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Aramis

Os caçadores dos sons perdidos

Ayrton Pisco não sabe precisar quantas faixas já recuperou para a nossa música popular. Foram milhares, pois há quase dez anos vem trabalhando sozinho (só agora está começando a repassar a um de seus netos o seu know-how) na reconstituição de gravações que representam os únicos registros de nosso passado musical. Como a maioria das gravadoras - especialmente as pioneiras (RCA, ODEON, Columbia) perderam seus acervos, para reedições dos grandes nomes da MPB, a única opção é recorrer aos raros discos que foram preservados por apaixonados como Leon Barg no Paraná (anteriormente, Luciano Lacerda tinha uma grande coleção, hoje depositada no museu da Lapa), Miguel Angelo de Azevedo, o Nirez, em Fortaleza; Ary Vasconcelos e Nelson Cunha no Rio de Janeiro, José Ramos Tinhorão e Miécio Café, em São Paulo, entre (poucos) outros apaixonados - geralmente radicais na defesa da música brasileira tradicional. Espaço especial merece Grácio Barbalho, de Natal, professor, médico e dono da maior coleção do Nordeste, hoje já transcrita em fitas para a Universidade do Rio Grande do Norte. Só para a Revivendo, Ayrton já processou material para 70 discos - os quatro últimos em CDs (Francisco Alves, Orlando Silva, Carmen Miranda e um de tango) lançados em dezembro - e com uma dezena de outros em fase de trabalho. Mas Pisco tem também feito trabalhos para outros colecionadores que vêm editando elepês históricos, como José Maria Manzo ("Collector's"), Francisco Aguiar, o Chico da cadeia "Moto Discos" (que também editou 4 volumes em CDs), Milton Varela ("Filigranas") e Paulo Yabuti ("Evocação"), que acaba de editar uma paleolítica trilha sonora de um filme português ("A Severa"), "num ato de muita coragem", como reconhece Leon Barg. Até para o Exterior, Ayrton já forneceu sua tecnologia: discos editados em Israel, Japão e Costa Rica tiveram sua restauração. Nos Estados Unidos, laboratórios de som fazem trabalhos esmerados, mas Ayrton, com sua criatividade tupiniquim, não fica atrás: corresponde-se com vários especialistas e garante que eles podem ganhar na tecnologia, mas os resultados que obtêm no Brasil pouco ficam a dever aos americanos. Já no Japão, "a coisa é diferente" - mas há poucas informações sobre novos processos de reprocessamento fonográfico ali desenvolvidos. Entre os aparelhos mais sofisticados que Ayrton utiliza está o Packbum, um conjunto desenvolvido por um cientista da New York University, que deu seu nome ao projeto. Com a era do DAT - gravação em fita com a qualidade laser, que os japoneses inventaram nos últimos 3 anos - houve um novo salto, ao qual ele já está se adequando, com uma aparelhagem importada. - "Aquilo que parecia impossível, hoje é o real. E não existe mais gravação que não dê para recuperar... a não ser que esteja quebrada no meio" - diz, confiante, este único brasileiro que garante o ressuscitamento das vozes do passado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
12/01/1991

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