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Aramis

O Pêndulo do sucesso de muitos US$ milhões

Como só os direitos autorais exigiram um investimento de US$ 100 mil - a maior soma já paga para a publicação de um livro no Brasil - a Record, normalmente já a mais organizada e próspera editora do Brasil, azeitou ainda mais os seus esquemas de distribuição, promoção e vendas para fazer com que "O Pêndulo de Foucault", colocado nas livrarias na semana passada, garanta o retorno do capital investido - escalando em menos de 10 dias, a lista dos livros mais vendidos. Nesta primeira semana de agosto, chegaram às livrarias os primeiros exemplares de uma tiragem de 100 mil do novo livro de Umberto Eco, best-seller na Europa desde o segundo semestre do ano passado. Seu lançamento fez com que o editor Alfredo Machado determinasse um esquema especial, a começar, naturalmente, por um esforço de venda que começou com a oferta de uma vantagem comercial para os livreiros e que vem cercado de muitos apelos: cartazes, camisetas, marcadores de livros adesivos, anúncios em jornais e até mensagens em clichês para máquinas pré-franqueadoras do Correio. A produção industrial deste livro é a primeira grande tiragem impressa no recém instalado sistema Cameron e, naturalmente, este é o carro-chefe da Record para a Bienal Internacional do Livro (Rio de Janeiro, final de agosto). xxx Publicações nacionais, cujos book-reviews receberam cópias do livro, ainda na fase de finalização, já começaram a lhe dedicar generosos espaços. Durante as primeiras semanas, "O Pêndulo de Foucault" será o livro mais comentado. Pode-se até dizer mais falado do que lido - embora adquirido, pelo menos assim espera o editor Alfredo Machado, que teve coragem de aplicar mais de NCz$ 600 mil em sua produção, desde que conseguiu seus direitos autorais. A própria Record encarregou-se de sintetizar a temática do livro, num texto que merece transcrição: "Se considerarmos isoladamente o desaparecimento sucessivo e misterioso de personagens do livro, "O Pêndulo de Foucault" é uma bem urdida história policial; se, por outro lado, tomarmos como centro da narrativa as peripécias de três funcionários de uma editora que resolvem botar lenha na fogueira dos enlouquecidos personagens ligados a uma das muitas vertentes do ocultismo, os diabólicos, encontraremos no livro uma hilariante peça de humor; e, se, como os próprios diabólicos, levarmos a sério a busca de uma mensagem secreta só acessível a iniciados, descobriremos em "O Pêndulo" um grande romance de iniciação ou uma abrangente história da evolução do pensamento ocultista. Mas "O Pêndulo de Foucault" é tudo isso e muito mais. É também um instigante tratado de semiótica em que a mensagem é secreta, os códigos são inúmeros e obscuros e o significado é todo o Cosmos. Ou, para usarmos as palavras do próprio Eco, "é uma metáfora de Deus". xxx Para compor as 624 páginas de "O Pêndulo", Eco teve que ler mais de 1.500 volumes ocultistas. Ele garante que escreveu o livro com uma esferográfica, mas não é improvável que tenha usado um word processor, como faz um de seus personagens (Belbo). De qualquer forma, Eco já provou, teoricamente, em "Como Fazer uma Tese", e na prática com este "O Pêndulo", que sabe lidar com grande massa de informação. Aliás, para quem considera um desafio ler as 624 páginas de Eco, talvez só reste a alternativa de buscar as mais de 1.500 fontes que ele utilizou. Se considerarmos que algumas delas são verdadeiras raridades, a súmula materializada em "O Pêndulo" se torna imperdível. Para quem, diante do interesse de Umberto Eco por um período considerado obscuro por tantas insanidades (a Idade Média), se inquieta a ponto de perguntar se ele é louco, Eco responde depressa: - "Não, sou um psiquiatra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/08/1989

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