Login do usuário

Aramis

"O Terceiro Homem", com mestre Welles, em vídeo

Entre as distribuidoras independentes, a Vídeo Interamericana é uma das que tem sabido alternar lançamentos comerciais (leia-se medíocres, mas de resposta junto aos imbecilizados videotas que buscam passatempo nas locadoras) com obras de maior valor. Assim, o catálogo da VTI - Network tem hoje títulos que merecem atenção daquela faixa de consumidores que sabem buscar algo mais para as horas de lazer. Em seu último pacote, Roberto Berbara [Barbará], executivo da VTI - e que, aliás, acaba de retornar de Los Angeles, onde fechou bons negócios - incluiu ao menos um clássico - "O Terceiro Homem", 1949, de Carol Reed, ao lado de duas outras produções interessantes: "A Vida de Brian" (Life of Brian), demolidora comédia que o criativo quinteto inglês Monty Python realizou há 11 anos e "A Pele" (Lá Peau), 1981, de Liliana Cavani, baseada no romance de Curzio Malaparte, que foi também cineasta - e que aborda mais um aspecto do nazismo e a violência alemã. xxx Para os fãs mais entusiastas de Orson Welles (1915-1985), "O Terceiro Homem" teve o seu dedo na direção. Welles nunca confirmou que tenha ajudado o inglês Carol Reed (1906-1976) a realizar esta perfeita transposição da mais conhecida obra de Grahan Greene, filmada na Áustria, há 41 anos, mas que pelo menos as seqüências em que aparece são perfeitas, no universo sombrio, de contrastes claros-escuros que sempre marcou sua obra. É uma história fascinante, envolvendo um escritor de livros de faroeste, Holly Martins (Joseph Cotten) em Viena, buscando um velho amigo, Harry Lime (Orson Welles), que teria morrido num acidente de trânsito. Sabendo que o amigo estaria envolvido com tráfico de remédios, Holly começa uma investigação que o leva a um universo fantástico, com uma seqüência nos subterrâneos de Viena considerada fantástica - e que, se espera, não perca muito na sua redução para a telinha. xxx "The Third Man", além de trazer Joseph Cotten (que foi um dos maiores amigos de Welles), ator já em "Cidadão Kane" (1940) e Orson (numa curta aparição), praticamente lançou no cinema internacional a atriz italiana Alida Valli, belíssima morena que fez filmes importantes, inclusive "Senso" ("A sedução da Carne", 1954), de Luchino Visconti (1906-1976) - também disponível em vídeo; "A Freira Assassina", de Giulio Berutti; "O Anticristo", de Alberto Martino e "Nós, as Mulheres", em cinco episódios. Trevor Howard, falecido há poucos meses, também tem um papel destacado em "O Terceiro Homem", lembrado desde 1950 - quando chegou nas telas brasileiras - pelo seu tema musical, executado pelo citarista Anton Karas. Premiado em Cannes e pela British Film Academy, uma obra prima que merece ser vista, para se conhecer a melhor fase de Carol Reed. xxx Observando-se com atenção é possível até identificar em algumas cenas de "A Vida de Brian", uma curitibana: a poeta Christina Gebran, filha do pintor Fernando Velloso e da professora Filomena Gebran. É que na época em que o Monty Phyton (grupo hoje desfeito, com seus integrantes seguindo carreiras independentes) foi a Argel para rodar esta irreverente comédia sobre um homem que nasceu no mesmo dia que Cristo, numa gruta ao lado (o que acabaria gerando uma série de problemas em sua vida), Christina era mulher do fotógrafo Peter Bizou (Oscar-89, por "Mississipi em Chamas"), que fotografou "Life of Brian). Inteligente e irreverente, "A Vida de Brian", dirigido por Terry Jones (cuja carreira continuaria com outros filmes marcantes como "Serviços Íntimos", já disponível em vídeo), traz Graham Chapman, John Cleae, Terry Gilliam (que também se tornaria famoso posteriormente, com filmes como "Brazil" e "As Aventuras do Barão de Munchausen"), Eric Icle e Michel Palin. A VTI promete para os próximos meses lançar outros filmes do mesmo grupo, inclusive o documentário "Monty Phyton Live at Hollywood Bowl". xxx Liliana Cavani, 53 anos, começou a fazer cinema em 1962, mas só em 1972, com "O Porteiro da Noite", com Dirk Bogard e Charlotte Rampling, tornou-se conhecida internacionalmente. Em 1982, abordaria outro tema escandaloso em "Atrás daquela Porta", reunindo Marcello Mastroianni e Tom Berenger. "Berlin Affair", de 1985, com a alemã Gedrun Landgrebe, a japonesa Takaki, mais o inglês Kevin McNally, foi o seu maior êxito: uma relação entre duas mulheres e um homem, num menage-a-trois fascinante. "A Pele" (La Peau), 1981, um drama de guerra, ambientado em Nápoles, 1943, adaptado da obra de Curzio Malaparte - que a VTI lançou no mercado - não teve, quando de sua estréia no circuitão, a repercussão merecida. Apesar de ter no elenco Burt Lancaster, Marcelo Mastroianni e Cláudia Cardinalle - ainda belíssima. Mais do que um filme sobre SS, prisões e perseguições, no tenso regime fascista, "A Pele" tem condicionantes políticas que recomendam sua (re)visão. LEGENDA FOTO - Welles, fascinante, em curta aparição em "O Terceiro Homem", agora em vídeo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
19/04/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br