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Aramis

O pátio dos ociosos

Se Victor Hugo em seu romance "Os Miseráveis" escreveu sobre o "Pátio dos Milagres" na Paris da idade média, um cronista do absurdo burocrático, que tem, às vezes características kafkanianas, poderia escrever um belo capítulo sobre "o pátio dos ociosos", ao visitar o Departamento de Estradas de Rodagem. Informações não oficiais dão conta de que pelo menos 10% dos 800 funcionários declaradamente "ociosos" do órgão rodoviário, ao comparecer diariamente na sede do DER, na Avenida Silva Jardim, não recebem outra tarefa senão a de varrer uma área interna. Observa-se, então, uma cena que vai do grotesco ao chapliniano: sexagenários homens, incapazes para outras funções, varrendo e revarrendo ao mesmo pátio, horas seguidas - numa tal quantidade de pessoas para a mesma tarefa, que muitas vezes dois ou três tentam modificar as leis da física e tentar provar que duas vassouras podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. xxx A própria Secretaria de Recursos Humanos está preocupada em aposentar os funcionários classificados como "ociosos" - que não verdade são pessoas idosas, muitos com problemas de alcoolismo crônico, sem qualificação profissional e que não podem ter um aproveitamento prático. Os processos são formados, procura-se documentar bem cada caso, mas, entre outros entraves, há a preocupação de um médico da Secretaria da Saúde Pública que teme dar encaminhamento aos processos por um raciocínio muito peculiar: "O governador pode irritar-se se tiver que aposentar mais do que 20 funcionários por mês". Resultado: com isso forma-se uma longa fila de funcionários na faixa dos 50/60 anos, incapazes para o serviço diariamente. Mesmo que o serviço restrinja-se a varrer o mesmo pátio, muitas vezes ao dia. xxx É o desânimo o clima da Diretoria de Assuntos Culturais com relação ao futuro da sede: o próprio secretário Borsari Neto, da Educação e Cultura, já teria declarado a assessores que apesar de toda sua argumentação, as razões do seu colega, Gastão de Abreu Pires, pesaram mais na balança e assim o prédio da Rua Cruz Machado, que hoje é ocupado pelo DAC, passará para a Secretaria de Recursos Humanos dentro de alguns meses. Mesmo as considerações de que pela própria estrutura do órgão, o mesmo deveria continuar ali funcionando, não conseguiram sensibilizar os donos do poder. E, ao mesmo tempo que nem se fala mais na onírica Fundação Cultural do Estado, a própria Diretoria não sabe sequer qual o destino físico que o futuro lhe reserva. Talvez se deslocar para algum distante bairro da cidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
20/07/1977

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