Os curtas que deveriam ser vistos em programação normal
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de fevereiro de 1992
A mostra do chamado "Cinema Cultural Paulista", organizada pelo Museu da Imagem e do Som de São Paulo - E QUE GRAÇAS EXCLUSIVAMENTE A GENEROSIDADE daquela instituição - começou a ser apresentada ontem nas sessões das 20h30 e 22h no cine Groff é uma prova de que existem curtas-metragens de valor que deveriam ser programados normalmente nos cinemas do circuito da Fucucu.
Durante os anos em que o idealista Francisco Alves dos Santos coordenava o setor de cinema da FCC, independente da chamada "lei do curta" - que obrigava os filmes estrangeiros serem acompanhados de curtas-metragens nacionais - os cines Ritz, Guarani, Groff e Luz sempre apresentaram as realizações de nossos curtametragistas.
Infelizmente, desde abril do ano passado - quando a incompetência e falta de critérios tomou conta de área cinematográfica da Fucucu, com a injusta demissão do bom Francisco Alves dos Santos, os curta-metragens deixaram de ser apresentados em nossas salas. Com a furada alegação de que "não há filmes à disposição" para este complemento das sessões, as salas do circuito oficial passaram a ter longos intervalos entre uma e outra sessão - irritando e agredindo os espectadores - ao invés de utilizar o tempo para divulgar o que de bom os nossos curta-metragistas têm realizado. Aliás, denúncias neste sentido já foram feitas junto ao prefeito Jaime Lerner e também deverão encontrar repercussões na Câmara nas próximas semanas.
Agora, acavalando toda uma programação de curtas que mereceria ser apresentada isoladamente, em sessões normais - e remunerando dignamente os realizadores do curta - acontece uma espécie de festival - que aliás só chegou a Curitiba graças a generosidade e a colaboração do MIS-São Paulo. São curtas metragens - muitos dos quais premiados nos últimos festivais de cinema de Brasília, Gramado, Jornada de Cinema de Salvador etc. - alguns até já levados ao Exterior, que, se exibidos como complementos as sessões normais atingiriam uma faixa muito maior de público. Acavalados em programas compactos, ficam restritos a apenas uma parcela de interessados - não cumprindo, assim, a finalidade para a qual foram realizados.
De qualquer forma, quem for ao Groff, até o próximo dia 20, quinta-feira, nas sessões noturnas, poderá conhecer excelentes curtas como "Moleque de Rua" de Márcio Ferrari, "Independência" de João Batista de Andrade, "Wholes" de A. S. Cecílio Neto (premiado no último festival de Gramado, programado para a sessão das 20h30 de segunda-feira), "A Revolta dos Canudos" de Eliana Fonseca, "O Inventor" de Mirella Martinelli, "Rota ABC" de Francisco César Filho e "Viver a Vida" de Tata Amaral - estes dois premiadíssimos nos festivais em que competiram.
A iniciativa do MIS-SP em reunir os curtas numa mostra compacta foi ótima e a sua generosidade em ceder a promoção para que o incompetente setor de cinema da Fucucu realize alguma promoção voltada ao nosso cinema brasileiro merece cumprimentos. Mas a esperança é de que no futuro, quando gente melhor preparada estiver na coordenação da área da Fucucu, os curtas brasileiros voltem a ter exibição normal, regular - como tão bem sabia fazer Francisco Alves dos Santos.
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