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Os festivais resistindo - Londrina, Ouro Preto, Campos do Jordão, em julho é tempo de festivais

Em Campos do jordão encerra-se neste domingo o mais tradiconal dos festivais de música erudita do Brasil. Em Ouro Preto, chega ao final o seminário de música instrumental, que em sua primeira edição, reuniu os mais expressivos nomes da MPB, numa feliz idéia do guitarrista Toninho Horta, que encontrou o apoio da universidade Federal de Ouro preto para a realização do projeto. londrina também teve o seu festival de música erudita, idealizado, anos atrás pelo flautista Norton Morozowicz, hoje marginalizado desta promoção que, vem tendo pouca repercussão neste infeliz governo peemedebista. Na área competitiva, também multiplicam-se od festivais durante o mês de julho. começou com a já tradiconal mostra Avarense de MPB, pel 4a vez organizada por juca Novaes, enquanto que, no rio Grande do Sul aconteceu mais uma edição da Coxilha da Canção nativista, que tem no prefeito de Cruz Alta, o médico josé westphalen Correa, 52 anos, paranaense da Lapa, há 30 anos morando naquela cidade, o seu grande entusiasta. Cascavel realizou na semana passada, a 14a edição do fercapo - o mais organizado festival musical do Paraná, hoje aberto nacionalmente (teve 211 inscrições de 11 Estados), e que pela primeira vez, terá suas 12 finalistas num elepê, produção de Ayrton dos Anjos, da Continental, com distribuição nacional e lançamento previsto para o final de agosto. Julho é um mês pleno de festivais - uma prova de que o desgaste da fórmula competitiva não chega, entretanto, a desestimular prefeituras, entidades sociais, acadêmicas e recreativas, CTGs Universidade etc. a promoverem seus eventos. PROFISSIONAIS & AMADORES De um evento hoje de prestígio nacional pela organização e valor dos prêmios oferecidos (um Ford Escort, 0K ao primeiro classificado; Cz$ 40 mil ao 2° classificado), como o Musicanto de Santa Rosa, RS (22 a 26 de outubro, inscrições ainda abertas) até promoções modestas, como o "Cante Conosco", da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (eliminatórias nos dias 1° e 2 de agosto; finalíssima no dia 14; prêmios no valor de Cz$ 5.100,00), os festivais se multiplicam. É claro que para um evento como o de Santa Rosa - mesmo considerando sua distância - há um interesse nacional, de compositores profissionais inclusive, enquanto que para uma realização amadorística, sem maior divulgação e com prêmios ridículos como o da PUC-PR, o número e qualidade dos candidatos é também mínimo. Mas o importante é que os festivais aconteceçam. em Blumenau, o DCE "José Carlos Michels", promove o X Festival Universitário da Canção (18 a 20 de setembro), que além de um total de Cz$ 50 mil, ainda terá a gravação de um elepê com as finalistas, júri integrado por nomes nacionais e, paralelamente, palestras e debates. Em Cascavel, o Fercapo, organizado pelo Tuiuti E. C., também ofereceu bons prêmios (Cz$ 35 mil), mais a gravação de um elepê. hoje, considerando o número de festivais que ocorrem no País, só mesmo com premiações atraentes e o registro em elepê se consegue motivar inscrições de bons compositores. Caso contrário, o nível fica no amadorístico-primário, esquecendo-se as canções vencedoras poucas horas após a realização da promoção. VALE A PENA? Embora tenha sido o primeiro festival a obter uma grande projeção nacional, promovido pela extinta TV Excelsior, na Praia de Guarujá, em abril/65 - com a premiação de "Arrastão" (Vinícius Edu, defendida por Elis Regina), não foi o pioneiro. Isto porque, já nos anos 30, a então prefeitura do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, estimmulava festivais para escolha das melhores músicas carnavalescas. Mas o fato é que o êxito de "Arrastão", animou não só a TV Excelsior a repetir o festival no ano seguinte (junho 66), vencido por "Porta-Estandarte" (Geraldo Vandré/Fernando Lona), defendido pela falecida Tuca (Valeniza Zagni da Silva, 1944-1979) e Airton Moreira - como estimularia a adoção da fórmula por outras cadeias de televisão - a Record (5 festivais, entre 1966/69, mais a Bienal do Samba) e a Globo (7 edições do FIC, entre 1966/72) - o que teria o efeito multiplicador em todo o País, perdendo-se o número de festivais que desde então vem acontecendo. Passados 20 anos desta mania, a questão é: valeu a pena? Zuza Homem de Mello, 52 anos, da Jovem Pan, crítico e animador cultural que acompanhou a fase de ouro dos festivais da Record - período que documentou como sonoplastas, inclusive, é ainda um ardoroso defensor dos festivais. Continua acompanhando-os especialmente nas cidades do Interior. Em sua opinião se não tem havido maiores revelações de talentos é devido a ditadura imposta pelas gravadoras. Só quando acontece um superfestival como o promovido pela Globo, no ano passado, alguns vencedores conseguem romper o anonimato - caso da projeção obtida por Neusa Pinheiro (saindo agora com seu segundo lp, pela Polygram, após o primeiro independente) ou o reconhecimento, afinal, de Tetê Espíndola (a grande vencedora com "Escrito nas Estrelas"). Há entretanto os que não acreditam na força dos Festivais - nem mesmo como janela para os novos talentos, como o compositor paulista Cau Pimentel, 29 anos, um dos jurados no Fercapo, em Cascavel, que infdaga: - "Afinal, o que apareceu de forte na MPB nos últimos anos. Em compensação, os roqueiros continuam a ocupar uma mídia incrível". O EXEMPLO DO SUL A partir da Califórnia da Canção Nativista, que em dezembro terá sua 16a edição, os festivais do Rio Grande do Sul espalharam-se por todo o Estado. Já passaram de 70 num ano e hoje estão ao redor de 40, dos quais há pelo menos meia dúzia de eventos com reconhecimento nacional. A isto deve-se a qualidade dos compositores, intérpretes e instrumentistas, continuidade, apoio das comunidades em que são realizados (o Musicanto, de Santa Rosa, terá seu custo de Cz$ 1.400.000,00, totalmente coberto pela iniciativa privada, a exemplo dos anos anteriores) e, especialmente, à edição ds finalistas em elepês. Graças ao trabalho pioneiro de Ayrton dos Anjos, 50 anos, 25 de fonografia, praticamente todos os festivais nativistas estão documentados. além de serem mantidos em catálogo (em Uruguaiana é possível adquirir os discos das 15 edições realizadas), forçaram o aparecimento de inúmeros talentos - inclusive a dupla Kleiton & Kledir e o acordeonista Renato Borghetti - que hoje vendem milhares de cópias de discos. As gravadoras passaram a disputar este mercado e hoje tanto a Sigla/RBS como a Continental, disputam o privilégio de gravarem os melhores festivais - enquanto etiquetas menores, como a Quero-Quero, Pallo e ACAT (de Caxias do Sul) documentaram os festivais menores. A Sigla vinha editando os discos do Musicanto, cuja 3a edição teve como vencedor "Interiorando Coração" (Adalberto de Barros Filho/Sérgio Rojas), defendido por Ivo Fraga. Agora, como Ayrton dos Anjos deixou a Sigla RBS, o próximo Musicanto terá sua edição pela Continental, gravadora que laçou nestes últimos meses, um elepê com uma antologia das vencedoras da Ciranda Musical Teuto-Rio Grandense, que desde 1972, é realizada em Taquara, enquanto que as músicas da 7a Tertúlia musical Nativista, de Santa Maria, edição 1985, saíram também num belo elepê, no qual se destacam as vencedoras "Paisagem" e "Grão a Grão", defendida pelo grupo Status e Elton Saldanha, respectivamente. Até mesmo um novo festival - como o I Ronco do Bugio, promovido pela Prefeitura e o CTG Rodeio Serrano de São Francisco de paula, tem também o elepê com as finalistas - mostrando assim o que é o Bugio, classificado por pesquisadores como Paixão Cortês e neco Fagundes, como o último rítmo de orígens gaúchas. A questão nativista é ampla e vem comportando inúmeros debates - razão pela qual o pesquisador Edson Otto, diretor do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, programou um grande evento ("Acorde Brasileiro - Seminário nacional em Defesa da Música Regional Brasileira", Tramandaí, 28 de outubro/2 de novembro), para ampla análise dos caminhos musicais observados nos festivais - entre os partidários de uma abertura e influências nacionais e os chamados "Patrulheiros" que defendem o radicalismo conservacionista. A briga é tamanha que em dezembro de 1985, no encerramento da Califórnia, o vencedor Jerônimo Jardim (autor de "Purpurina", no MPB-Shell 80) teve que sair de camburão da Cidade da Lona, em Uruguaiana, tal a irritação do público em relação ao modernismo de sua música. O veterano leonardo (Jader Moracy Teixeira), 46 anos, vencedor de vários festivais nativistas, em seu último elepê ("Carta a uruguaiana", Chantecler) incluiu uma música-manifesto em defesa da Califórnia tradicional, contra "os que desejam deturpá-la".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
27/07/1986

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