Login do usuário

Aramis

Os filmes do mercado (I) - "Casa Grande & Senzala", ainda no papel, já é negociado no FestRio

Alguém já viu um filme coreano? E as produções da Turquia chegaram alguma vez em nossas telas? E o cinema mais recente da Polônia e União Soviética tem alguma chance de conquistar o cada vez mais arredio público brasileiro - que vem caindo de ano a ano? A julgar pelos resultados do Mercado de Filmes e Vídeos, que funcionou paralelamente a quarta edição do FestRio, existe interesse por estas produções de cinematografias distantes e até exóticas. Embora nem a própria coordenadora do Mercado, Ruth Albuquerque - uma mulher prática e competente, num trabalho exaustivo com suas assessoras Maria Helena Rosa Pereira Nunes e Angela Campos, tenha dados oficiais e finais do volume de negócios fechados durante os oito dias em que o mesmo funcionou, o fato é que os resultados foram satisfatórios Destinado a compradores/distribuidores de filmes e tapes, vindos de várias partes do mundo - e também os que atuam no mercado brasileiro - o Mercado tem suas normas específicas e as cifras vem crescendo de ano para ano. As previsões eram de que seriam ultrapassados os US$ 15 milhões (aproximadamente) registrados no ano passado. Entretanto, há muitos negócios feitos diretamente - por exemplo, um distribuidor de vídeos da Argentina negocia diretamente com o produtor de Israel para compra dos direitos de seus filmes naquele País e a transação em termos contábeis nem passa pelo Brasil. O FestRio, no caso, foi apenas o cenário de encontros para um maior intercâmbio de cinematografias que se desconhecem em termos de públicos. A ESPERANÇA BRASII.EIRA - Hermano Penna, cineasta cearense há anos radicado em São Paulo, estava radiante no terceiro dia do Festival: seu "Fronteira das Alma", um dos mais importantes filmes sobre a realidade brasileira (exibido em Curitiba durante a Mostra do Cinema Latino Americano, inédito ainda comercialmente), foi um dos primeiros a serem vendidos, quem comprou foi Angola. - São apenas US$ 3 mil, mas que sempre conta: ajuda a pagar os custos e leva o nosso cinema à África. A venda é apenas sobre os direitos de copiagem do filme. Assim, todas as despesas extras com laboratório, material de promoção, trailler etc. - ficam por conta do adquirinte. No caso de países como Angola e Moçambique, as cópias são, muitas vezes, encomendadas no Brasil, já que inexistem laboratórios de revelação e copiagem. Assunção Hernandez, esposa do cineasta João Batista de Andrade, é veterana em negócios de cinema. Durante todo o FestRio fez contatos, designou representantes para a Europa e América Latina para comercializar não só os filmes de seu marido, mas também de produções que tem supervisionado - como "A Hora da Estrela" , de Suzana Amaral e, especialmente "A Dama do Cine Xangai", o novo longa de Guilherme Almeida Prado, ainda em fase de mixagem - e que só terá suas primeiras exibições em 1988. "O País dos Tenentes", de João Batista (lançamento nesta quinta-feira, 3, no cine Ritz , também foi negociado. Até "O Homem que virou suco", que João Batista realizou há 8 anos e que já foi premiado em Moscou e vendido a vários países do mundo, teve mais uma compra: por US$ 3 mil, seus direitos foram vendidos agora a Bulgária. MERCADO FUTURO - A exemplo do que acontece nos outros grandes festivais do mundo, o mercado visa também a venda antecipada de produções em andamento, planejadas ou ainda em fase de entendimentos iniciais. O Brasil também está aprendendo a antecipar a comercialização de seus filmes. Assim, Norma Benguel - que no segundo FestRio foi jurada - este ano limitou-se a fazer contatos para tentar a comercialização de "Pagu", cinebiografia da feminista Patrícia Galvão. Foi prejudicada devido ao fato da cópia não ter ficado pronta a tempo (também Hermano Alves foi prejudicado pela Embrafimes [Embrafilme]: a cópia de seu "Fronteira das Almas" foi exibida sem legendas e em inglês). Noilton Nunes, a exemplo do que havia feito em 1986, mostrou os copiões de seu "Fronteiras - A Saga de Euclides da Cunha", procurando interessar financiadores, dispostos a adiantarem Cz$ 15 milhões que precisa para completar as filmagens no Acre e interior da Bahia. Até um grande anúncio chamando para a sessão dos copiões foi publicado no "Jornal do Brasil", que, a exemplo de duas dezenas de outras empresas, está colaborando na produção. Um filme ainda em fase de pré-produção - sem data fixa para começar a ser rodado - ganhou um stand no mercado: "Masters, Slaves & Co.", nome internacional que Joaquim Pedro de Andrade, 55 anos, deu para sua sonhada transposição ao cinema de Casa Grande & Senzala", o clássico livro de Gilberto Freyre (1900-1987, publicado em 1933. Produção orçada em US$ 3,5 milhões, a viabilização cinematográfica deste projeto só será possível com a participação de produtores internacionais. Um dos mais intelectuais realizadores do cinema brasileiro, responsável por filmes-marco que vão desde o curta "Couro de Gato" (61, episódio de "Cinco Vezes Favela") a transposições de textos de Carlos Drummond de Andrade ("O Padre e a Moça", 66) e Oswald de Andrade ("Macunaíma", 1971), João Pedro cerca a realização de "Casa Grande e Senzala" de todos os requintes. Produtores da Espanha e Portugal já se mostram dispostos a investirem US$ 600 mil. O roteiro foi desenvolvido em colaboração com Alice de Andrade, Ana Maria Gallano e uma ampla pesquisa de época, com detalhado story-board foi coordenada por Lula Buarque de Holanda, com consultoria histórica de Dirceu Lindoso e Joel Rufino. O produtor executivo é Marcelo França e Joaquim Pedro, assessorado por Elizabeth Vieira de Melo, ex-assessora de Brizolla e grande amiga do arquiteto Jaime Lerner, mostra-se seguro em seu plano: - "Há dois anos que trabalho nesta pré-produção. Terá que ser um filme perfeito. Não tenho pressa em definir o elenco, pois dependerá da época de rodagem coincidir com a disponibilidade dos intérpretes. Mas interessados não faltam." LEGENDA FOTO 1: "Pagu"Forever" - é o título internacional que Norma Benguel deu à cinebiografia sobre Patrícia Galvão, a líder feminista paulista. O primeiro cartaz promocional do filme é este. LEGENDA FOTO 2: Realizado com dificuldades, faltando ainda mais de 50% das sequências a serem rodadas, "Fronteiras - A Saga de Euclides da Cunha", teve seu copião mostrado no FestRio, na busca de condutores. Em cena, o ator Breno Moroni - intérprete de Euclides, a atriz argentina Katja Aleman e, à esquerda o fotógrafo Nelio Ferreira, fazendo um teste de luz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
13
02/12/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br