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Aramis

O Teatro do Sesi e a sua ocupação

Em demonstração de muito cavalheirismo e educação, o médico Ayrton Ricardo dos Santos, responsável pela administração do novo Teatro do Sesi, envia-nos atenciosa carta, com esclarecimentos sobre a filosofia de ocupação daquele espaço, pertencente à Federação das Indústrias do Estado do Paraná, objeto de comentário que aqui fizemos no último dia 17. Inicia dizendo que entende perfeitamente nosso ponto de vista. "dentro do enfoque que sua reconhecida preocupação com a arte e a cultura permite visualizar". A seguir: "Seria, realmente, bom - e eu estaria entre os primeiros a desejar isso - que o Teatro do Sesi tivesse, permanentemente, espetáculos culturais, com ou sem palavrões, na dependência da necessária autenticidade dos textos e dos temas; e que nossos industriários (para quem foi construído o teatro e se constituem o alvo das atribuições do Sesi) , lotassem maciçamente a casa, aplaudindo e se deleitando com as apresentações. "Agora, algumas ponderações que nos parecem pertinentes": "O espaço, hoje conhecido como "Teatro do Sesi", foi construído para ser um ginásio de esportes. Em toda sua documentação, figura o título "Ginásio do Trabalhador". Inaugurado como tal, passou a desenvolver intensa atividade esportiva. Logo, entretanto, pressões irresistíveis - explicadas pela carência de locais - acabaram determinando a colisão das atividades esportivas com outras, de natureza sócio-cultural. "Isso nos levou a criar novos espaços para o esporte (no Centro de Atividades "Úrsula de Mari ", no Portão; no da Cidade Industrial; no de São José dos Pinhais; e no Clube do Trabalhador, no Boqueirão) e melhorar o acabamento do ginásio - revestindo o forro e dotando-o de renovadores de ar e de sistema de som, que permitiram a realização de conferências, cursos, congressos e freqüentes encontros de conjuntos de música popular brasileira, serestas, música sertaneja e corais, tão ao gosto de nossa gente, levados, várias vezes ao ano, com casa sempre superlotada. Embora com equipamento insuficiente para apresentações de maior vulto, cedemos às pressões e encenamos, com grande dificuldade, alguns espetáculos de boa qualidade, como os que você mencionou e aos quais eu acrescentaria a apresentação de Berta Loren; "a Revista do Henfil", com Ruth Escobar, e "Dois Perdidos Numa Noite Suja", de e com Plínio Marcos, cujos palavrões aplaudimos, com entusiasmo, porque oportunos e no contexto da peça. "Lamentavelmente, em todos esses espetáculos, mesmo com garantia de gratuidade ou de preço simbólico para os ingressos, os industriários não se fizeram presentes. Por quê? Custo elevado de Condução? Horário inadequado dos espetáculos, para quem, dependendo de condução coletiva, inicia o trabalho às 6 ou 7 horas da manhã? Assinale-se que nenhum dos grupos apresentados concordou com a tentativa proposta de iniciar os espetáculos às 19 horas, em caráter experimental["]. "Para "as suaves peças infantis" a que você se refere, não existem custosos equipamentos; têm finalidade pedagógica, além da recreativa, e clientela assegurada, com as mais de mil crianças dos nossos jardins de infância, a quem oferecemos transporte gratuito e horários especiais. Claro, também que esses espetáculos são abertos à comunidade. Essas crianças, filhas de operários - amanhã, adultas - virão - assim esperamos - lotar os espaços e assistir os espetáculos do nível que todos desejamos e que, hoje, não atraem os pais delas["]. "O espaço está aí, intensamente ocupado, com programas de alto interesse coletivo. Hoje encerra-se o I Encontro Nacional de Microempresa; dia 22, tem o I Congresso Latino Americano de Segurança do Trabalho...["] "Acredite: o teatro está permanentemente ocupado, se não com promoções do seu, ou mesmo do meu agrado, mas todas válidas para os segmentos sociais a que se destinam. Assim, cedemos o teatro, com freqüência, a um sem número de empresas, que ali realizam promoções artísticas com seus empregados, todas abertas, também, à comunidade. Muitas vezes, com a Fundação Cultural de Curitiba, Pró Música, Instituto Goethe etc., promovemos espetáculos da melhor qualidade, garantindo, sempre, entrada franca aos nossos usuários["]. "Não há lugar, numa simples carta, para falar das dificuldades que cercam o assunto. Estamos abertos, entretanto, para receber sugestões e, se for o caso, mudar ou acrescentar algo às programações do teatro ou até alterar nossos rumos, desde que isso nos permita atingir, com mais intensidade, nosso público". xxx A educação de Ayrton Ricardo dos Santos naquelas explicações nos impressionou. Afinal é raro o administrador de entidade cultural saber entender as formulações e críticas que se fazem a problemas verificados. Realmente, o Teatro do Sesi é bastante ocupado e as ponderações de seu responsável têm plena validade. Entretanto, isso não impede que sejam, também, redefinidas suas datas e, quando necessário, o espaço possa ser ocupado por espetáculos para um público que não seja obrigatoriamente os industriários. No momento em que o Teatro do Sesc, na esquina das ruas Visconde do Rio Branco e Fernando Moreira, começa a funcionar com uma elogiada comédia de Antonio Fagundes ("Pelo Telefone") , até domingo, 21 horas), é de sugerir que haja um planejamento amplo dos espaços culturais, não só para o melhor aproveitamento de todos, mas, principalmente, para ser desenvolvida uma grande campanha destinada a atrair público, e fazer com que os auditórios recebam muitos espectadores, justificando, assim, sua existência. Afinal, nada mais melancólico do que um auditório vazio. Ou fechado. LEGENDA FOTO 1 - A equipe de "Pelo Telefone", comédia que inaugura o Teatro do Sesc na Rua Visconde do Rio Branco
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
7
27/09/1985

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