O livro das bruxas e o otimismo do biscoiteiro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de fevereiro de 1991
Retornando de viagem às principais cidades do Paraná, na reestruturação de vendas da Editora Record, cuja direção regional assumiu há apenas 90 dias, o experiente Carlos Alberto Tonassi Maia, está entusiasmado com o fato de que em apenas três semanas um livro, que pode ser considerado difícil, escrito em 1686, esteja sendo dos mais procurados entre os best-sellers do verão: "O Martelo das Feiticeiras" (tradução de Paulo Froés, edição Rosa dos Ventos, 528 páginas, Cr$ 5.990,00).
Não se trata de uma obra fácil: publicada há exatamente cinco séculos - "Malleus Maleficarum" - seu título em latim (ou "Der Hexemphammer", em sua tradução alemã), é considerada a bíblia da literatura da história da, e contra, a bruxaria - o fenômeno psíquico-místico político-teológico que atingiu o Velho Mundo (e também uma parte do Novo) durante três séculos (do XV ao XVIII) e levou mais de 200 mil pessoas a serem queimadas vivas. Obra de dois eruditos dominicanos alemães - Jacob ou Jacobus Sprenger (1436-1495) e Heinrich Kramer (1430-1505), inquisidores nomeados pelo papa Inocêncio VIII e que deram mostras de sua crueldade atuando em várias regiões da Alemanha, "O Martelo das Feiticeiras" é um "precioso documento sobre o pensamento inquisitorial, suas práticas autoritárias, e, acima de tudo, sua influência no molde de uma cadeia de preconceitos contra a mulher, que ainda hoje encontra ecos", como acentuou Rinaldo Gama ("Veja", 30/01/91), um dos book reviews que se deteve sobre este calhamaço cuja atualidade levou a feroz feminista Rosa Maria Muraro, não só a incluí-lo como um dos 8 primeiros títulos da nova editora - Rosa dos Ventos (ligada a Record), como a escrever a introdução histórica que antecede o prefácio do Dr. Carlos Byingtom. Se os livros de Paulo Coelho estão há meses entre os mais vendidos e, nas últimas semanas, as profecias de Nostradamus se transformaram em best-seller, nada mais natural que nestes tempos de dúvidas e inquietações, um tratado sobre a bruxologia - escrito por dois inquisidores de status universitário na época - não deixa de ser uma obra oportuna - aparecendo pela primeira vez em português.
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Outro lançamento da Record que também estará entre os mais vendidos é "Você Tem a Força", de Wally "Famous" Amos e Gregory Amos (tradução de Cláudia Gerpe Duarte, 160 páginas). Na linha dos livros "como fiz sucesso na vida" - que transformou Akio Morita e outros bem sucedidos executivos em autores dos mais vendidos - tão bem sucedidos editorialmente quanto foram em seus empreendimentos comerciais, Wally Amos também abre o jogo. O chamado "rei dos biscoitos" nos Estados Unidos - negócio que começou com apenas US$ 25 mil, após ter deixado uma promissora carreira na William Morris Agency (onde trabalhou com astros como Simon & Garfunkel, The Temptations e Dionne Warwick), em parceria com seu filho, Gregory (hoje ele vive no Havaí, gozando as delícias de sua fortuna) em "Você Tem a Força" faz mais reflexões sobre como se pode ser um sucesso (sua autobiografia, propriamente dita, "The Face that Launched a Thousand Chips" ainda está inédita no Brasil). Assim, Amos conta como descobriu aquilo que chama de "força interior" que modificou sua vida, garantindo que qualquer um que se disponha a seguir os seus dez mandamentos pode se tornar tão rico e feliz como ele. Pode haver melhor receita para fazer do livro um sucesso?
E quais são os mandamentos do sucesso de Wally? Amor, atitude, auto-estima, compromisso, integridade, oferta, fé, imaginação, palavra e entusiasmo.
Self-made man, vindo de uma família pobre de Tallahasse, na Flórida, e hoje dono de um império, que seu filho Gregory administra, Wally "Famous" Amos esbanja otimismo nas páginas do seu livro, com o subtítulo de "Dez Ingredientes Secretos para a Força Interior" e que destaca na capa uma frase-chamariz e Wayne Dyer, outro profissional do otimismo, autor de "Seus Pontos Fracos": "Este livro mudará sua vida".
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Dentro da tradição que fez da Record hoje a maior editora do Brasil o jovem Sérgio Machado - sucessor de seu pai, Alfredo, fundador da empresa, continua acertando na mosca em termos de lançamentos. Para a ampla faixa que consome ficção, saiu um romance com todos os ingredientes de rápido consumo: "Jade", de Pat Barr (tradução de Ronald Sérgio de Biasi, 648 páginas). Novamente o cenário é o Oriente, e a ação se estende por quatro décadas das mais turbulentas, acompanhando desde a época do Império Celestial às transformações trazidas sobre a família e o puritanismo, até chegar à frivolidade de uma jovem intelectual de Pequim.
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