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Aramis

Ódio político faz Museu Guido Viaro esvaziar-se

Mesmo com toda a sua formação marxista, a imagem que o advogado Carlos Frederico Marés de Souza, secretário municipal da Cultura está passando é a de que seu livro de cabeceira é "1984" do inglês George Orwell (1903-1950). Pouco a pouco, Marés e sua equipe de confiança da antiga Fundação Cultural de Curitiba, tal como o Grande irmão no romance de Orwell, publicado há 39 anos, estão preocupados em fazer desaparecer da cidade qualquer marca, em termos culturais, que lembre a administração Jaime Lerner. A mais nova trama, ainda em fase de desenvolvimento parece visar nada menos que o Museu Guido Viaro. Todo um projeto de odioso esvaziamento de uma das mais importantes unidades culturais da cidade vem sendo executado, aparentemente com sucesso, haja visto a inexistência de uma oposição mais atuante, para que, em breve - talvez antes das próximas eleições - deixe de existir até a razão do nome daquele Museu. xxx O esvaziamento do Museu Guido Viaro vem sendo desenvolvido há muito tempo. De uma unidade atuante, inaugurada em 19 de março de 1975, no qual aconteciam exposições de repercussão nacional e se desenvolviam projetos didáticos originais como o "Dr. Eureka Visita o Museu" - levando crianças a se integrarem no Museu, vem se observando uma paralisação. A pá-de-cal está sendo jogada agora, com o absurdo fechamento do Atelier Livre, que funcionando há exatamente 10 anos e seis meses foi responsável pela revelação de inúmeros artistas - muitos já partindo para carreiras de sucesso. Oficialmente, não houve a paralisação do Atelier, mas, sim, sua "transferência" para uma sala do Solar do Barão. Entretanto, esta "transferência" de atividades visou, basicamente, dar mais uma esvaziada no Museu - já que os centros de pesquisa e documentação, que ali também funcionavam, estão sendo "transferidos" para o Centro Cultural do Portão. Oficialmente, a desculpa da diretoria da Fucucu para a desativação destes serviços no prédio do Museu é de que a Cinemateca necessita maiores espaços para o seu funcionamento. Extraoficialmente, muito a boca pequena, fala-se até que com a "transferência" destes setores, se abriria no Museu, ponto centralíssimo, espaço para reuniões político-partidárias. Embora esta seja apenas uma especulação. xxx A Secretaria Municipal da Cultura/Fucucu tem, naturalmente, todo o direito de transferir unidades culturais, dentro daquilo que, simplesmente, argumenta como "racionalidade de espaços e administrativas". Mas é que por trás do esvaziamento físico do edifício que há 13 anos sedia o Museu Guido Viaro acontece algo mais grave. O museu existe graças a generosidade do advogado e único herdeiro do pintor Guido Pellegrino Viaro (Bodia Polessinia Rovine, Itália- 8/9/18998 - Curitiba, 4/11/1971). Quando o pintor Viaro faleceu, seu filho, o advogado Constantino, se dispôs a ceder, em regime de comodato, 138 de suas melhores peças - entre óleos, desenhos, gravuras e esculturas - para que a Prefeitura instalasse um Museu, num prédio na Rua São Francisco, que havia sido desapropriado devido a implantação de trecho da estrutural Sul. Sem qualquer exigência maior - a não ser o pagamento de um seguro sobre as obras e a garantia de que as mesmas seriam bem conservadas - Constantino Viaro cedeu um acervo que possibilitou a cidade ganhar um belo museu. Um discípulo do professor Viaro, o pintor Vicente Jair Mendes, escolhido para sua direção, fez mais do que simplesmente implantar o museu: com amor e dedicação, procurou desenvolver um ativo centro cultural. E durante uma década conseguiu levar adiante bons projetos. xxx Nos últimos anos, especialmente na administração Roberto Requião, o Museu Guido Viaro começou a ser esvaziado. Reduziram-se as exposições, cortaram-se verbas e um processo de deterioração tanto física como culturalmente entrou em escalada. Sob as mais diversas alegações, o seu calendário de eventos foi se extinguindo e agora, como gota d'água, transfere-se o Atelier Livre que ali funcionava para o Solar do Barão, ao mesmo tempo que a diretoria da Fucucu decidiu proibir que os alunos(as) que vinham freqüentando-o há mais de dois anos possam fazer matrículas. Assim, pelo menos dezenas de artistas - entre amadores de talento e mesmo alguns que já se preparam para encarar o profissionalismo - ficaram desabrigados, sem chances de terem mais a orientação da professora Suzana Lobo, artista plástica que por sua competência, dedicação e didática, em uma década, despertou talentos, forjou artistas - do que foi prova a bela exposição retrospectiva realizada em julho do ano passado. xxx Naturalmente que o advogado Constantino Viaro, 50 anos - ex-diretor administrativo da Fundação Cultural de Curitiba e hoje superintendente da Fundação Teatro Guaíra, sente-se magoado pelo desrespeito para com que o Museu que tem o nome de seu pai - um artista que chegando a Curitiba em 1929, dois anos após ter desembarcado no Rio de Janeiro, deu uma das maiores contribuições a nossa vida artística e cultural. Legalmente, Constantino Viaro pode retirar todo o acervo do museu no momento em que sentir que as cláusulas contratuais não estão sendo cumpridas. Entretanto, não deseja fazer isto - pois seria privar a cidade da oportunidade de ter acesso a uma coleção preciosa e que, em termos de aquisição, seria impossível ao município fazer no momento. Entretanto, as provocações estão crescendo - e consta que quando vencer o contrato (renovado sempre automaticamente) em junho próximo, a Secretaria Municipal da Cultura, vai lhe fazer uma absurda proposta: transferir o acervo para uma das salas do Centro Cultural do Portão. Ou seja, o museu da Rua São Francisco perderá totalmente sua razão de existir e, então, será possivelmente destinado a outras atividades, mais populistas, dentro da demagógica e discutível visão que os "donos" da Fucucu tem procurado desenvolver ao longo dos sete anos em que se encontram no poder. Uma situação delicada, ainda a tempo de ser revertida. Especialmente se houver vozes firmes que exijam esclarecimentos claros. Pena que Rafael Greca de Macedo não esteja mais na Câmara de Vereadores. Faz falta em momentos como estes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
03/03/1988

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