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Aramis

Os bons tempos do Paraná de 1924 (I)

Não há dúvidas: mais do que nunca é válida a frase de que é só possível entender o presente e preparar-se para o futuro conhecendo-se e respeitando o passado. Do universal ao regional, as menores observações exigem que se volte, sempre, aquilo que hoje se denomina de << memória >>, em suas diferentes formas. campanhas que vem sendo iniciadas, com apoio de alguns veículos de divulgação pela preservação de documentos, fotos, publicações, discos, livros, etc., que, tantas vezes são destruídos quando encontrados em velhos baús, jogados em empoeirados sótão ou fundos de gavetas - a guisa de << limpeza >>, ou quando velhas pessoas falecem ou trocam centenárias residências por minúsculos apartamentos, são indispensáveis. E se nas cidades maiores, pouco a pouco, começa a existir esta consciência - de se evitar a destruíção de material precioso para o trabalho de estudiosos, pesquisadores - ou ao menos como mero registro, é de se pensar (e lamentar) o quanto é que se tem perdido Interior afora. Tais reflexões surgem quando se depara com um documento como o << Relatório da secretaria Geral do Estado do Paraná apresentado a Sua Excellencia, o Senhor Doutor Caetano Munhoz da Rocha, Presidente do Estado, por Alcidez Munhos, Secretário Geral D`O Estado, referente aos serviços do exercício financeiro de 1923-1924 >>. Impresso na Livraria Mundial (França & Cia. Ltda., Curityba) são 753 páginas, repletas de ilustrações, mapas e gráficos, com detalhamento de todos os setores do Estado, que hoje, passados 66 anos, possibilitam que, se folheando suas várias secções, se tenha uma radiografia do Paraná, há pouco mais de meio século. Quando se imagina que hoje os relatórios oficiais se espalham, em luxuosas (e dispendiosas) publicações, muitas vezes em linguagem hermética e confusa (quem sabe, até propositalmente), é de se admirar a clareza precisão - além do detalhamento do trabalho que Alcidez Munhoz, na condição de Secretário Geral d`O estado elaborou no apartamento tão distante ano de 1924, quando expunha ao então governador Caetano Munhoz da Rocha << com a precisão possível a marcha dos serviços públicos affectos a Secretaria Geral do Estado >>, organismo que na época reunia nada menos que nove dos mais importantes << serviços >> - que, a partir de então começaram a ser desmembrados e ganharem autonomia: Diretoria do Interior e Justiça; Diretoria da Fazenda, Indústria e Comércio; Diretoria de Obras Públicas e Viação; Diretoria do Arquivo Público e Estatísticas; inspetoria Geral do Ensino; Inspetoria de Terras e Colonização; Inspetoria da Agricultura; Inspetoria Geral das Rendas; Procuradoria da Fazenda; Consultoria Jurídica e Almoxarifado Geral. Incluía ainda sob a responsabilidade da << Secretaria Geral do Estado >>, os serviços da unta Comercial (que agora está ganhando, afinal, sua aguardada sede própria), diretoria do Serviço sanitário, Instituto Comercial, << Gynnasio Paranaense >>, << Escola Normal Secundária >>, da Capital; << Escola Normal Primaria >>, de Ponta Grossa >>; Escola Agronômica; Patronato Agrícola; Museu Paranaense e Força Militar. Já, << o bem organizado relatório do Exmo. Snr. Desembargador Chefe de Polícia >> merecia << volume separado >>. Como se observa, praticamente os principais serviços públicos se concentravam nesta << Secretaria Geral >>. Obviamente, deve existir uma meia dúzia de exemplares de relatórios como este, no Museu Paranaense, Arquivo Público do Estado ou na Mão de alguns particulares. Na secção de Referencia Paranaense, da Biblioteca Pública do Paraná, se houver, são fragmentos. Entretanto, a leitura aparentemente cansativa de um maçudo volume de quase 800 páginas, adquire - se vista com olhos atentos - aspectos fascinantes, não só como informação da vida de nossa cidade e nosso Estado há 65 anos passados, mas, inclusive como dados desta nova << ciência >>, da qual tanto se fala hoje, qual seja o << comportamento >>. Por isso, fascinados que sempre fomos pelo respeito e conhecimento do passado - e da necessidade de que haja uma conscientização para preservação de documentos e informações, vamos nos permitir, durante alguns dias, a transcrever, neste espaço, alguns dos aspectos mais interessantes deste relatório, ao mesmo tempo que renovamos o apelo que constantemente têm sido feitos: antes de se destruir qualquer volume, publicação, disco, relatório, etc., a guisa de << limpeza >>, por que não procurar as pessoas interessadas, ou, ao menos, entidades que se preocupam com o nosso passado, quando orientada por pessoa competentes, como o Arquivo público do Estado, que desde 1956 tem o advogado Mbá de Ferrante na direção; ou os Museus Paranaense e da Imagem e do Som, este reativado e partir do ano passado, graças ao entusiasmo que o secretário Luís Roberto Soares, da Cultura, sempre teve pela história - e que encontrou em Marcelo Marchioro e, posteriormente, Cesar Fonseca, as pessoas certas para aquelas funções. *** Entre 1.º de janeiro de 1923 ao segundo semestre de 1924, a Secretaria Geral do Estado, que tinha seis funcionários - entre as quais as sras. Lydia Munhoz como << dactylographa >> e Leonor Castellano como << praticante >>, expediu 58 ofícios, 51 cartas e 579 telegramas, pra uma entrada de 6.384 ofícios e 698 requerimentos. No período foram concedidos audiências a 5.272 pessoas. Hoje, quando se vê o cipoal burocrático, é de se invejar a economia das leis << registradas na Directoria do Interior e Justiça >>: 83 no total, enquanto os decretos chegavam a 1005, com 321 nomeações, 205 exonerações e 98 remoções. No funcionalismo estadual, houve 5 promoções e apenas 8 aposentadorias. *** É preciso, para melhor compreender os dados que Alcides Munhos tão cuidadosamente colocada em seu relatório que, na época o Paraná tinha 51 municípios e a divisão administrativa e judiciária incluía 23 comarcas. Um dos primeiros quadros dos muitos que ilustravam o relatório trazia o nome de todos os prefeitos, com data de todos os prefeitos, com data de posse e observações curiosas. Muitos destes municípios desapareceram, desmembrados que foram em (vários) outros (atualmente o Paraná tem 297 municípios): Assunguy de Cima, Colônia Mineira, Conchas, Deodoro, e a Grafia do até hoje esquecido município litorâneo de Guaraqueçaba era quase de uma forma tupi: << Grarakesaba >>. O prefeito de Curitiba era João Moreira Garcez, engenheiro e professor, que permaneceu por muitos anos no cargo e, com sua visão urbanística, fez traçados de amplas avenidas e ruas que, 50 anos depois, possibilitaram que aqui fossem desenvolvidos projetos do << Plano Diretor >> no setor vário, que permitiram Curitiba aplicar, com sucessos, inovações na área de circulação. Mas é preciso lembrar que Curitiba deve a homens como Moreira Garcez e outros prefeitos, em sua visão há mais de meio século passado, a abertura de vias - que tornaram possível realizar aquilo que agora é considerado << modelo >>. Um aspecto do urbanismo que, intencional ou não, raramente é lembrado pelos nossos homens públicos. E que merece ser estudado a fundo, inclusive a nível de tese de mestrado na área de urbanismo, o que fica aqui como sugestão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
14/05/1980

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