Falando em cinema, mais uma dica: enquanto "A Floresta das Esmeraldas", o ecológico e belo filme de John Boorman, passa agora a ser exibido no Bristol, sábado, à meia-noite e domingo, às 10 horas da manhã, oportunidade para quem ainda não viu, conhecer outro esplêndido filme do mesmo diretor: "Excalibur", em duas únicas apresentações no Cine Groff. Boorman, 53 anos, foi a maior revelação do cinema inglês na década de 60: do policial ("À Queima Roupa/ Point Blanc", 67) ao science-fiction ("Zardoz", 1973), tem uma filmografia marcante. "A Floresta das Esmeraldas" - rodado no Interior do Rio e na Amazônia, em fins de 1984 - é um belo filme. Ecológico, poético e suave - que merece ser visto.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
13
17/01/1986

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