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Aramis

O livro sobre Maria Bueno e os novos tempos da Estadual

Uma das (poucas) figuras da mitologia popular cultuada em Curitiba - Maria Bueno - é tema para mais um exercício em que se fundem o real e o imaginário. Depois de ter já inspirado dois textos teatrais - um deles, de autoria de Walmor Marcelino, com um enfoque extremamente político ("Os Fuzis de 1894") - e uma telenovela da TV-Paraná, numa frustrada tentativa de reerguer este gênero em termos de produção regional, uma coreografia do lusitano Carlos Trincheiras, além de um projeto cinematográfico de Valêncio Xavier, o misticismo religioso que cerca há um século a figura da mulher-mártir tem agora um novo livro. "A Força da Fé" (200 páginas, ainda sem preço definido, data de lançamento a ser programada em novembro) é a síntese de anos de pesquisa do militar reformado e produtor radiofônico Onildo Freitas Barranco e dos esforços de Carlos Pinheiro como editor. Após ter editado, no ano passado, um interessante livro-cartilha sobre a família Queirolo - em forma de álbum com histórias em quadrinhos (incluindo a árvore genealógica da família circense) -, Pinheiro se entusiasmou com o material de Barranco, que permanecia inédito. Assim, providenciou uma edição, com tiragem inicial de 2 mil exemplares e que se atingir os fiéis que, há 96 anos acreditam nos poderes milagrosos de Maria Bueno, fazendo romarias ao seu túmulo no Cemitério Municipal, deverá alcançar excelente vendagem. Catarinense de São Francisco do Sul, 58 anos a serem completados no próximo dia 9, Onildo Freitas Barranco sempre dividiu sua vida entre o Exército - reformando-se há 10 anos, no posto de sargento - e o rádio. A partir de 1955 foi produtor na Farroupilha em Porto Alegre e, transferido dois anos depois para Curitiba, na Rádio Clube Paranaense ainda participou do final dos anos dourados da mais antiga emissora do Paraná. Ali produziu vários programas, escrevendo novelas, musicais etc. Quando o produtor Moacir Gabriel desistiu de levar adiante o projeto de fazer uma radiofonização da vida de Maria Bueno devido à falta de subsídios, Barranco, com sua organização militar, foi ao fronte da pesquisa. Com base no único livro conhecido sobre a personagem - escrito em 1942 pelo falecido major Isidoro S. Pereira - empreendeu pesquisas em Morretes e Campo Largo, "embora esbarra-se em muitas incógnitas, verdadeiros abismos negros da falta de informações". Maria da Conceição Bueno (Morretes, 8/12/1864 - Curitiba, 28/1/1824), mulher bonita e que teve vários amores - um deles o comerciante lusitano Mário Bastos - foi assassinada, por ciúmes, pelo aspeçada (que na época correspondia a um posto intermediário entre soldado e cabo) Ignácio José Diniz. O criminoso ficou impune, apesar de ter confessado o assassinato, mas, algum tempo depois, por ter se envolvido em "problemas militares" acabou sendo fuzilado na praça Oswaldo Cruz. Embora admitindo que, pela precariedade dos dados, usou de sua imaginação para escrever a respeito de Maria Bueno - a quem milhares de pessoas atribuem milagres - Freitas Barranco procurou se manter fiel em alguns princípios básicos. Sabe que, historicamente, seu livro poderá ser contestado por estudiosos mas o fez segundo sua visão sobre um mito curitibano - sobre cuja canonização já se chegou até a falar em várias oportunidades. Devido à tranferência em sua carreira militar - por dois anos residiu em Benjamin Constant, na Amazônia -, Freitas Barranco só retornaria a Curitiba em 1976. Ao rádio, voltou ano passado, inicialmente como produtor na Rádio Atalaia e depois, a convite do então diretor da Estadual (e também da Atalaia) Lourival Pedrossian ("Palito") passou a integrar a equipe da Rádio Estadual do Paraná. Sale Wolokita, ao ser empossado com presidrnte da Fundação Rádio e Televisão do Paraná, se entusiasmou com o otimismo de Barranco em tentar retormar a produção de rádio-teatro e lhe deu carta branca para montar um grande elenco - formado especialmente por jovens - e que terá seu primeiro teste de fogo com a radiofonização da vida do Barão do Serro Azul, Ildefonso Pereira Correia (Paranaguá, 6/8/1848 - Serra do Mar, 10/5/1894), personalidade controversa de nossa história e que deverá render uma série de 60 capítulos, destinados a serem apresentados por seis meses. Esta produção abrirá a o programa "Os Caminhos do Heroismo", destinado a valorizar personagens da história paranaense. Neste fim de semana, Freitas Barranco gravou um programa em homenagem ao fundador da Rádio Estadual do Paraná, Aluísio Antônio Finzetto (Curitiba, 15/3/1917 - 6/12/1976), com depoimentos de sua viúva, Olga, do único filho, Newton, e de amigos e colegas - como Ubiratam Lustosa. O programa será apresentado amanhã, quando o terceiro estúdio de gravação da Estadual do Paraná receberá o nome de Aluísio Finzetto - justa homenagem ao nome maior que o rádio e a televisão teve no Paraná. Coincidentemente, entrará também no ar a Faixa Verde da programação supervisionada por Hermínio Bello de Carvalho, que inclui "Violão Ontem e Hoje", "Projeto Araucária" (destinado a valorizar os talentos paranaenses, produção de Barranco), "Mudando de Conversa" (que HBC dividirá com Lea Kissenberg), "Instrumental & Tal", "Mister Jazz" e "Música, Toda Música". Mais uma tentativa - agora, consta, para valer, para fazer da Estadual, realmente, uma opção no dial - ou uma alternativa em favor de um som de qualidade - como diz seu novo slogan. LEGENDA FOTO - Maria Bueno ganha livro de Freitas Barranco. Há projetos para um filme da mitológica personagem que já inspirou peças, balé e foi tema de uma telenovela.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
04/11/1990

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