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Aramis

O Oscar ajudará ainda mais a atração maior para o público

A surpreendente indicação de "Atração Fatal" ao Oscar de melhor filme - valendo também a Glen Close a disputa pelo troféu de melhor atriz (anteriormente já concorreu por três vezes), fará com que a carreira deste filme moralista e conservador, mas de grande empatia para o público classe média, estoure nas bilheterias do Condor, cinema em que estreou na semana do Carnaval. Apesar do esvaziamento da cidade durante o reinado do Momo, "Fatal Attraction" já fez ótima bilheteria nos primeiros sete dias de exibição - e agora, com as férias acabando, o público vai lotar todas as sessões noturnas. Pelos próximos dois meses, o poderoso tycoon Paulo Fucs, comandante nacional dos cinemas da CIC, não terá que se preocupar com a programação deste cinema. Aliás, a temporada cinematográfica entrou em alta, com vários filmes atraentes e boas reprises. Em lançamento nacional, "Tocaia", de John Badham ("Os Embalos de Sábado à Noite", "Jogos de Guerra", "Curto Circuito"), em cartaz no Astor, é um thriller bem humorado e fascinante. Com inteligente roteiro de Nim Koulf (também co-produtor), Badham desenvolveu uma história interessantíssima, reciclando a fórmula de "dois policiais no combate ao crime", que, nestes últimos anos tem sido explorada "ad nausea" pelo cinema americano. A competência de Richard Dreyffus e Emílio Estevez (filho de Martin Sheen, revelado por Coppola em "Vidas sem Rumo / Outsiders", 1983), e a beleza e sensualidade de Madeleine Stowe, já constituem, em si, uma atração especial neste filme - enriquecido com primorosa trilha sonora de Arthur B. Rubenstein, que, esperamos, seja lançada em disco no Brasil. Vietnã, Vietnã - Enquanto "Nascido para Matar" se mantém em cartaz no Cine Itália, o São João substituiu desde o dia 17, o filme de Stanley Kubrick por outra visão da mesma guerra: "Hamburger Hill", de John Irvin - que também está tendo lançamento nacional, com a distribuidora Alvorada (ex-Gaumont), investindo pesado em publicidade na televisão - com a esperança de conquistar o mesmo público que o belo e corajoso filme de Kubrick vem obtendo. Embora não resista a uma comparação com "Full Metal Jacket", "Hamburger Hill" tem aspectos positivos - especialmente na condenação a estupidez de uma guerra que, na verdade, em momento algum, foi entendida pelos jovens americanos que nela estiveram envolvidos. Bem produzido, rodado nas Filipinas (onde também foram rodados "Platoon" e "Apocalypse Now"), com convincentes efeitos especiais e muitas seqüências de batalha, exagera, entretanto, na violência. Há um festival de corpos estilhaçados, membros dilacerados, cabeças decapitadas - capazes de provocar náuseas nos espectadores mais sensíveis. Kubrick mostrou a violência e a estupidez da guerra do Vietnã com mais inteligência, sem apelações sangrentas - e nem teve que sair de sua Londres, onde se auto-exilou há duas décadas, para mostrar ao mundo uma obra notável - imerecidamente esquecida na indicação ao Oscar de melhor filme. Aliás, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tem sido injusta com Kubrick, pois há 8 anos passados, seu "O Iluminado" (The Shinning) também foi esquecido nas "nominations". Reprises Nacionais - O atencioso Levy, gerente do escritório local da Embrafilme, está exibindo um sorriso Colgate. Pois não é que o bom Chico decidiu, de uma só vez, reprisar três produções nacionais: "Leila Diniz", de Luís Carlos Lacerda (Cine Luz), "Vera", de Sérgio Toledo (Groff) e "Ele, O Boto", de Walter Lima Júnior (Ritz). Três dos melhores filmes lançados no ano passado, premiados em festivais e que possuem ainda potencial para atrair novas faixas de público. "Um Trem para as Estrelas", o belo filme de Cacá Diegues, incompreendido pelo público e que foi massacrado no Cine Bristol, em obscuro lançamento em outubro do ano passado, também poderia ser reprisado se não tivesse sido "torrado" na televisão, na última quarta-feira, 17. Aliás, é incompreensível que um filme novo, inédito em centenas de praças, como este último longa de Cacá Diegues, seja exibido na televisão - cortando assim qualquer chance de relançamento nos cinemas. Ou a Globo ofereceu muitos milhões para a sua exibição (o que duvidamos), ou as negociações do produtor com a Vênus Platinada foram desastradas. O vídeo, queiram ou não, já prejudica a carreira de um filme quando antecipa-se a sua estréia no circuito comercial. Agora, exibindo filmes novos como "Um Trem para as Estrelas", a televisão passa a esvaziar ainda mais os cinemas. Dando razão a que os exibidores reclamem da política da Embrafilme - aliás, desastrada e incompetente, mas que, se espera, readquira melhor performance tão logo aconteça a necessária mudança de sua direção - o que estaria sendo programado para as próximas semanas. A classe cinematográfica brasileira não vê a hora de que alguém do ramo, inteligente e de diálogo, assuma os comandos da estatal do cinema no Brasil. Outras Opções - Roger Donaldson, que no ano passado surpreendeu com o corajoso "Marie - Uma História Real", credencia "Sem Saída" (No Way Out), em exibição no Plaza. Um thriller ambientado em Washington, misturando sexo, espionagem e suspense, com uma das mais tórridas seqüências de amor (quase explícito) entre Kevin Costner (o Elliot Ness de "Os Intocáveis", de Brian de Palma, em reprise à noite no Lido II) e Susan Atwell. Gene Hackman é, mais uma vez, o vilão deste filme de visão obrigatória nesta semana. "Dirty Dancing - Ritmo Quente", de Emile Ardelino, musical ambientado nos anos 60, com razoável trilha sonora (lançada pela BMG/Ariola, há duas semanas) está agora em exibição no Cinema I, nas sessões noturnas (nos vesperais, continua "Os Fantasmas Trapalhões", também nas sessões da tarde do Lido II). No Bristol, "O Exorcista" (The Exorcist), 1973, de William Friedkim - do best-seller de Peter Bachley, mostra que o Demônio possui fôlego de bilheteria: 15 anos após ter sido rodado continua atraindo bom público. Isto porque os seus produtores não o "queimaram" na televisão, nem em videocassete (a não ser em cópias piratas). LEGENDA FOTO 1 - "Vera", um filme belo e profundo, que deu a Ana Beatriz Nogueira, o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Berlim, no ano passado, volta a ser exibido no Groff. LEGENDA FOTO 2 - Carlos Alberto Ricceli é "Ele, O Boto", um belo filme de Walter Lima Júnior, que retorna no Cine Ritz. LEGENDA FOTO 3 - "Hamburger Hill": a guerra do Vietnã em mais um filme. No São João.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
2
19/02/1988

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