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Aramis

Os filmes da terra estão na Cinemateca

A partir de hoje, 11, a cinemateca do Museu Guido Viaro, apresenta um ciclo intitulado "O Cinema e a Questão da Terra". Com exceção de "Vidas Secas", 1964, de Nelson Pereira dos Santos - filme marco do Cinema Novo, exibido no domingo, os demais são curtas e médias metragens, com diferentes enfoques de um assunto da maior atualidade. A questão da terra, motivou alguns dos filmes mais interessantes apresentados no recém-encerrado festival de Brasília, conforme aqui já registramos. Por exemplo, o drama de bóias-frias, teve dois médias metragens que emocionaram ao público, pelas imagens contundentes e realismo: "A Classe Que Sobra", de Peter Overbeck e "Mulheres da Terra", de Marlene França. "Quem Matou Elias Zi?", de Murilo Santos, sobre o assassinato de um líder caponês no interior do Maranhão, foi o curta-metragem mais aplaudido pelo público e mereceu também premiações do júri oficial - incluindo seu roteiro e trilha sonora, em forma de cantoria popular. Alemão radicado no Brasil desde 1952, casado com um checoslovaca que conheceu quando morou no Chile, dona Marta, o fotógrafo Peter Overbeck antes de se tornar câmera-man foi pintor e cenógrafo. Responsável pela fotografia dos dois primeiros (e inovadores) filmes do catarinense Rogério Sganzerla ("O Bandido da Luz Vermelha" e "A Mulher de Todos"), Overbeck dedicou-se mais tarde ao magistério do curso de cinema da USP e ao cinema publicitário - área em que ainda trabalha, especialmente nas produções de Jorge e Rosa Jonas, da Espiral. Por dois anos, Peter e Marta Overbeck documentaram a situação dos bóias-frias, na região de Piracicaba, tendo, como resultado o emocionante "A Classe Que Sobra", 24 minutos, mostrando diferentes aspectos do trabalho dos deserdados do campo. O filme foi premiado pela sua trilha sonora (Willi Correa de Oliveira). Já Marlene França, atriz que Alex Viany lançou em "A Rosa dos Ventos", e que fez mais de 30 filmes (em 1964, passou vários dias em Curitiba para atuar no folclórico "O Diabo de Vila Velha", mas devido as confusões de filmagens, acabou não fazendo nenhuma sequência), é hoje um cineasta voltada as questões sociais. Após o seu premiado "Frei Tito", decidiu realizar um filme sobre as mulheres bóias-frias. Na região de Araraquara, concentrou-se em torno de algumas mulheres que trabalham 12 a 14 horas por dia, tem famílias numerosas e sofrem todas as violências. O resultado foi "Mulheres da Terra", prêmio especial do júri e melhor roteiro - um filme contundente, que seria o ideal para encerrar a mostra "O Cinema e a Questão da Terra", na Cinemateca. A mostra da Cinemateca inclui os seguintes documentários: "Terra - A Medida do Ter", de Maria Helena Saldanha; "Já Dá Pra Entender", de Cláudio McDowell; "A Classe Roceira", de Berenice Mendes; "Índios Gavião", de Alceu Massari; "Mato Eles", de Sérgio Bianchi: "Missa da Terra Sem Males", de Conrado Berning; "Lages, a Força do Povo", de Tetê Porciúncula Moraes; "Em Cima da Terra, em Baixo do Céu", de Walter Lima Jr. e "Rocinha-Brasil 77", de Sérgio Péo. "Mulheres da Terra", de Marlene França e "A Classe Roceira", de Berenice Mendes, estão entre os filmes selecionados para a mostra "Imagens da Terra", que em promoção do Ministério da Reforma do Desenvolvimento Agrário e Embrafilmes, está sendo levado a três cidades. Inicialmente, a mostra foi apresentada, no último fim de semana, na 9ª Jornada de Cinema e Vídeo do Maranhão, em São Luís. De 20 a 28 de novembro, estarão sendo mostrados durante o Encontro Nacional de Mulheres Camponesas, em Brasília. Finalmente, em princípios de dezembro, o ciclo - que inclui longa-metragens como "Cabra Marcado Para Morrer" (de Eduardo Coutinho), "A Margem" (de Ozualdo Candeias), "Igreja dos Oprimidos" (Jorge Bondasky) e "Vidas Secas" - será apresentado em Belém.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
11/11/1986

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