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Aramis

O mais notável dos scholars do Paraná

Anualmente, o professor Wilson Martins e sua jovem esposa, Annie, reservam os meses de junho e julho para virem a Curitiba. A presença do casal já faz parte do calendário cultural nestes dois meses e, normalmente, os muitos amigos que eles aqui tem, organizam um festival de encontros e recepções. Há dois anos, a vinda do professor Martins coincidiu com a reedição de seu mais polêmico livro, "Um Brasil Diferente", que, ao ser lançado em 1955, motivou acirrados debates na Biblioteca. Reeditado em 1989, em co-edição com a Secretaria da Cultura do Paraná e a editora T. A. Queiroz (469 páginas), a polêmica foi menor. As idéias defendidas por Martins, há 35 anos - especialmente em relação a presença do imigrante do Paraná - não tiveram, agora, a mesma motivação polemizadora, embora alguns jornalistas e intelectuais - como o sempre cáustico Luiz Geraldo Mazza, em suas diferentes colunas, tivesse feito alguns comentários a respeito. Este ano, uma efeméride - os 70 anos a serem completados dentro de dois meses - justificam que Wilson Martins mereça homenagens nesta Curitiba que adotou como sua cidade, desde 1930, quando sua família veio para o Paraná. Como ele próprio conta no início de seu depoimento a José Carlos Meihy, "Diria que a geografia da minha vida é bastante variada. Nasci em São Paulo, em 1921, mas em criança minha família se transferiu para Cravinhos, que naquele tempo era distrito de Ribeirão Preto. Moramos numa grande fazenda de café, onde meu pai trabalhava, e lá na Fazenda Martinópolis, fiz uma parte do curso primário (...) A outra parte do primário fiz em São Paulo, numa das famosas escolas Sete de Setembro que eram mantidas pela maçonaria. Assim, freqüentando escolas aqui e ali, não cheguei nunca a completar o curso primário e minha formação elementar foi um tanto atabalhoada... Não tenho sequer certificado de curso primário se alguém pedir". Em Curitiba, Wilson foi aluno do Ginásio Paranaense, e diplomou-se em Direito pela Universidade Federal do Paraná, em 1943. "Nessa linha, a vida ia caminhando no sentido de uma rotina determinada, até que em 1947, recebi uma bolsa de estudos do governo francês para completar e aperfeiçoar minha formação. Fui então como aluno estrangeiro para a Ecole Normale Supérieure, e fiz também alguns cursos independentes no College de France. Em 1952, outra vez em Curitiba, por concurso, assumi o posto de juiz de Direito trabalhando também por 10 anos como professor de Literatura Francesa na Universidade Federal do Paraná". A carreira de mestre de Wilson Martins o levaria as Universidades de Kansas (1962/63) e Wisconsin (1963/65), até que se fixou em Nova Iorque, há 25 anos. Crítico literário desde 1942, quando começou a escrever em jornais de Curitiba, em 1945, passou a colaborador efetivo de "O Estado de São Paulo" (onde substituiu Sérgio Milliet), ali permanecendo por mais de 20 anos. Depois (1978/87) escreveu no "Jornal do Brasil" e nos últimos 14 anos no "Jornal da Tarde". Com toda razão, pode ser considerado o mais regular dos críticos literários, razão que o levou a confidenciar um projeto difícil de ser realizado pela falta de editor: a coleção de sua crítica ao longo de toda sua vida. "Penso colocar a público uma série de trinta ou mais volumes que contudo não podem ser publicados anualmente... um de cada vez, durante trinta anos. Como escrevia, todas as semanas, para os jornais, para editá-las, seria preciso fazer ao menos cinco volumes por ano. Uma proposta de antologia (que já me foi feita algumas vezes) eu acho mutilante, porque se minha crítica tem algum interesse, deve ser justamente pela continuidade do próprio desenvolvimento através dos anos". Autor de obras básicas - especialmente os sete volumes da "História de Inteligência Brasileira" (Cultrix, esgotada em vários volumes), Wilson também teve uma presença importante na história do rádio do Paraná, como um dos primeiros locutores da Rádio Clube Paranaense, há 50 anos. Mas isto é história que esperamos que ele mesmo venha nos relatar em suas próximas férias curitibanas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
20/02/1991

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