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A ocupação da Amazônia (pela TV)

MANAUS - Há algumas semanas, o jornalista Ulisses Paes de Azevedo, 53 anos, 35 de imprensa amazônica, agora diretor de Coordenação da Rede Amazônica de Televisão, surpreendeu-se com uma reserva antecipada, de patrocínio exclusivo para transmissão via satélite, do jogo decisivo entre Grêmio x Internacional, em Porto Alegre, para o canal 4, TV Rondônia, com (repetidoras( em Guajara-Mirim e Vila de Rondônia. Simplesmente, alguns empresários locais se cotizaram e arcaram com o alto custo de transmissão obtendo assim as imagens que só chegaram com atraso nas outras estações da rede - porque a colônia gaúcha naquele território é hoje tão grande que o investimento compensava. Hoje, a Rede Amazônica de Televisão, da qual pouco se ouve falar no Sul, constitui, na verdade como se diz orgulhoso o seu diretor, Paes de Azevedo, "a quarta rede do Brasil e a mais independente de todas". Pertencente a um grupo totalmente local, presidido pelo também jornalista Felipe Dau, a rede começou a apenas cinco anos, com a inauguração em 1 de setembro de 1972, da TV Amazonas, em Manaus (800 mil habitantes, 120 mil aparelhos de televisão, 4 rádios, 4 jornais), com estações repetidoras hoje em Parintins, Itacoatiara, Manacapuru, Careiro e arredores. Aproveitando a política de estímulo do ministro Quandt de Oliveira, das Comunicações, na ocupação dos espaços da Amazônia, com redes de televisão, o grupo fez aquilo que Ulisses classifica de "a grande loucura na grande coragem". Em apenas um ano inaugurou 4 outras estações de televisão: a TV - Rondônia em Porto Velho (170 mil habitantes, 12.500 aparelhos de TV, 3 rádios e jornais), no ar desde 13 setembro de 1974, TV - Acre, em Rio Branco (12 mil habitantes, 9.500 aparelhos de TV), inaugurada a 22 de dezembro de 1974. Em 1975 - exatamente a 25 de janeiro, a quinta estação da rede, em Macapá (capital do Amapá, 120 mil habitantes, 10 mil aparelhos de TV, uma rádio e um jornal). As facilidades oferecidas pela Zona Franca de Manaus, no que se refere à importação do mais sofisticado equipamento, possibilitaram à Rede Amazônica de TV - que cobra o segundo de Cr$ 15,00 a 50,00, dependendo da veicularão se em uma ou nas cinco estações no horário nobre - ser também a pioneira na implantação do vídeo-cassete, em moldes profissionais, "com excelentes resultados", diz Ulysses, que acrescenta: "Em nossas estações (substituímos( totalmente os filmes pelo teipe, com economia e qualidade". Outro orgulho da rede é a liberdade de operação, adquirindo produções" onde quer que existam, com boa qualidade e interesses para nosso mercado". Assim, opera com as toneladas de Silvio Santos, com os programas TV Tupi e até alguns especiais da Gazeta e TV Educativa. Com sua repetidora de Guajara-Mirim inaugurada há poucas semanas, a imagem da TV Rondônia chega agora até o distrito de Beni, na Bolívia, nas margens do Rio Mamoré. Por ser recente, o fenômeno da televisão na Amazônia ainda não teve as discussões e os estudos que merece. Dividem-se as opiniões: de um lado o ufanismo que fala a integração Norte-Sul, de imagens de informação. De outro a justa preocupação pelo impacto que programas de uma outra realidade - "enlatados" com a violência americana, fantásticos shows urbanos, telenovelas alienantes - trazem para uma população imensa, desesperada, evidentemente, em termos sócio-antropológicos, para essa nova fase. O arquiteto Severino Mario, 44 anos, várias premiações nacionais, um dos mais respeitados profissionais de Manaus, observa que a cidade perdeu nos últimos 5 anos, a sua característica de (tranqüilidade(, vida provinciana, não só pela realidade econômica da Zona Franca, mas, principalmente, pelas imagens da televisão - que há 5 anos tiveram índices de audiência tão elevado que levaram quase todos os cinemas a cerrarem suas portas. Só dois resistiram e agora, pouco a pouco, o mercado começa a recuperar-se, com a inauguração de novas salas - mas com poucos lugares e uma programação selecionada (no domingo, 27 houve a estréia nacional de "Ajuricaba", que o carioca Oswaldo Caldeira aqui rodou, em 1976, com auxílio da Fundação Cultural). O arquiteto Severino vê também com preocupação o impacto que a televisão, de forma culturalmente desestruturada, pode trazer à cultura autoctone, quebrando valores tradicionais. Esse é um tema que comporta amplos debates e deverá motivar ainda muitos estudos. De momento, a Rede Amazônica cuida da sedimentação, apenas de suas estações e repetidoras, que atingem, entretanto, apenas uma mínima parte do continente - 62,05 do território brasileiro que é a Amazônia. Ulisses Paes de Azevedo habilmente, não revela montante do faturamento da rede, mas garante que continuará a crescer, com novas repetidoras - as próximas em Boca do Acre, Tabatinga, Pimenta Bieno, Vilhena, Oiapoque ("onde começa o Brasil") e Serra do Navio, nos territórios de Rondônia e Amapá. Estações de rádio, de momento, não estão nos planos da rede - que, por sinal, em Manaus, dedica longo espaço a programas jornalísticos. Só a realização da Conferência Nacional dos Jornalistas (25 a 28 de agosto) ocupou mais de duas horas de sua programação, espalhada em vários informativos, numa perfeita cobertura. Além das emissoras da Rede Amazônica de Televisão funcionam em Manaus as TVS Ajuricaba, ligada à Rede Globo, a Bare (Associada) e a TV - Educativa, do governo do Estado. CONFERÊNCIA MANAUS - As duas centenas de jornalistas participantes da XI Conferência Nacional, que se encerrou domingo, com a posse do paranaense Ayrton Baptista, na presidência da Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais, aprovaram sábado, após duas sessões plenárias, a "Carta de Manaus", documento básico deste encontro. Fruto do resultado das quatro comissões que funcionaram na Conferência - atuação da Federação, fiscalização, formação profissional e liberada de imprensa, a "Carta de Manaus" traz importantes recomendações e considerações, em defesa dos profissionais e da necessidade de ser garantida a (liberdade( de imprensa. As denúncias com relação à ação da censura e outras arbitrariedades cometidas contra profissionais foram feitas por várias delegações - principalmente São Paulo e Porto Alegre, sendo que nesta última capital, nos últimos meses, especialmente as emissoras de rádio e televisão têm sofrido a ação de censura, resultando inclusive em injustas demissões de muitos profissionais, por parte das empresas. A jornalista Sandra Wambier, da delegação do Paraná, apresentou várias moções, além de um bem fundamentado trabalho sobre assessorias de imprensa, que absorvendo mão-de-obra evitam que os profissionais sigam outros caminhos - aprovada em comissão a referendada em plenário. A eleição do jornalista Carlos Castello Branco, do "Jornal do Brasil", pela oposição, à presidência do Sindicato dos Jornalistas em Brasília, mereceu um voto de aplausos mas, que, em plenário, acabou sendo extensivo a outros lideres sindicais, também eleitos do Sindicato de Brasília. Arnaldo Ramos mereceu um voto de louvor e aplausos do plenário, em pé - pelo seu trabalho naquele Sindicato, cujas eleições perdeu na última quarta-feira.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
30/08/1977

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