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Aramis

O vanguardista Boulez regendo os clássicos

A associação de um empresário de grande visão artística, Henrique Sverner, presidente da cadeia Breno Rossi - e irmão da pianista Clara Sverner (que tem gravado discos tão importantes para a música brasileira, três deles em parcerias com o clarinetista Paulo Moura) - com a CBS, vem proporcionando que esta multinacional se acorage a fazer edições que, Breno Rossi antecipa da exclusividade nas vendas, e assim a gravadora não corre o risco de prejuízo - ao contrário, contabiliza já uma lucratividade imediata. Assim é que pela segunda vez temos um pacote de quatro fundamentais álbuns para se entender a importância do compositor e regente francês Pierre Boulez, 64 anos. Discípulo de Olivier Messiaen, 81 anos e René Leibovitz (1913-1972), dois compositores que inovaram em suas criações, Boulez foi um homem com uma obra adiante de seu tempo - e por isto mesmo pouco consumido fora de públicos especiais. Influenciado pelo serialismo de Anton von Webern (1883-1945), Boulez desenvolveu uma linguagem musical totalmente serial. Introduziu elementos variáveis em algumas de suas peças e explorou a relação entre poesia e música; em obras recentes, ampliou a gama de texturas orquestrais como o uso de música eletrônica. Entre 1971/76 foi regente da Sinfônica da BBC e da Filarmônica de Nova York; em 1977, tornou-se diretor do Institut e da Filarmônica et Coordination Acoustique/Musique, no Centre Georges Pompidou, em Paris. Nos álbuns que a CBS/Breno Rossi coloca agora novamente no mercado - em edições convencionais e CDs - temos exemplos de talento de Boulez, mas apenas como regente. Começa pela integral de "A Sagração da Primavera" de Igor Stravinsky (1882-1917), com a The Cleveland Orchestra. O próprio Boulez, em texto na contracapa, lembra que "La Sacre du Printemps" serve como ponto de referência para todos que desejam definir a certidão de nascimento do que é ainda chamado música "contemporânea". Espécie de obra-manifesta, algo a maneira e provavelmente pelas mesmas razões das "Demoiselles d'Avignon" de Picasso, não deixou de engendrar primeiramente polêmica, depois louvores e finalmente os necessários esclarecimentos. Em 50 anos, sua presença tem sido sentida continuamente. "La Sacre" tem feito carreira muito mais como peça de concreto do que como bailado; mesmo hoje, não obstante algumas encenações de grande êxito, as execuções sinfônicas superam de muito as apresentações coreográficas. Enfim, é uma peça que se tornou - por si mesma e pela lenda que se espalhou em torno de sua criação (1913) a pedra angular da música moderna. Do avanço de Stravinski, Boulez parte para o chamado "impressionismo" de Claude Achille Debussy (1862-1918), embora o próprio compositor se dissesse muito mais ligado ao movimento simbolista. Como acentuou o crítico Paulo Horta, suas obras parecem muitas vezes, evocar imagens através da sugestão de uma atmosfera e de um estado de espírito que seriam os equivalentes musicais do impressionismo nas artes visuais. E de Debussy, Boulez escolheu duas de suas obras mais conhecidas: "La Mer" (1903-1905) e o "Prelude à L'aprémidi d'un Faune", estreado em 22 de dezembro de 1984 na Societe Nationale sob a regência de Gustav Doret e que foi logo um sucesso, sendo considerado sua obra-prima e que marcou o decisivo advento de uma música que havia sido apenas sugerida por Mussorgsky. Também regendo a Filarmônica de Nova York, temos Boulez regendo quatro momentos da obra de Richard Wagner (1813-1883): o prelúdio de "Os Mestres Cantores", a abertura de "Tanhauser" e "Fausto" e o prelúdio de "Tristão e Isolda". Finalmente, somando a Filarmônica de Nova York ao coral regido por John Alldis, Boulez apresenta sua visão da Sinfonia nº 5, em dó menor, opus 67 de Ludwig Van Beethoven (1770-1827). Concluída em 1807, esta obra de Beethoven estreou no Teatro An Der Wien, em Viena, em 22/12/1908, dedicada a dois dos patronos do compositor, o principie Ferdinand Joseph von Lobkowitz e o conde Andreas Rasumovsky.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
25
26/11/1989

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