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Aramis

Os gospels de Mahalia e os lps ao vivo com Sarah, Diana e Liza.

DAS mais jovens e promissoras revelações à edição póstuma de uma das maiores cantoras de Gospel, em seu primeiro lp colocado no Brasil, há mais de uma dezena de bons lps de excelentes vocalistas que, nas últimas semanas, vem se acumulando nas prateleiras, à espera de uma justa indicação aos leitores que se interessam pela música vocal. Lamentavelmente, não podemos dedicar a cada um destes lançamentos o espaço ideal, mas aqui, neste início de ano, fazemos um rápido e jornalístico registro a respeito. I BELIEVE (CBS, Stereo, 13785, Dezembro/74) Considerada como a mais perfeita intérprete das chamadas Gospel Songs, a cantora Mahalia Jackson (1911-1972), morreu há 3 anos sem que nunca a CBS gravadora onde fez dezenas de históricos álbuns, tivesse se lembrado de oferecer ao público brasileiro qualquer uma de suas gravações. Todos os discos de Mahalia ouvidos até agora no Brasil eram caras gravações importadas, de forma que com a edição deste "I Believe", em que Mahalia aparece acompanhada de orquestra e coro, dirigidos por Johnny Williams, destacando Mildred Falls, uma nova faixa de público poderá conhecer, embora tardiamente, o que seja o chamado "Gospel Song"- ou Cantos Evangélicos, denominação surgida no final dos anos 30 para designar uma forma de canto religioso dos negros dos Estados Unidos, que unia tanto os hinos das Igrejas como músicas religiosas (e é muito importante não confundir o Gospel com os Spirituals, que eram cantados pelos negros escravos, durante as horas de trabalho). Como tantos outros nomes lendários do Jazz, Mahalia Jackson nasceu em New Orleans, a 26 de outubro de 1911. Começou a cantar desde a mais tenra infância, nas igrejas freqüentadas por seu pai, um estivador, e um barbeiro em outras horas e, também, pastor aos domingos. Assim, Mahalia, aos 5 anos já cantava nos coros das igrejas em que seu pai pregava. Ainda criança, já ouvia os discos de Ida Cox (1889-1967), Besie (1894-1937) e Mamie Smith (1890-1946) - três das grandes vozes norte-americanas no primeiro quarto do século. Aos 16 anos, Mahalia veio para Chicago, trabalhando como arrumadeira num hotel. Então passou a integrar o quarteto religioso, que logo passou a ser requisitado por várias igrejas batistas. Reunindo algumas economias, abriu mais tarde um salão de beleza e uma floricultura, mas continuou a cantar em igrejas, até que em 1945 foi convidada a fazer um disco na Apolo Records. "Her Move On Up A Little Higher" vendeu um milhão de cópias e, uma gravação seguinte, "Silente Night", fez sucesso até na Dinamarca. Como resultado, em 1952, Mahalia visitava aquele país, mais a França e Inglaterra, para concertos em teatro. Dois anos antes, ele já havia estreado no Carnegie Hall. Em 1954, deixou a Apolo Records e entrou na Columbia Records, iniciando também concertos, Mahalia Jackson levou o Gospel no Festival de Jazz de Newport, voltando nos anos seguintes - sendo que em 1958, ali teve uma participação histórica - registrada num de seus melhores álbuns (Columbia, CL 1244). Ainda em 58, com Duke Ellington fez uma clássica gravação de seu "Black, Brow and Beige". M 1959, cantou para o presidente Dwight Eisenhower (1890-1969) na Casa Branca e sua participação no Festival de Newport daquele ano foi registrado no filme "Jazz on a Summer's Day" (1960, de Bert Stern, 86 minutos). Durante toda sua carreira, Mahalia Jackson manteve-se fiel aos princípios religiosos, recusando lucrativos contratos para cantar em night-clubs, aceitando apenas concertos em teatro e igrejas - motivo que fez com que sua carreira não tivesse tido a promoção de outras grandes vocalistas. Fundido a música religiosa negras com o fundamental Blues - com raízes comuns nas origens do jazz - Mahalia foi uma das maiores Damas da música negra norte-americana. Irving Townsend, na contracapa de "I Believe" - sem dúvida um dos discos mais importantes lançados no Brasil em 74 - lembra que "os grandes cantores devem ser grandes atores ou devem acreditar tão intensamente no que cantam de modo que sua própria convicção seja dramática, inspirando plenamente seus ouvintes. Mahalia Jackson está, naturalmente, imersa no significado de suas canções e na premência de transmitir uma mensagem. Na voz está a fé no que ela canta e no rosto a maravilha e contentamento do que sente. O canto transportou Mahalia da pobreza ao estrelado não porque ela sonhasse com o sucesso, mas porque o canto lhe é amplamente gratificante". As nove músicas reunidas neste fundamental Ip são uma afirmação forte e comovente da crença pessoal de Mahalia em Deus. São canções que dizem o que ela dizia freqüentemente a si próprio. Elas explicam mais sobre Mahalia Jackson do que qualquer outro grupo de canções por ela já gravado. E por usarem melodia e poesia e toque do evangelho, transmitem uma convicção muito mais duradoura do que a maioria dos credos pessoais. A música que da título a este Ip - cujo ano de gravação não conseguimos precisar, mas que provavelmente se inclui entre 1958/59, "I Belive" de E. Drake, Graham, J. Shirl e Al Stillman, é das mais conhecidas no Brasil: foi o grande - e primeiro-sucesso na carreira do cantor negro Francisco Egydio (São Paulo, 17/1/1927,23 anos de carreira, hoje num imerecido ostracismo), que até hoje é identificado como a forte interpretação dessa música de grande apelo espiritual. As oito outras faixas deste Lp são igualmente vigorosas espiritualmente: "Trouble" (D. Akers), "I'm Grateful" (E. Drake/ J. Shirl), "I See God" (R. Leveen-M. Mencher), "Holding My Saiors'S Hand" (R. Anderson - Y. Reed), "Somebody Bigger Than Iou And I" ( J. Lange - H. Heath - S. Burke), "I Asked The Lord" (J. Lange - J. Duncan), "I Hear Angesl" (R. Anderson/Mahalia Jackson) e "Always Look Up" (Jea Beal - J. Shank - F. James). A orquestra e o coro que a acompanha são regidos por um jovem pianista-arranjador da Califórnia, Johnny Williams com a acompanhadora de Mahalia, Mildred Falls, ao piano. E, como de hábito nas gravações de Mahalia, a orquestra e coro incluem músicos de jazz e membros de sua igreja. Como todo mundo , eles amavam a maneira de cantar da grande Mahalia Jackson. Que a CBS anime-se, agora, a lançar no Brasil os outros magníficos Lps desta cantora maravilhosa - e tão pouco conhecida entre nós !. SARAH VAUGHAN " LIVE " IN JAPAN _ Aos 50 anos, Sarah (Lois) Vaughan, norte-americana de Newaark, e personalíssima, hoje, com um certo afastamento de Ella Fitzgerald - com sérios problemas de saúde - é Sarah que tem levado o melhor jazz vocal aos quatro cantos do mundo. Com 33 anos de carreira - começou num concurso de calouros do teatro Apollo, Harlen, e teve em Erl Hines (1945), Billi Ekstine e John Kirby (1945) os primeiros amigos que acreditaram em seu talento, Sarah vem se dedicando a música, viajando ao Exterior, fazendo temporadas em Night-clubes, teatros etc. nos últimos 5 anos Sarah tornou-se mais conhecida do público Brasileiro, através de quase meia dúzia de temporadas nos Teatros Municipais de São Paulo e Guanabara e mais algumas férias em mansões de amigos / admiradores cariocas. Numa destas últimas visitas, Sarah conheceu o pianista-compositor Johnny Alf, um de seus maiores admiradores em nosso País, e o resultado é que em breve vai gravar algumas de suas músicas. Como resultados destas visitas de Sarah Vaughan ao Brasil, as gravadoras a se interessar em lançar seus discos- mais de cinqüenta álbuns importantes, e assim sua obra começa a ser cada vez mais conhecida. Ao lado das edições da Imagem e Phonogram, a Tapecar, uma pequena mas bem dirigida etiqueta carioca, após lançar o histórico encontro de Sarah com o maestro Michel Legrand- para nós um dos 10 melhores álbuns de música internacional aqui editados no ano passado, lança os dois volumes do recital que Sarah Voughan fez no Japan, em sua temporada de 1972 ("Sarah Vaughan "Live" In Japan, Mainstream/Tapecar, 2401).Descontraída, com toda sua garra- acompanhada por um excelente trio (com alguns destaques em certas faixas), Sarah Voaughan toda sua segurança vocal, com um repertório que inclui alguns dos mais conhecidos temas de jazz. Lamentavelmente, a Tapecar desdobrou o álbum duplo original 2 Lps simples , e na prensagem das capas, foi excluída qualquer informação adicional, inclusive os nomes dos excelentes instrumentistas que acompanham a cantora. De qualquer forma, são dois Lps importantíssimos, com Sarah cantando, para nossa alegria, música como "Wave" (Antônio Carlos Jobim) e "Round Midnigth"(Thelonius Momk), ao lado de outros clássicos como "My Funny Valentine", "Misty" (Errol Garner), "There Will Never Be Antoher You", "Like Someone In Love", "A Foggy Day", "Por Butterfly", "The Lamp Is Low", "Willow Weep For Me", "Al Of Me", "I'll Remember April", "Watch What Happens "Bye Bye Blackbird" e, conseguindo valorizar até temas cansados como "Love Story" ou marcas - registradas de outras intérpretes, com o garlandeano "Over The Rainbow". Enfim, 2 lps que valem o que custam. xxx DIANA ROSS LIVE - Outra gravação ao vivo que a tapecar coloca no Brasil é este lp gravado (quando?) pela ex-Supreme Diana Ross no Caesars Palace, um dos mais famosos cassinos de Las Vegas, USA. Acompanhado pela The Nat Brandwyne Orchestra, sob a regência de Gil Askey, a grande interprete de "O Caso de Uma Estrela" "The Lady Sings The Blues, 73, de Sidney J. Furie) traz uma seleção de músicos de diversos autores, em interpretações seguras, feéricamente iluminadas e coloridas, como deve ter sido sua própria atuação no Caesars Palace. Diana abre o espetáculo com "Don't Rain On My Parade", de Jule Styne/Bob Merril, e prossegue com "Big Mable Murphy" (Dallas Frazier) e "Reach Out and Touch" (Somebody's Hand), de Nickolas Ashford/Valerie Simpson. Em seguida, uma homenagem aos seus anos de Supremes, com uma seleção que inclui "Stop! In The Name of Love" (Eddie Holland/Lamont Dozier/Brian Holland), "My World Is Empty Without You" "Baby Love", "I Hear A Symphony" - também de Dozier/Holland, e encerrando com "Ain't No Mountain Hign Enough" (Ashford/Simpson), o lado A . Na faixa B do disco, "Corner of the sky" (Setpehn Scwartz) e "Being Green" (Joe Raposo), antecipar a nostalgia de Georges/Ira Gershwin ("I Loves Ya Porgy") e a natural homenagem a Billie Holiday (1915-1959), com uma seleção de "Lady Sings The Blues": a própria música-título, de Billie e Arthuer Herzog, Jr., "Good Morning Heartache"( Irene Higgin-botham, Ervin Drake e Dan Fischer), "Tain't Nobody's Bizness If I Do" (Porter Grainer/Everett Robbins), e, no final, "The Lady Is A Tramp" (Richard Rodgers/Lorenz Hart e "My Man" (Channing Pollock). Com o grupo vocal The Devastating Affair nos back-ground vocais, mais Marty Harris no piano, Gene Pello na bateria, Jerry Steinholtz nas congas e percussão, Greg Porree na guitarra e Pepito Hernadez no baixo, este "Diana Ross Live" é outro dos bons discos "live" de 74 - e mais um título na fonografia desta cantora. xxx LIVE AT THE WINTER GARDEN - Liza Minnelli é, hoje, uma das artistas que mais rende em gravações ao vivo. Como sua inesquecível mãe, Judy Garland (1922-1969), Liza tem uma extraordinária presença no palco, dando maior dimensão as interpretações que ficariam amordaçadas, talvez, numa gravação em estúdio. Isto justifica o grande número de álbuns reproduzindo as mais sensacionais de suas apresentações ao longo dos diversos países onde tem se apresentado nos últimos anos. Nesta gravação feita no Winter Garden, Liza teve a direção de Bob Fosse, o grande pigmaleão de sua carreira - responsável pelo filme ("Cabaret") e show de televisão ("Liza Whith A Z ", também editado em lp pela CBS) que lhe valeram os troféus máximos em 1972. Escrito por Fred Ebb - autor de várias das músicas incluídas no show, com coordenação musical de Marvin Hamlisch, eis um lp excelente, que mesmo com a cantora repetindo algumas faixas já conhecidas de outros lps, explode com toda sua beleza e força. Uma gravação perfeita, belíssima capa criada por Joe Eula, fotos de contracapa de Arthur Maillot/Robert Deutsch, só apresenta uma falha: a não indicação da data do show, mas isto tem uma explicação comercial: o público costuma recusar os lps quando a gravação é de uma data muito antiga. Que imbecilidade... Faixas; "Liza With A "Z" (Fred Ebb - J. Kander), "Ring Them Bells" (Ebb-Kander), "I Can See Clearly Now" (J. Nash), "Maybe This Time" (Ebb/Kander), "Cabaret" (Ebb/Kander), "If You Could Read My Mind" ( G. Lightfoot), "Come Back To Me" (A . J. Lerner-B. Lane), "Shine On Harvest Moon" (J. Norworth-N. Bayes), "Exactily Like M" (Ebb/Kander), "The Circle" ( Ebb/Edith Piaff), "More Than You Know" (W. Rose/Eliseu/Youman), "I'm one of the smart ones" (J. Nash), "Aind I In My Chair" (Et Moi Dans Moin Coin, Asnavour), "Quiet Thing", "Anywhere You Are", "I Believe You", "Cabaret", todas de Ebb/Kander. LEGENDA FOTO 1- Sarah Vaughan LIVE JAPAN. LEGENDA FOTO 2- MABALIA JACKSON I BELIEVE. LEGENDA FOTO 3- DIANA ROSS LIVE.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música Popular
43
05/01/1975

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