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Aramis

Olhar múltiplo para o que há de melhor

Até parece clima de FestRio! Múltiplos programas simultaneamente, obrigando quem se interesse em conhecer obras que normalmente não chegam aos circuitos comerciais - e muito menos nas comerciais locadoras de vídeo - a se desdobrar para assistir o que há de bom em oferta. A etapa final da Retrospectiva do Cinema Alemão (sala Brasílio Itiberê) e "Cinema Japonês: Grandes Momentos" (Cine Ritz), a "Rio Arte Vídeo" (auditório da Caixa Econômica Federal do Paraná, 10º andar) acavalam as programações - sem contar ainda filmes atraentes no circuito comercial. Haja disposição - e tempo - para acompanhar tão variadas opções. E pensar que, normalmente, durante meses, não há um único programa atraente. Os programadores culturais da cidade, mais uma vez, mostram falta de sensibilidade em oferecer múltiplos programas numa mesma ocasião - e deixando, depois, as salas às moscas. E, fora da iniciativa oficial, vem aí a maior promoção cinematográfica do ano: "Cinema 89: Mostra Internacional de Curitiba (Cine Plaza, 1º a 7 de dezembro), com nada menos que 35 filmes inéditos que só chegarão, em lançamento comercial, a partir de abril do próximo ano. xxx A Retrospectiva do Cinema Alemão, que mesmo capenga e podada em mais da metade dos filmes vistos em São Paulo, trouxe uma bela visão do cinema germânico, entrou em sua etapa final, com a exibição de "Fuga para Marseille", 1977, de Ingemo Engstrom - um documentário de quase quatro horas, abordando a fuga e perseguição dos intelectuais alemães que se refugiaram na França. Um documentário exemplar, que apesar de sua extensa duração, trouxe informações excelentes - e que merece, em próxima ocasião, ser exibido normalmente (o que, esperamos, o Instituto Goethe possa fazer em sua nova sede, a partir de 1989). Nesta quarta-feira, dois ótimos programas da Retrospectiva: "Retrato de uma Alcoólatra", 79, de Ulrik Ottinger (19 horas) e o emocionante "Alemanha, Pálida Mãe", 1979, de Helma Sanders Brahms, considerado um dos mais pungentes retratos das conseqüências do nazismo sobre a vida de uma família alemã. Para amanhã, quinta-feira, dois filmes inéditos: às 19h, "A Pureza do Coração", 1980, de Robert van Ackeren, e às 21h "Celeste", 1981, de Percy Adlon. Desconhecido no Brasil até o ano passado, Percy Adlon começa a ser cultuado nos círculos mais bem informados: seu "Out of Rosenheim" recebeu o Tucano de Ouro, como melhor filme de longa-metragem do IV Festival Internacional de Cinema, Vídeo e Televisão e, lançado nos EUA e Europa, com o título de "Bagdad Café", vem merecendo os maiores elogios. Em 1986, numa das mostras paralelas do II FestRio, foi mostrado "Zuckerbaby" (1985). Agora, a Globo Vídeo lançou no Brasil o seu "Estação Doçura", estrelado também por Marianne Sagebrecht, gorda mas encantadora atriz. Produzido em 1981, "Celeste" foi um dos primeiros filmes de Adlon, 53 anos, cineasta que possivelmente deve vir ao Brasil para o V Festival. A retrospectiva alemã encerra-se no sábado, com dois outros programas especiais: "O Dia dos Idiotas", 82, de Werner Schroeter, e "O Poder dos Sentimentos", 82/83, de Alexander Kluge (já lançado no Brasil pela Globo Vídeo). xxx Se os três primeiros programas da mostra "Cinema Japonês: Grandes Momentos", só atraíram os fanáticos pelo cinema daquele país - "O Profundo Desejo dos Deuses", "Silêncio" e "Sublime Dedicação", com metragens de quase três horas (os dois últimos com legendas em inglês), a partir de amanhã a programação torna-se mais leve: "Vida de Casado" (Meshi), 1951, de Nimkio Naruse, tem 97 minutos e legendas em português (sessões às 14 e 20 horas no dia 6; às 16 e 22 horas na sexta-feira). "Árvore Desfolhada" (Rakuyôju), 1986, de Kaneto Shindo, é outro programa, mas este limitado a quem conhece inglês (legendas) ou japonês. Valêncio Xavier, diretor do MIS (e o maior apaixonado pelo cinema japonês no Paraná), recomenda como imperdíveis dois programas desta mostra: "Os Amantes Crucificados" (Chikamatsu), 1954, de Kenji Mizoguehi (1898-1956), programado para os dias 10 (14 e 20 horas) e 11 (16 e 22 horas) e, especialmente, "Era uma vez em Tóquio" (Tokyo Monogatari), 1953, de Yasujiro Ozu (nos dias 15 e 16). Premiado com a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro, "Portal do Inferno" (Kigokumon), 1953, de Teinosuke Kinugasa (1896-1982), está programado para os dias 8, sábado (16 e 22 horas) e 9 (14 e 20 horas). Um filme sobre samurais, baseado numa peça de Kan Kikuchi, foi realizado estimulado pelo sucesso de "Rashomon" (1950), de Akira Kurosawa, e arrancou do poeta e cineasta Jean Cocteau, presidente do júri do festival de Cannes em 1954, a declaração de que "é o mais belo filme que já vi". Valêncio Xavier, apesar de sua paixão fanática pelo cinema japonês, não compartilha esta opinião: classifica "Portal do Inferno" como "um filme chatíssimo". De qualquer forma, um programa para (quem dispuser de tempo e interesse) conferir.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
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05/10/1988

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