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Aramis

O rock dos veteranos Rita e Erasmo Carlos

Frente ao esquema repetitivo e frágil dos "novos" compositores e intérpretes jovens, superproduzidos neste mercado tão descartável, ainda se tem que admirar ao menos a competência profissional dos que vieram dos anos 60 e mesmo passando já há muito dos 30 anos (e diziam que não se deve confiar em ninguém com mais de 30 anos ...) mostram ao menos alguma ironia em suas musicas. Rita Lee e Roberto de Carvalho, após uma interrupção de dois anos em suas carreiras, voltam com um disco que mesmo sem nenhuma música daquela fase de expontânea alegria entre 1980/82, traz a ironia de Rita, reconhecidamente uma letrista habilidosa, em músicas como "Glória F" ou "Vírus do Amor" - fácil de ser assoviada e cantada. Um luxuoso encarte, com produção gráfica dos ex-curitibanos Felipe Taborda e Jejo Cornelsen procura detalhadamente explicar cada música, com textos repletos de comparações e adjetivos. Por exemplo, em "Glória F" é citada até influencia de Crumb, o polêmico cartunista americano, autor de "Fritz, The Cat"... É teorização demais, por certo, para um produto que mesmo com mais consistência do que os discos de Ritchie ou Marcelo, também tem uma vida mais ou menos limitada. Como sempre gosta de fazer, Rita revisita gêneros e estilos, dizendo, por exemplo em "Molambo Souvenier": "Old Bossa hum/ Olha eu aqui sem viver/ E essa chuva lá fora/ Chora com pena de mim". Referências à indiretas à Boboro e Tito Madi não custam muito, a quem pouco antes ("Yê Yê Yê), havia lembrado que o "Reu do visual/ Mendigo musical/ Sucesso na parada/ Com um roque comercial/ Malhado, trincado/ Menudo metaleiro/ Michael Jackson do pandeiro/ Superstar de Sertão/ Vanguarda moderninha /Anfetamina sonolenta/ Yê Yê Yê dos anos 80". Não sei não, mas parece que Rita Lee nesta faixa gozou de muita gente destes anos 80. Como há alguns anos fez com o pessoal da Bossa Nova, para então irritar aos que tem mais de 30... xxx São 28 anos de carreira e 22 elepês. Uma parceria ininterrupta com Roberto Carlos e uma evolução musical nos últimos anos. Ao Tremendão dos tempos da Jovem Guarda - numa imagem antipática, bossal e machista sucedeu o compositor terno e feminista, fazendo, há quatro anos, um verdadeiro hino a mulher - e corajosamente assumindo uma posição edipineana na capa do lp da época ("Mulher/ Sexo Frágil", Polygram). Envolvido em problemas e escândalos no ano passado - um relacionamento (não confirmado) com Roberto Clouse (a quem dedicou uma faixa no lp "Buraco Negro", junh/84) e a tentativa de suicídio de Nara, hoje sua ex-esposa, Erasmo Carlos retornou agora com um lp no mínimo sincero. Produzido em 45 dias, somando as suas composições também músicas de outros autores, uma das quais em um tom confessional de seus próprios problemas ("Manchas e Intrigas", Kiko Zambianchi): "Passo água nos olhos/ Na manhã seguinte/ Nunca estive tão longe/ De você assim/ Espere/ Não vá me deixar sozinho/ O medo/ Quer se apoderar de mim". Brincadeiras bem específicas da gíria dos músicos mas que não deixam de constituírem momentos originais. LEGENDA : Rita Lee: ironia no novo disco.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
36
24/11/1985

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