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Aramis

Os 60 anos da José Olympio, a grande editora brasileira

Há 20 anos, quando Ismênia Dantas, na época assessora de imprensa da Editora José Olympio, convidou-me para almoçar na "casa" - a afetiva designação que identificava a sede da editora, na Rua Marques de Olinda, 12, no bairro do Botafogo, RJ, tive a alegria ao sentar na mesma mesa em que estava o fundador da empresa, o grande editor José Olympio Pereira Filho, como sempre rodeado de escritores ilustres, mais do que seus editados, grandes amigos. Na época, a José Olympio era uma das três maiores editoras do país, com catálogo dos melhores autores brasileiros, um agressivo programa editorial que o jovem Geraldo João Pereira, seu primogênito - e hoje comandando a Salamandra-Consultoria Editorial - ampliava para outros produtos culturais e didáticos, como um notável museu portátil, com reproduções de telas e esculturas famosas que se espalhou pelo Brasil afora. Ao lado do prestigiamento a melhor literatura brasileira - preocupação maior do velho editor, nascido em Batatais, região da Ala Mogiano, em São Paulo, em 10/12/1902, desde que se iniciou como editor - em 3 de julho de 1934 a JO tinha um notável catálogo internacional. Escritórios regionais - como o de Curitiba, dirigido com eficiência por Maurício Fisbein - garantiam uma presença agressiva no mercado, numa época em que, com uma população bem menor do que a atual, proporcionalmente lia-se muito mais. xxx Editor da estirpe de outros grandes brasileiros - como Alfredo Machado (1923-1991), da Record; Carlos (1914-1977) e Sérgio Lacerda (1963-1991), da Nova Fronteira; Caio Graco Júnior (1920-1990), da Brasiliense, entre outros exemplos que já se foram, José Olympio mereceu do poeta e escritor Affonso Romano Sant'Anna, uma homenagem especial: "Seis Décadas de Cultura Brasileira", organizada na Biblioteca Nacional, entre os dias 29 de novembro de 91 a 10 de janeiro último, e que merecia ser levada a outros estados - inclusive o Paraná. José Olympio sempre teve um carinho especial pelo nosso maior estadista e intelectual, Bento Munhoz da Rocha Neto - de quem editou alguns títulos, bem como os professores e críticos Wilson Martins e Temistocles Linhares; também seus editados e amigos. Homem de origens modestas - começou como funcionário da seção de livros da Casa Garraux, na década de 20 o ponto de encontro da intelectualidade paulistana. Ali, José Olympio conviveu com nomes como Mário de Andrade, Cassiano Ricardo, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, entre tantos outros - nascendo o seu amor pelos livros e seus autores. Em 1930, morria Alfredo Pujol, dono da mais importante biblioteca particular de São Paulo e Olympio, financiado por amigos e com um empréstimo feito por José Carlos de Macedo Soares, adquiriu o acervo, estabelecendo-se, por conta própria, com apenas 28 anos, na rua da Quitanda, 19-A, a primeira sede a livraria, em São Paulo. O Brasil sofria mudanças e Olympio entendeu que era hora de transferir-se para o Rio, instalando na rua do Ouvidor, 110, a Casa - em 3 de julho de 1934, que se transformaria na mais importante editora do país por mais de 30 anos. xxx A história da cultura brasileira está tecida, fio a fio, com a vida desta Casa. Foi pelas mãos de seus colaboradores que muitos originais saíram do prelo para a história. Nos tradicionais almoços e encontros - que, a atual diretoria, vem procurando reviver - o velho Graciliano Ramos sentava no jeitão quieto para discutir o título de seu novo livro, "Vidas Secas"; Gilberto Freyre trazia uma novidade; Guimarães Rosa passava "pra dois dedos de prosa" - ele que era normalmente caladão, como bem sabe Poty, ilustrador de seus livros - e de dezenas de outros autores lançados por José Olympio. Nem tudo foram flores nos 60 anos da José Olympio. Os momentos de dificuldades foram muitos, inclusive uma intervenção do BNDES, um leilão (quase) inevitável no caminho - e a casa do autor nacional correu sérios riscos de vida. Mas graças a um dos mais admiráveis empresários e mecenas culturais do país, Henrique Sérgio Gregori, fundador e presidente da Xerox do Brasil, e da escritora e sua mulher, Ana Elisa, a José Olympio foi reestruturada e hoje continua a ter bons lançamentos. É bem verdade que as obras da maior parte dos autores que até os anos 70 eram exclusivos do JO passaram para outras editoras - especialmente a Record, com a visão de Alfredo Machado que a transformou na maior casa publicadora do país. A homenagem que Affonso Romano promoveu à José Olympio foi um dos fatos mais significativos do ano passado. Pena que não haja condições da mesma ser apresentada em Curitiba. Infelizmente, aqui não há um intelectual da dimensão do poeta Affonso dirigindo nossa Biblioteca Pública - e nem nas demais e caras instituições culturais (sic) do Estado do Paraná e especialmente do município. Muito pelo contrário...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
15/01/1992

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