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Aramis

O som dos pífanos

Vital Santos, 27 anos, ator, autor, radialista, jornalista etc., não está em férias ou licenciado do cargo de secretário de Turismo e Cultura da Prefeitura de Caruaru, Pernambuco. Na verdade, deixou essas funções há 3 meses, quando o arenista Draytom Nejaim substituiu ao emedebista João Lya Filho na Prefeitura daquele município. Durante 8 anos - nas administrações de Fernando Lyra (hoje uma estrela do MDB, na Câmara Federal) e de seu pai, João Lyra Filho, Vital desenvolveu um trabalho voltado à cultura popular no município de Caruaru. Fez da feira-livre daquela cidade um evento econômico-cultural, estimulou o artesanato (hoje a cerâmica de Caruaru, terra natal de Vitalino, é das mais valorizadas nacionalmente), lançou as bases de um teatro eminentemente popular e incentivou o projeto de Nova Jerusalém (onde, anualmente, é feita a maior encenação ao ar livre, no mundo, da Paixão de Cristo), que embora localizado no vizinho município de Fazenda Nova, é, turistica e economicamente, dependente de Caruaru. xxx A convite de Luthero Almeida, Vital está na cidade há um mês, ensaiando a sua peça "A Árvore dos Mamulengos" (auditório Salvador de Ferrante, a partir do dia 7 de maio), que se anuncia como o grande evento de teatro popular em 1977. Como as 13 outras peças que Vital escreveu, "A Árvore dos Mamulengos" fala uma linguagem brasileira, com personalidades inspirados no agreste nordestino, entremeadas de 32 canções belíssimas (letras suas, música de Onildo Almeida). Para conseguir um espetáculo com força e garra, Vital está ensaiando o elenco e músicos por mais de 10 horas diárias: Luthero Almeida ("Cabo Fincão"), Beto Rafael ("João Redondo"), Regina Bastos ("Marquezinha"), Denise Assunção ("Rosita Rabo Quente"), Iran Barreto ("Porrote Botelho Prego Torto"), Daniel Lenvinski ("Policarpo") e Airton Silva (mestre de cerimônia) são os intérpretes desta peça, cuja básica parte musical será sustentada na bateria de Helinha Santana, violões (e vocais) de Nilo e Dorr e Alaor da flauta. xxx Segunda-feira à noite, no auditório Salvador de Ferrante, Vital falou sobre a cultura popular nordestina, ilustrada com músicas de Luiz Gonzaga (que já gravou uma de suas composições: "Feira de Caruaru"), Alceu Valença (com quem trabalhou em "A Noite do Espantalho", se Sérgio Ricardo) e, principalmente, da Bandinha de Pífanos de Caruaru. Uma das 12 existentes na região, a bandinha da família Biano, é a autêntica expressão da música nordestina (3 LPs, já gravados, um quarto em produção na RCA Victor), e que, unicamente pela amizade a Vital, aqui estará na noite de estréia do espetáculo, fazendo, no domingo seguinte (8 de maio, 11 horas), uma única apresentação no palco flutuante do Passeio Público. Pena que a Fundação Cultural, não se entusiasmasse com a validade desta bandinha e lhe desse condições de ampliar a temporada - como ocorreu há 3 anos passados, quando os pífanos, durante 10 dias, foram ouvidos em todas as praças da cidade. O som dos pífanos, no sopro dos velhos Sebastião e Benedito, no tarol, triângulo e bumbo de seus filhos Amaro, José, Gilberto e João, traduz toda a pureza de um som centenário e autêntico - das caatingas do Nordeste. E, embora tão distante deste Sul maravilha - com muita beleza para ser mostrada ao nosso (desinformado) público.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
27/04/1977

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