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O talento de Flávio e a beleza de Vera

Flávio Rangel é griffe de qualidade. Só pode ser acusado de fazer sucesso. E sucesso com qualidade. Relacione-se as montagens de maior êxito (+ qualidade) nos últimos 10 anos e, por certo, em todas, estará o nome de Rangel, cuja competência e bom gosto têm valorizado todos os espetáculos que encena. Por estas e outras, "Negócios de Estado" (auditório Beto Munhoz da Rocha Neto, até domingo) merece atenção nesta semana, em que continua em cartaz a melhor peça do ano - "De Braços Abertos" de Maria Adelaide Amaral (auditório Salvador de Ferrante). Na semana passada, no Guairão, foi apresentado mais um medíocre espetáculo caça-níquel ("Sua Excelência, O Candidato"), dentro do esquema de aproveitar os nomes de artistas do segundo time da Globo, na ilusão de atrair um público menos informado. A respeito de "De Braços Abertos" não é preciso falar muito. Um texto perfeito, duas interpretações definitivas (Irene Ravache e Juca de Oliveira) - fazem com que esta visceral análise de sentimentos humanos chegue, com a maior empatia (mas embalada em bom humor) a um grande público que desde a estréia vem lotando o Salvador de Ferrante. Quanto a "Negócios de Estado", de Louis Verneuil, a aprovação do público também é grande: estreando no Teatro Hilton, em São Paulo, em maio de 1984, ali permaneceu dez meses em cartaz. No Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro, ficou um ano. Agora, começa a percorrer outras cidades, basicamente com o mesmo elenco: o casal Vera Fischer e Perry Salles, mais Jalusa Barcellos, José de Freitas, José Araújo e, em participação especial, Ruy Affonso. Vera Fischer, blumenauense, Miss Brasil há 20 anos passados, ex-estrela de pornochanchadas, conseguiu reconstituir sua carreira com extrema dignidade, chegando inclusive a fazer um dos mais difíceis papéis do cinema brasileiro, em "Dora, Doralina", baseado no romance de Rachel de Queiroz - imerecidamente fracasso de público e praticamente sem lançamento nacional. Flávio Rangel, diretor de espetáculos da dimensão de "Amadeus" e "Piaf", diz que "Negócios de Estado" é uma peça de habilidosa carpintaria teatral e com uma qualidade literária exposta por personagens com nítido desenho psicológico. Uma peça de atores, enfim, finamente ajustados ao texto. Ambientada em Washington, nos meandros da política americana, foi escrita por Verneuil quando este morou nos Estados Unidos. Como lembrou o crítico Jefferson Del Rios, "com malícia e o velho nacionalismo francês aproveitou para dar cutiladas em determinados padrões de comportamento norte-americano, tão ingênuos quanto hipócritas". Diz ainda Del Rios: "Flávio Rangel fez de uma peça sutil uma encenação inteligente, sem floreios e pirotécnicas cênicas. Basta-lhe a tarimba e o bom humor do autor e as virtudes do elenco. É o típico espetáculo em que o encenador se impõe justamente por não aparecer demais. É o maestro de um sexteto comediante". Muitos elogios, também a Vera Fischer. Por exemplo, Clóvis Garcia de "O Estado de São Paulo" disse: "Esse tipo de comédia, que faz sorrir e não dar gargalhadas, exige um trabalho de atores bastante rigoroso, ainda que o resultado pareça fácil. Vera Fischer revela-se uma atriz segura, como se tivesse grande experiência teatral, com senso de comédia e capacidade de transformação." LEGENDA FOTO - Vera & Perry: "Negócios de Estado" no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
08/05/1986

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