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Aramis

O nosso centro no fim do século (3)

Um dos aspectos importantes que o arquiteto Rafael Dely, coordenador do "Projeto Centro", enfocou no trabalho (que estabelece diretrizes necessárias à reciclagem do cuore de nossa cidade), está na lembrança da ausência de uma "personalidade física marcante" ou seja _ de um caráter urbano. Em 1965, o Plano Diretor de Curitiba, elaborado na gestão do prefeito Ivo Arzua, procurava, através da não ocupação com construção dos fundos de cada lote, reservar a área resultante para diversos fins – recreação, estacionamentos, etc. – duplicando, com isso, as áreas de vitrines dos pavimentos térreos comerciais. Foi uma solução criativa mas de resultados duvidosos ao longo dos tempos: decorridos 20 anos de sua legislação, nenhum exemplo frutificou. A proposta pressupunha que todos os lotes envolvidos em cada quadra renovassem suas edificações e compusessem o espaço comum _ o que, entretanto não ocorre a curto prazo. Outra dificuldade era que a sugestão envolvia muitos interessados – o que implicava um consenso e se este não acontecia – a solução não era mais viável. Em alguns casos – como na construção do novo prédio-galeria da C&A, entre a Rua XV de Novembro/Marechal Deodoro, a Prefeitura negociou inteligentemente a reserva do miolo de quadra. Graças a isto, aquele grupo multinacional estará entregando nas próximas semanas um moderno cinema de 250 lugares, totalmente equipado, para a Fundação Cultural de Curitiba programar. O mesmo deve acontecer com o City Bank, que constrói enorme edifício-sede entre a Praça Santos Andrade – Marechal Deodoro – e que em troca do uso maior da área, tem a obrigação de doar à cidade um espaço cultural – no caso um cinema. xxx Analisando as características climáticas de Curitiba (chuva, frio) que inibem muitas atividades, o Projeto Centro faz sugestões interessantíssimas em favor dos shopping centers, "nos quais o fator climático é controlável". Por outro lado, uma região central deve apresentar uma multiplicidade de ofertas e opções de compras, que se materializam na medida que pequenas lojas sejam implantadas e se possível de ramos comerciais diversificados. A proposta é, assim, de galerias comerciais como um dos elementos que definirão uma personalidade para a área central. Diz Rafael Dely, coordenador do projeto: "Essa solução garante algumas das vantagens encontradas nos Shopping Centers, aumentando ainda os espaços para pedestres e criando, do ponto de vista urbano, uma interligação e interpenetração especial com novas e variadas opções de caminhamento e cruzamento das quadras". xxx O estímulo à criação de galerias comerciais – inclusive adaptando-se os prédios existentes no Centro – se complementaria com uma idéia mais ousada: a construção de galerias comerciais abaixo do nível da rua, a exemplo da Júlio Moreira, já existente há 10 anos como extensão natural da Rua José Bonifácio, no Setor Histórico. As galerias subterrâneas – a exemplo dos estacionamentos – seria executadas pela iniciativa privada que, em contrapartida, as explorariam por um período de tempo, revertendo depois ao poder público. Localizadas na Rua XV de Novembro de ligações entre terminais, as galerias seriam pontos comerciais altamente valorizadas – tendo garantido um caminhamento seguro e totalmente pedestrianizado entre os principais locais de embarque e desembarque de ônibus. Seriam 9 galerias subterrâneas – em pontos específicos e num cuidadoso planejamento, de forma a não interferir no espaço urbano já ocupado. xxx Outra proposta de galeria seria uma especificamente já definida – é possível de ser implantada com mínimos recursos: a Menna Barreto, situada ao longo dessa pequena rua (apenas duas quadras entre as Ruas Visconde de Nacar e Brigadeiro Franco. Essa sugestão parte de fatos concretos: algumas edificações (inclusive o Centro Everest) já possuem galerias no sentido ortogonal à Menna Barreto. Trata-se portanto, de incentivar o aparecimento de novas que, futuramente, através da cobertura transporte tipo abóbada a ser colocada na Rua Menna Barreto, criaria um espaço integrado e único destinado aos pedestres e atividades comerciais. Os veículos teriam, por sua vez, acesso pelas Ruas Comendador Araújo e Emiliano Perneta, paralelas àquela via destinada à galeria. xxx Fruto de quase dois anos de pesquisas e estudos, o projeto Centro da Cidade elaborado por uma equipe de arquitetos do IPPUC, coordenados por Rafael Dely, representa a somatória de sugestões para revigorar o cuore da cidade – ameaçado de sofrer cada vez mais um esvaziamento populacional permanente, deterioração dos prédios e completo abandono. São idéias que o IPPUC traz agora para discussão e, dentro das possibilidades, podendo ser executadas em etapas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
05/01/1985

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