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Aramis

As obras maravilhosas graças aos mecenas de nossa cultura

Jacob Klintowitz, gaúcho, um dos mais respeitados críticos de artes plásticas do Brasil, está se tornando o primeiro profissional do País numa área muito especial: a produção de livros de arte. Reconhecido por seu trabalho sério e independente (Fernando Velloso, pintor e ex-diretor do Museu de Arte Contemporânea, o classifica como um dos poucos críticos confiáveis do País) - Klintowitz tem, nestes últimos anos realizado projetos editoriais do mais alto significado. Paralelamente ao seu trabalhho, em termos de regularidade e quantidade, um outro nome respeitabilíssimo das artes plásticas: o professor Pietro Maria Bardi, fundador e diretor do Museu de Arte de São Paulo. MECENATO CULTURAL - Jacob e Bardi estão podendo enriquecer a bibliografia brasileira graças ao mecenato cultural. Nos últimos anos, empresários de grande visão atenderam a importância de fazerem investimentos na área cultural. Assim, ao invés de distribuírem os desgastados brindes tradicionais de fim de ano - litros de scotch, cestas de Natal etc. - passaram a financiar livros de arte, álbuns e discos, voltados a nossa cultura e que, se não fosse esta sensibilidade e compreensão jamais teriam condições de serem editados. Afinal, tratam-se de projetos caros, que entre o planejamento a impressão sobem à casa de muitos milhões de cruzeiros - para tiragens limitadas, restritas a bibliotecas, estudiosos e, naturalmente, aos amigos e clientes dos patrocinadores. A João Fortes Engenharia, por exemplo, tem feito edições notáveis. Após o "Rio Déco" e "Real Corpo de Engenheiros da Capitania de São Paulo", financiou dois álbuns de fotografias - "Álbum da Avenida Central" e "O Rio Antigo do Fotógrafo Marc Ferrez" - reconstituído em imagens do fotógrafo da Corte de Dom Pedro II, toda uma épóca do então Distrito Federal. No ano passado, três novas edições do mesmo grupo: o "Almanaque 1950", um catálogo sobre Affonso Reidy, considerado o "inventor do móvel moderno brasileiro" e "O Rio de Janeiro de Pereira Passos". O TRABALHO DE KLINTOWITZ - Por certo Jacob Klintowitz teve centenas de solicitações de amigos que, nas últimas semanas, passaram assediando-o em busca dos livros de arte por ele produzidos. Só que se foi ele quem os planejou e produziu, a distribuição ficou a cargo das firmas patrocinadoras. Para a Rhodia, por exemplo, que há dez anos vem investindo em projetos culturais, Klintowitz realizou um nono livro de arte: "Trançado Brasileiro", no qual há um levantamento do trabalho de cestaria desenvolvido por indígenas, caiçaras e sertanejos em todos os Estados. A obra tem uma importância fundamental, já que é a primeira vez que se faz um levantamento sobre o tema a nível de pesquisa séria. As fotos do livro são de Lew Parrela, Mário Cravo Neto e Rômulo Fialdini. Já com patrocínio do Banco Cidade de São Paulo, Jacob realizou o livro "Arte Ingênua Brasileira" em cujo texto o crítico faz uma reflexão sobre este tipo de pintura, comumente chamada de primitiva, mas que ele prefere chamar de ingênua, seguindo a nomenclatura internacional (naif). Com 120 páginas, 80 ilustrações a cores, reúne fotografias de Rômulo Fialdini sobre obras de artistas como Djanira, Heitor dos Prazeres, José Antonio da Silva, Iracema Arditi, Manezinho Araújo e outros. Um projeto bastante original foi o que Jacob desenvolveu para a Tenenge: um livro (o primeiro feito no Brasil) que estuda uma única obra de arte. No caso o painel sobre Tiradentes pintado por Cândido Portinari e que hoje faz parte do acervo do Palácio dos Bandeirantes. O painel, que mede 18 metros de comprimento por 3,15 de altura, foi fotografado por Rômulo Fialdini e é analisado visual e estilisticamente por Klintowitz. Já para o Conglomerado Bemge - Banco do Estado de Minas Gerais, Jacob produziu "A Paisagem Mineira". Conforme reportagem de César Giobbi, do "Jornal da Tarde", a proposta de Jacob foi mostrar que a paisagem mineira tem um fascínio todo especial, já que inspirou inúmeros artistas brasileiros. Com 110 páginas, um texto de introdução do próprio crítico e quase cem páginas de ilustrações, o livro mistura pinturas de Di Cavalcanti, Portinari, Anita Malfati, Guignard, Tamaki, Scliar e muitos outros. Mas de todos os projetos culturais que Jacob vem desenvolvendo, sem dúvida o mais caro é o que há 5 anos vem produzindo para a Volkswagem do Brasil. Com textos em português, inglês e alemão, destinados assim à circulação mundial, já saíram dentro desta proposta "A Cor na Arte Brasileira", "Mestres do Desenho Brasileiro" e "Artistas Gravadores do Brasil". No ano passado, o projeto foi sobre "Artistas da Cerâmica Brasileira", o que possibilitou a Klintowitz apresentar desde a cerâmica utilitária dos índios, o artesanato colorido das regiões Norte, Nordeste, e Central do País, até a cerâmica a nível de escultura, como a que fazem Brennand (Recife), Megumi Yuasa (São Paulo) e Vasco Prado (Porto Alegre). O LIVRO DO PROFESSOR - Aos 82 anos, lúcido e forte, o professor Pietro Maria Bardi também não pára de desenvolver projetos culturais. Em 1985, dando seqüência à coleção de livros sobre arte brasileira que o Banco Sudameris patrocina há nove anos, o diretor do MASP realizou o belíssimo "Engenharia e Arquitetura na Construção". Em forma de álbum, com 23,5 por 30 cm, o livro aborda a engenharia a arquitetura feitas no Brasil desde o descobrimento, contada em forma de reportagem. E ilustrada com pinturas de Franz Post (século XVII), gravuras de Leandro Joaquim (século XVIII), aquarelas inéditas do francês Pissis (primeira metade do século XIX), aquarelas de Cícero Dias (1933), fotos de arquivo e fotos documentais de grandes obras contemporâneas no Brasil. Com sua cultura enciclopédica, Bardi fala da construção indígena, da arquitetura colonial, dos estilos trazidos pelos imigrantes da arquitetura moderna - chegando até as grandes obras de engenharia feitas recentemente, como hidrelétricas e usinas nucleares. OUTROS PROJETOS - Mas vários outros projetos editoriais foram desenvolvidos também em 1985, sempre com mecenas culturais: "100 Obras Itaú", coordenado pelo professor Pietro Maria Bardi, que estudando todo o acervo do Banco Itaú (cerca de mil peças) escolheu 100 obras de suporte tradicional para um livro com tiragem de dois mil exemplares; "Pantanal", um projeto da Editora Cor/Ação para a Coca Cola (que também editou um belo álbum fonográfico com a música de Antônio Carlos Jobim); "Angra dos Reis - Ilha Grande - Paraty", projeto de Beatriz Borges para o Hotel do Frade; o volume sobre o Museu Nacional de Belas Artes - o quarto patrocinado pelo Banco Safra; "Novos Horizontes - Pintura Mural nas Cidades Brasileiras", projeto de Ricardo Ohtake; "Salvador da Bahia de Todos os Santos", do baiano Emanoel Araújo para Norberto Odebrecht; "Di Cavalcanti - Desenhos do MAC ", organizado por Aracy do Amaral, diretora do MAC - São Paulo, num projeto também de Emanoel Araújo, com patrocínio do Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores. Enfim, bancos, empresas, instituições econômicas voltam-se para a nossa cultura, proporcionando a preservação de obras de arte. Uma obra sobre a nossa MPB - como "Modinha - Raízes da Música do Povo", de José Rolim Valença, patrocinada pela Down, ou a interessante produção do editor Léo Christiano com patrocínio do Crefisul, em que o pintor Malgoli se inspirou nos poemas de Mário Quintana e vice-versa. Só um aspecto triste! Até hoje, nenhuma empresa do Paraná se dispôs a financiar qualquer projeto cultural. Mesmo instituições poderosas, de sólidos recursos, têm se mantido insensíveis a qualquer investimento nesta área, numa lamentável ausência num marketing que oferece ótimos dividendos culturais e promocionais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
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16/02/1986
Sou presidente da APAP, conheço um pouco do seu trabalho, seus livros, mas não os tenho, sei também que os patrocinadores são os responsáveis pelas distribuições. Gostaria muito de obter os dados destes patrocinadores para podermos solicitar a doação dos mesmos para nossa associação. No texto, você os cita, porém de forma vaga. Gostaria que me enviasse estes contatos de forma mais completa e direcionada. de preferencia por email ou contato telefonico. Aproveito a ocassião para dizer o quanto admiro seu trabalho. Aguardo sua resposta e desde já agradeço. Margarete Zenero meu telefone - 19 . 3434.8950

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