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Aramis

O pacote musical

O primeiro "pacote de eventos" - dos muitos que a equipe do secretário Luís Roberto Soares, da Cultura e Esportes, está preparando há mais de 2 meses - mesmo antes de sua posse - será lançado amanhã à noite, no Teatro São João, da Lapa, em solenidade que, conforme está sendo amplamente divulgado, incluirá apresentações da Banda de Antonina - que recebeu nos instrumentos, doados pela Funarte, espetáculo folclórico e um show, com a participação do parnanguara Paulo Soledade, 60 anos, há mais de 40 residindo no Rio; Luís Reis, 53 anos e Cesar Costa Filho, 35 anos. No sábado e domingo, Luís Reis, pianista, compositor - e profissionalmente jornalista [de] "O Globo" há muitos anos, estará inaugurando um novo espaço cultural da cidade, o Teatro do Senac, na Rua André de Barros, com o espetáculo "Identidade", idealizado por Heitor Valente e que pretende trazer ao Paraná representativos compositores com obras marcantes - mas pouco conhecidos ao vivo. Uma idéia feliz e que para iniciar não poderia ter um melhor exemplo: autor de sucessos como "Nossos Momentos" - uma das melhores interpretações de Elizeth Cardoso, "Palhaçada", "Meu Nome é Ninguém", "Tudo é Magnifico" - sempre em parceria com Haroldo Barbosa, lançadas por Miltinho, Luís Reis, o "Cabeleira", embora toque há mais de 10 anos no "Baco S", um dos bons endereços musicais do Rio de Janeiro, nunca se apresentou em Curitiba: suas visitas são de ordem familiar - Salomé, sua esposa, é de São Mateus do Sul - ou para visitar amigos surfistas. Paulo Soledade, que desde criança interessou-se por música mas iniciou sua carreira artística como ator no final da década de 30, ao lado de Ziembinski e Luisa Barreto Leite, também é uma personalidade histórica da MPB: fez parte do "Clube dos Cafajestes!, é autor de pelo menos dois clássicos - "Zum-Zum" (parceria com Fernando Lobo, em homenagem ao comandante Carlos Eduardo de Oliveira, desaparecido em desastre aéreo no Rio Grande do Sul) e a marcha-rancho "Estão voltando às Flores", que Paulo compôs, por sinal, no antigo Haras Valente, numa de suas férias no Paraná. Boêmio, homem da noite, foi dono do Zum-Zum, boate onde Aloysio de Oliveira produziu os mais importantes shows da Bossa Nova - grande parte, felizmente, perpetuada em discos da Elenco. Cesar Costa Filho, parceiro de Heitor Valente - mas nos últimos meses também compondo com Mário Lago (um dos próximos artistas a participarem do projeto "Identidade") e Luís Antonio (que, no ano passado, com Miltinho, João de Barro e o cantor Mano fez o Circuito Paraná), é o mais jovem dos três - e tem feito constantes temporadas em Curitiba - agradando sempre por sua bela voz, violão seguro e grande comunicabilidade. A presença de Soledade, Luís Reis e Cesinha, será somada à vinda de jornalistas especializados da área musical de vários jornais e revistas nacionais - como Sergio Cabral, Mauricio Kubrusly (editor da revista "Som 3"), possivelmente Tarik de Souza e outros. Roberto Parreiras, diretor executivo da Funarte, também está sendo aguardado, e seu assessor para projetos especiais, o compositor, poeta e produtor Herminio Bello de Carvalho - o grande idealizador do Projeto Pixinguinha e responsável direto pela edição dos melhores álbuns da MPB dos últimos anos (inclusive a "Cantadeira do Amor", com Elizeth Cardoso) chega hoje à tarde. Possivelmente também virá a sra. Arminda Villa-Lôbos, diretora do Museu Villa-Lobos, já que dentro do pacote de eventos, inclui-se um projeto em homenagem ao 20º aniversário da morte do compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que durante alguns anos na segunda década deste século, morou em Paranaguá. E como esta fase da vida do maior de nossos compositores eruditos nunca foi estudada, uma das promoções da Secretaria de Cultura, através do Museu da Imagem e do Som, será o patrocínio de um concurso de monografias sobre a presença de Villa naquela cidade, onde trabalhou no comércio, foi violoncelista e chegou inclusive a ter algumas aventuras amorosas. Para levantar maiores informações sobre esta fase de sua vida - até hoje ignorada pelos seus biógrafos - um concurso de monografias, com compensador prêmio em dinheiro, será lançada agora. E o projeto será complementado com concertos e conferências, num esquema a ser desenvolvido em colaboração com a Pró-Música de Curitiba, cuja ex-presidenta, a pianista Henriqueta Duarte, há muito pensava em encontrar uma fórmula capaz de levantar luzes sobre o que fez o autor das "Bachianas Brasileiras" no período em que residiu em Paranaguá.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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03/05/1979

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