O livro que mostra a outra face de Aranha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de julho de 1989
Seria interessante que o Centro Israelita do Paraná, que desde a sua fundação em 1913, vem tendo uma presença ativa na cidade, dentro das comemorações do centenário da vinda dos primeiros judeus para o Paraná, ampliasse suas promoções culturais, trazendo filmes ligados à questão judaica (como "A Conferência de Wansi" ou o inédito "Shoa!", de Claude Lanzman, 9 horas de duração - no qual existe uma cópia legendada e que poderia ser exibida). Outra boa promoção seria uma palestra-debate com a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, da Universidade de São Paulo, que já manifestou a vários amigos que gostaria de vir aqui lançar a sua polêmica obra "O Anti-Semitismo na Era Vargas" (1930-1945), desenvolvida como tese acadêmica mas que desde sua edição em livro (Brasiliense, 587 páginas, 1988) vem provocando amplas discussões. Maria Luiza ao pesquisar nos arquivos do Itamarati encontrou comprometedores documentos sobre as posições declaradamente anti-semitas tomadas pelo ministro e embaixador Oswaldo Aranha (1884-1960), que, entretanto, ficou com a imagem de ser um dos responsáveis pela criação do Estado de Israel, já que presidiu a assembléia da ONU, em maio de 1947, quando a questão foi discutida.
Na verdade, baseado em ampla documentação - até agora irrespondível - Maria Luiza Carneiro mostra que não só Aranha, mas muitas outras autoridades no governo Vargas tiveram posições anti-semitas.
Antônio Cândido, na apresentação de seu livro, acentua que "mostra a atitude do governo brasileiro em relação aos judeus no período Vargas, justamente quando eles sofriam a maior perseguição de que foram vítimas na história contemporânea e assim Maria Luiza efetua o verdadeiro desmascaramento, ao provar que houve muito anti-semitismo real, sob aparência por vezes opostas".
Mais do que um lançamento literário, a vinda da autora de "O Anti-Semitismo no Governo Vargas" poderia ser um bom momento para se reflexionar a respeito. Basta que alguém convide a autora!
Enviar novo comentário