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Aramis

O lirismo & a consciência

Quem diria, Walmor Marcelino, um romântico? Jornalista dos mais atuantes na imprensa paranaense há 30 anos, merecedor da admiração e respeito pela coerência e honestidade de seus pontos de vista, de seu comportamento como homem e profissional, Walmor nunca foi de fazer concessões. Em 1964, poucas semanas após o golpe militar de 1º de abril, publicava um corajoso livro de poesias cujo título já traduzia o nojo que sentia pela ditadura que começava no Brasil: "Tempo de Fezes e Traições". Quase que simultaneamente, em outro livro crítico sobre o golpe dos militares ("Sete de Amor e Violência"), incluía um texto amargo, cruel e profundamente político sobre aqueles dias cinzentos. Intelectual do maior gabarito, apaixonado pelo teatro e literatura, primeiro encenador a dar uma montagem realmente dialética e política a textos de Camus ("Os Justos") e Jean Paul-Sartre ("A Prostituta Respeitosa") nos palcos do Guaíra, ao mesmo tempo que se integrava ao então nascente Centro Popular de Cultura, defendendo uma política cultural destinada a levar a arte as camadas mais pobres, Walmor nunca deixou de fazer sua poesia. Uma poesia honesta, verdadeira - mas sempre voltada ao lado político, a razão, a reflexão - escondendo, assim, muitas vezes, o seu lado lírico, amoroso, suave - que também raros viram atrás de sua fisionomia séria, hostil aos chatos e inoportunos - inimigo claro dos coniventes com o poder. Hoje, sem arredar um pé de suas convicções, mas por certo com a sabedoria que o virar da casa dos cinqüenta traz, nas 28 páginas de seu mais recente livro ("Confabulário", Dom Quixote, Edição do Autor), deparamos, já na primeira página, com um Walmor otimista - a partir do próprio título do poema - ESPERANÇA Eu não sei por que não somos desbravantes, caminheiros. Passageiros da utopia/ mãos dadas, companheiros Em cada novo poema de Walmor Marcelino, há um encontro com uma sensibilidade extrema, que, anos atrás, não seria comum em ler em sua obra. Como neste "Um Verso": O verso ai/Eu e tu, ai/Nos cruzamos Bailando ao vento/O verso escreve não fala, ai/que nos amamos Um verso vive só/o que pensamos O verso vem depois Que nós vivemos Walmor nunca buscou aplausos ou elogios em sua obra extremamente pessoal. Nunca se filiou a escolas ou gerações. Faz e trabalha a poesia como trabalha e age em sua vida: uma coerência extremamente pessoal. Possivelmente, não quer interpretações críticas a este seu "Confabulário" (aliás, nem há críticos em Curitiba para tanto). O que importa é que, a sua maneira, ele dá um recado de força, vigor e integridade poética - numa realização plena, trabalhando com as palavras como o melhor entalhador o faz com a madeira.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
11
01/05/1986

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