Login do usuário

Aramis

"O Saci", um brasileiríssimo personagem, retorna em vídeo

Assim como na música há autores que se consagram com apenas uma música - e praticamente nada mais compõe depois (exemplo, Alberto Helena com "Helena, Helena", 1967), no cinema também há diretores que entram na história com apenas um filme. É o caso do paulista Rodolfo Nanni, 68 anos, citado em obras referenciais do nosso cinema por seu brasileiríssimo "O Saci", realizado há 40 anos. Apesar de ter feito um segundo longa-metragem ("Cordélia Brasil", 1971), baseado na peça de Antônio Bivar, que teve problemas com a censura), é "O Saci" que lembra ao seu nome. Agora, com a edição deste cult-movie, talvez o primeiro grande filme infantil feito no Brasil, pela AB Vídeo, se poderá melhor conhecer o trabalho de Nanni. Baseado nos personagens criados por Monteiro Lobato (1882-1948), o escritor brasileiro que talvez melhor tenha transmitido em seus livros uma visão dos problemas e valores de nosso país, "O Saci" teve uma produção arrastada, entre 1951/53. Nanni já tinha, então, uma boa experiência artística. No final dos anos 40, havia morado em Paris, onde estudou pintura e cursou cinema no famoso Idhec. De volta ao Brasil, foi convidado por Ruy santos (1916-1989) para participar como continuista do inacabado "Aglaia". EM São Paulo, além de começar a trabalhar no projeto de "O Saci", foi o roteirista de "O Mistério de São Paulo, do romance de Afonso Schmidt, que não se concretizou. "O Saci", entretanto, seria realizado com uma equipe excelente: Ruy Santos na fotografia, José Canizares na montagem, música composta e dirigida por Cláudio Santoro (191-1989) - em sua primeira participação no cinema, assistência na direção de Nelson Pereira dos Santos (que na época também realizava seu primeiro longa, "Rio, 40 Graus) e Alex Viany na direção de produção. No elenco, para viver os personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo - Narizinho, Pedrinho, Emília, Dona Benta e, naturalmente, o personagem - título - um elenco, dos quais nenhum faria carreira: Paulo Matozinho, seu filho Livio Nanni, Aristela Paula Souza, Olga Maria Amâncio, Maria Rosa Ribeiro, Benedita Rodrigues, Ótácio Araújo, Mario Meneghetti e Yara Trexler. Pela sua brasilidade e ternura, tratando de um personagem tão rico de nosso folclore, "O Saci" recebeu premiações em 1954 - como o governador do "Estado de São Paulo" e do jornal "O Estado de São Paulo" (um troféu que tinha justamente o nome de Saci), além do Prêmio "Revue Du Cinema". Numa época em que os filmes brasileiros chegavam aos circuitos independente de leis protecionistas, "O Saci" fez boa carreira, especialmente em cidades do Interior. Aproveitando a repercussão do filme, Nanni viajou em 1954 para a Itália, onde, em Roma, fez curso com o roteirista Cesare Zavatini, um dos mais prestigiados nomes do neo-realismo. De volta o a Brasil, em 1959 realizou no Nordeste o documentário "O drama das secas" e, em sociedade com Ruy Santos e Canizares, fundou uma empresa que fez muitos documentários. Foi roteirista de "Efigênia dá tudo que é seu" de Olivier Perroy e, em 1971, adaptou ao cinema a peça "O começo é sempre difícil, Cordélia Brasil, vamos tentar outra vez", que além de ter sofrido problemas com a Censura, não teve o mesmo êxito de "O Saci". Professor de cinema na FAAP, Nanni, como tantos outros talentos, desistiu de tentar novos longa-metragens. Ao lançar "O Saci" a AB Vídeo, dá oportunidade a que um filme marcante de nosso cinema possa ser conhecido de novas gerações.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Vídeo/Som
10
29/03/1992

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br