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Aramis

Ora, viva: Um lp classico nacional

Maurício Quadrio, diretor de projetos especiais da Phonogram, o homem que mais se preocupa na divulgação da música erudita em nosso País, responsável pelas edições das mais importantes coleções aparecidas nos 5 últimos anos - da Pop History até a recentíssima série de Luxe, com uma dezena de primeiras gravações mundiais de peças clássicas - comentava conosco, há algum tempo, que o produtor fonográfico quando tem uma (rara) chance de realizar um LP de música erudita no Brasil, tem a obrigação de gravar compositores brasileiros. Sendo raras as oportunidades que os nossos solistas têm de perpetuar em LPs o seu trabalho que é mais do que natural que as mesmas sejam utilizadas para difusão de nossos compositores - com tantas obras inéditas. Por isto é de entusiasmar quando um pequena gravadora como a RGE/Fermata, de São Paulo, que após um passado glorioso e algum período de ostracismo, busca, agora, recuperar seu prestígio no mercado fonográfico nacional, dedica uma bem cuidada produção a um LP com uma pianista de valor como Isis Moreira, num LP em que equilibra o trabalho de um compositor de vanguarda como José Antonio Rezende de Almeida Prado, 31 anos, paulista de Santos, com uma elogiada, premiada mas incompreendida e desconhecida (do público) obra, com um dos mais comunicativos trabalhos do mais importante (ou dos mais0 compositor erudito do Brasil neste século - Heitor Villa Lobos (1887-1959). E é justamente isto que encontramos no belo LP de Isis Moreira (Fermata clássico, 305.1033, agosto/74), trazendo na capa uma foto da Praça dos 3 Poderes, em Brasília, e na contracapa uma lúcida apresentação de José da Veiga Oliveira, crítico musical do suplemento literário d'"O Estado de São Paulo" e membro de diversas entidades culturais de São Paulo. Como Nara Leão, Rubem Braga, o cronista José Carlos de Oliveira e o bom jornalista Paulo Marins, Isis Moreira é capixaba de Cachoeiro do Itapemirim. Em sua carreira estudou com muitos mestres, antes de ser a primeira mulher em todo mundo a gravar, na integra, a gigantesca Sonata n.º 29, em si Bemol Maior, Opus 106, "Hammerklaviee", de Bethoven (Fermata, 305.1032, estéreo). Após esta gravação - que infelizmente não mereceu a mesma divulgação que agora é dada a este novo álbum - Isis Moreira grava peças representativas de dois compositores brasileiros, "símbolos de duas estéticas tão diversas quanto válidas por seus intrínsecos fundamentos", como observa Veiga Oliveira. De José Antonio Rezende de Almeida Prado, um compositor em franca e vigorosa ascensão no cenário musical contemporâneo, que foi uma das presenças mais vigorosas em nosso último Festival Internacional de Música, Isis gravou "Variações, Recitativo e Fuga" que o autor dedicou ao pianista João Carlos Martins e que teve sua estréia mundial em São Paulo, a 29-11-73, no auditório do MASP, na própria execução de Isis. Já "O Momento n.º 5" ("Das verdes alturas"), também de Almeida Prado, faz parte de seis peças curtas, contendo imagens de Cubatão, foi dedicado a Isis Moreira. Das nove "Bachianas Brasileira", de Villa-Lobos, que conjugam a técnica [barroca] e contrapontística de J. S. Bach às características da folcmúsica brasileira, Isis escolheu para esta gravação de n.º 4, "peça deveras singular pois se o Prelúdio foi composto em 1941, a Dança, última parte, é de 1930", como informa o bem documentado Veiga Oliveira. Um importante disco na mínima fonográfica de música clássica de compositores/intérpretes brasileiros. Palmas à RGE/Fermata, por esta edição!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
10
07/09/1974

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