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O livro do Chico Bettega abre lista da Cinemateca

No fértil campo das edições cinematográficas no ano passado - 43 títulos, dos quais 21 de autores brasileiros - notou-se uma forte presença das edições independentes, dos próprios autores ou de entidades regionais - o que torna mais difícil o acesso a estas publicações. No completo levantamento que pelo terceiro ano o pesquisador Cosme Alves Neto, da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro efetuou com base em todos os volumes recebidos naquela biblioteca - a maior de cinema do país - encontramos uma diversificação de formas de se ler o cinema. Assim, se entre as traduções vieram 7 biografias de cineastas e artistas, a preocupação de reunir críticas, ensaios e mesmo legislação também é digna de nota. O primeiro livro citado no levantamento é, justamente, uma edição feita pelo Museu da Imagem e do Som do Paraná: o modesto mais importante "Filmes Vistos e Anotados", do veterano crítico Francisco Alves dos Santos (número 12 da coleção "Cadernos do MIS", 62 páginas), que agora está sendo relançado. Em termos referenciais, ao lado do abrangente "Dicionário de Cineastas Brasileiros", de Luiz Felipe Miranda (Art Editora, 408 páginas), que já registramos há meses, a Nova Cultural (Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2000) editou o mini-dicionário "Astros & Estrelas e seus Filmes em Vídeo", organizado pelo competente Luciano Cosmos (editor também do "Guia de Vídeos"), com 53 biografias de artistas brasileiros e 487 de estrangeiros (além de indicações sobre a existência de suas interpretações em vídeo no mercado brasileiro). De interesse mais específico, catálogos importantes também circularam - embora em pequenos círculos: "Quase Catálogo I - Realizadoras de Cinema do Brasil (1930-1988)", em cujas 136 páginas, com ilustrações, as pesquisadoras Heloísa Buarque de Hollanda, Ana Rita Mendonça e Ana Pessoa, levantaram o registro biofilmográfico de mulheres cineastas do Brasil. Edição do CIEC/Escola de Comunicação/UFRJ/MIS-Rio de Janeiro, associada a livraria Taurus Timbre. A hoje extinta Fundação do Cinema Brasileiro, no início do ano (antes de Collor assumir o poder e desestabilizar os órgãos culturais) chegou a publicar um catálogo de filmes produzidos pelo extinto Instituto Nacional de Cinema (INCE) entre 1936/66 (183 páginas). Já o Conselho Nacional de Cinema editou o volume "Legislação Cinematográfica Brasileira", organizado por Anita Simis e José Otávio Gonda Martinez. Dois roteiros motivaram edições especiais: "O Imponderável Bento contra o Criolo Voador", de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988, Marco Zero, 112 páginas) e "A Ideologia de Barravento", de Maria do Socorro Silva Carvalho (Universidade Federal da Bahia/Centro de Estudos Baianos, 38 páginas). O roteiro de Joaquim Pedro ("Macunaíma", "O Padre e a Moça"), contando a história de dois amigos, oficiais da FAB, envolvidos com movimentos subversivos e complicações amorosas, nunca foi filmado. Contém transcrição de um encontro entre Ana Maria Galano, Fernando Cony Campos (1933-1988), Eloá Jacobina, Carlos Sussekind de Mendonça e Mário Carneiro (1933-1990). Filmografia do autor, introdução de Carlos Augusto Calil e orelha de Márcio Souza (que foi crítico de cinema em Manaus) completam a obra. Já a baiana Maria do Socorro Silva Carvalho, em "A Ideologia de Barravento", faz um estudo antropológico do filme que Glauber Rocha (1939-1981) realizou em 1959, como trabalho final do curso de "Antropologia Negra na Bahia". A falecida Fundação do Cinema Brasileiro editou também um "Arquivo Fotográfico FCB", organizado por Angela Salles, Lúcia Lemmeyer Lobo e Vera Sommer, com a descrição do sistema de catalogação do arquivo fotográfico da FCB. Um grupo de 14 cinéfilos, coordenados por Alda Soares Stucz e Maurício Andrés Ribeiro publicaram "Diagnóstico das Indústrias Culturais: o Cinema Brasileiro" (Fundação João Pinheiro, Caixa Postal 2210, Belo Horizonte, Minas Gerais), fazendo uma análise econômica do cinema brasileiro, sua produção contemporânea e a intervenção do Estado na atividade cinematográfica (125 páginas). Já outra mineira, a professor Sônia Viegas, de Belo Horizonte, reuniu em "Cinema Comentado" as críticas que vem publicando na imprensa, acrescidas de palestras e conferências (edição do Núcleo de Filosofia Sônia Viegas, 220 páginas). Em Vitória, a Fundação Ceciliano Abel de Almeida publicou "O Cinema além da Imaginação" (95 páginas), no qual Heitor Capuzzo faz um exame das relações do cinema com outras formas de expressão artística, utilizando como ponto de partida a série de TV "Além da Imaginação". Em edição da autora, Josephina de Oliveira publicou em São Paulo "Cinema, um Roteiro de Sonhos", no qual faz reflexões, como profissional de maquiagem, do cinema brasileiro, com apresentação do cineasta Carlos Hugo Christensen (148 páginas). Falando em livros sobre cinema, Lélio Sottomaior Jr., 45 anos, desde 1962 um de nossos mais profundos ensaístas de cinema, depois de ter seu "Ci(S)ne" editado há quase dois anos pelo Museu da Imagem e do Som do Paraná, está revendo as provas de um novo livro: "Cinematographo". Agora, reunindo seus textos mais recentes - originalmente publicados no "Correio de Notícias", Lélio continua desenvolvendo pensamentos lúcidos e inteligentes sobre importantes cineastas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
02/03/1991

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