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Aramis

O Paulinho que ficou americanizado

Se a saída para o músico brasileiro era o portão internacional do Galeão, como teria dito Antônio Carlos Jobim antes de conquistar a América, ninguém melhor do que os percussionistas entenderam este recado. Basta fazer um levantamento do número de instrumentistas de nosso país que acabaram dando certo nos Estados Unidos - entre outros países - para se perceber que os homens do ritmo foram privilegiados. Afinal, há uma explicação lógica: com toda a tecnologia, competência e know-how, mesmo os maiores virtuoses instrumentais americanos não conseguiram o balanço correto na bateria e percussão para o "latim sound" da Bossa Nova. Foi então que nossos profissionais - mesmo os mais modestos - deitaram e rolaram. Passam de 30 bateristas-percussionistas brasileiros que foram e fizeram a América - alguns lá permanecendo, outros retornando posteriormente. De todos, o de maior prestígio artístico - e realização profissional - foi, para nosso orgulho, o grande e querido Airto Guimorvan Moreira, catarinense de Indaial, 50 anos completados no dia 5 de agosto, que desde 1967 nos Estados Unidos, ao lado de sua bem amada Flora Purim - esta também uma cantora realizada nos EUA, emplacou dezenas de classificações como melhor percussionista nos jazz pool da "Down Beat", "Playboy" e outras publicações, tem mais de 20 trabalhos como líder ou mesmo solista e presenças em mais de 30 gravações - numa discografia que seu grande amigo Arnaldo Solteiro, da "Tribuna da Imprensa", se deu ao trabalho de listar. Hoje, dividindo seu tempo entre excursões "coast to coast" e um calendário internacional - da Europa à Ásia, Airto tem reduzido suas participações em gravações, limitando mesmo seus próprios discos. Em compensação, outros percussionistas brasileiros trabalham cada vez mais em estúdios e entre eles está o carioca Paulinho da Costa, tão ligado a este trabalho de músico de estúdio, com os maiores nomes da música americana - do jazz aos ritmos de consumo/modismo - que pouco tem feito em termos de carreira solo. Há alguns anos, a Pablo, de Norman Granz, lançou um de seus discos, com composições próprias. Agora é pela A&M, representada no Brasil pela Polygram, que temos um novo disco de Paulinho ("Breakdown") que serve apenas para mostrar como este brasileiro distanciou-se de suas raízes. Ao contrário de Airto, que mesmo vivendo há mais de 20 anos nos Estados Unidos, residindo na Califórnia, não perdeu suas ligações com o Brasil (e ao menos duas vezes por ano vem a Curitiba, visitar sua mãe, dona Zelinda, irmã, cunhados e sobrinhos que residem no bairro do Boqueirão), Paulinho parece que esqueceu musicalmente os nossos ritmos. Ouvindo-se as 12 faixas deste seu "Breakdown" a impressão que se tem é de que estamos frente a um artista de um país do Caribe, pela temática, forma de ritmo e mesmo expressões - cantando em inglês e distante de nossos temas mesmo em uma faixa como "Guarujá". Válido, naturalmente, como um trabalho dentro do mercado americano - e com sua experiência de um super requisitado percussionista para gravações de músicas americanas, Paulinho da Costa fez um disco, produzido através da Erich Bulling for Step, destinado a atingir boas vendagens. Mas realmente, não tem nada mais a ver com aquele crioulo sorridente e que quando saiu do Brasil fazia um ritmo verde-amarelo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
15/09/1991

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