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Aramis

Os gaúchos mostram força de seu canto com otimismo

A vitalidade da música gaúcha é tão grande que as centenas de artistas do Estado que fazem seus discos não se preocupam com o que poderia se chamar de "mercado externo". Embora de Lupicínio Rodrigues a Elis Regina, o Rio Grande do Sul tenha oferecido grandes talentos para a nossa MPB, há toda uma geração de autores, intérpretes, instrumentistas e conjuntos que ali trabalham, fazem seus discos e que, em absoluto, não se importam com um (injustificável) esquecimento que sofrem em outros centros. Por exemplo, o jornalista Danilo Ucha, editor do "Jornal da Noite", informa no último número deste jornal que dois dos instrumentistas mais conhecidos daquele Estado, o flautista Plauto Cruz (cuja importância já o fez merecedor de um livro biográfico) e o violonista Mário de Barros estão com novos discos, mostrando mais um pouco do talento destes exímios instrumentistas, reconhecidos por quem conhece música (como Pelão e Paulo Tapajós, fãs da música gaúcha) como verdadeiros virtuoses, mas que, para o grande público acima da fronteira permanecem desconhecidos. Em seu mais recente suplemento, a Nova Trilha lançou um elepê chamado "Caminhos do Pampa", que traz Vilmar Romera um dos grandes intérpretes gaúchos, com uma gravação de "Negrinho do Pastoreiro" que emocionou ao próprio Ayrton do Anjos, com toda sua experiência musical. Já tendo atingido a mais de meia centena de festivais nativistas - dos quais pelo menos 20 de grande repercussão (mas praticamente todos deixando discos com as músicas finalistas), são centenas os artistas gaúchos que encontram seu espaço, obtendo uma justa promoção junto às rádios do Estado (ao contrário do que acontece no Paraná, onde os raros artistas que fazem discos não têm a menor divulgação) e mesmo na programação de televisão ("Galpão Gaúcho", por exemplo, tem uma grande audiência). A RBS/Zero Hora se associa às gravações - tendo feito isto há alguns anos, com a Sigla/Som Livre, quando Ayrton dos Anjos ali atuava, e que agora trouxe para a Nova Trilha este apoio indispensável. Pela Nova Trilha, temos elepês de novos intérpretes e autores como Neto Fagundes, de uma família musical, filho do Bagre Fagundes, sobrinho do radical folclorista, compositor e agitador cultural Antônio Augusto Fagundes, autores de várias faixas incluídas neste álbum no qual estão também composições de Elton Saldanha, Talo Pereyra e José Hilário Retamozzo (irmão do publicitário há anos radicado em Curitiba). David Menezes Jr. quase foi linchado em 1984, quando levou a ultramachista "Morocha" no Festival de Cruz Alta (implantado pelo paranaense José Westphalen Corrêa, lapiano, médico, que há mais de 30 anos ali reside, prefeito por três vezes do município). Brincalhão, machista, Menezes Jr. provocou protestos com sua "Morocha" e descobriu no bom humor a tônica de sua obra, "satirizando o grotesco, a mediocridade, a calhordice", como diz o radialista Paulo Deniz ("nosso David acerta um fundaço nos fundilhos do Golias do baixo astral"). Agora, acompanhado pelo grupo que ironicamente chama de "Os Incompreendidos", David Menezes Jr. no lp "Centroavante de Bigode" traz sete canções premiadas em festivais e mais duas inéditas - "Olha o Bicho" e "Bugio de Bombacha", além da recriação de um dos maiores sucessos regionalistas dos anos 60 - o "Pára, Pedro", de José Mendes. Menezes Jr. buscou músicas de vários autores, inclusive o delicioso "Viva a Cueca, Vanerão" de João Almeida Neto - este um cantor de belíssima voz, chamado (com razão) de o novo Nelson Rodrigues de Uruguaiana, e que também fez um elepê solo pela Nova Trilha - inclusive entre os melhores de 1989, conforme a relação do especialista César Setti, que publicamos na edição do "Almanaque" na semana passada. Violonista e cantor, Antônio Gringo em "Cativeiros" reuniu nove compossições próprias, com parceiros como Jaime Caetano Braum (poeta maior do nativismo). Como o nome artístico de Porca Véia, o acordeonista Élio Xavier está entre os mais populares artistas gaúchos. Já fez vários lps na etiqueta Discoteca e agora, estreando na Nova Trilha juntou-se a um grupo de prestígio - os Tropeiros, trazendo vanerões, rancheiras e chamamés que fazem o encanto de quem aprecia a música alegre e vibrante. Em dois momentos - "Dedo Curto" e "Bailando no Mato Grosso", Porca Véia demonstra seus recursos como acordeonista - campo em que o Rio Grande do Sul tem mais de duas dezenas de grandes nomes. Veterano compositor-intérprete Bruno Naher é o líder do grupo Os Três Xirus que, apesar de algumas substituições ao longo dos últimos 15 anos mantém uma grande produção. Agora Bruno & os Xirus estão na Nova Trilha, onde gravaram em agosto/89 o lp "Gauchada", com dez composições próprias - xotes, vanerões e chamarritas. Ayrton do Anjos busca também abrir espaço para novos conjuntos e assim lança o grupo Som Campeiro ("O Som do Rio Grande"), com composições inéditas na interpretação deste quarteto formado em fevereiro de 1988 por Jorge Fagundes, Paulo Lemos (Tomate), Pedro Neves e Beto Caetano. Edson Dutra, diretor de "Os Serranos", avalisa o novo grupo, que canta os grandes temas da música nativista - a amizade, o campo, o amor perdido, sempre numa linguagem otimista. Outro grupo gaúcho que chega pela Nova Trilha é o Rodeio, formado por Régis Marques, Dilson Inácio da Silva (Jóia), Nivaldo Borges (Niva) e Luís Carlos da Silva (Caio). Enfim, a Nova Trilha tem tudo para dar certo: competência do Patinete, gente de talento e sobretudo um mercado fiel à música do Rio Grande do Sul.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
25
14/01/1990

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