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Os Intocáveis, a estréia cuidada de um novo grupo

Dando um exemplo de organização e profissionalismo,o mais novo grupo musical da cidade começa com o pé direito: a temporada de "Sujeito a Guincho" (Teatro Paiol, 12 a 14 de novembro, 21 horas) destaca-se entre tantas apresentações de conjuntos locais pelo nível de organização de seus integrantes, cuidados da produção, marketing inteligente e, sobretudo, a garra do grupo Intocáveis em apresentar um espetáculo capaz de colocá-los, já nesta sua apresentação oficial, entre os grupos musicais em condições de se projetarem. Começa pela formação do próprio grupo: há quatro anos, três jovens que praticavam natação nas piscinas do Clube Curitibano decidiram fazer um conjunto musical. Só que nenhum sabia tocar nada e ao invés de aprenderem de orelhada algumas notas para infernizar os ouvidos dos próximos fizeram o contrário. Como personagens de "Dançando nas Nuvens", marcaram um encontro para um ano depois e cada um foi aprender um instrumento: Marcelo Mira, 25 anos, começou a estudar saxofone, clarineta e harmônica, terminou seu curso e engenharia, e para sobreviver foi ser professor de Bioquímica na UCP. Dulcídio Caldeira, 25 anos, também recebeu o diploma de engenheiro, mas foi ajudar seu pai na próspera agência da família. Rodrigo Etiópia, 17 anos, continuou estudando Comunicação Visual na UFP mas passou também a ter aulas de contrabaixo. Dois outros jovens se integraram à proposta: Juliano Zanoni, 17 anos, estudante da Escola de Música e Belas Artes do Paraná e preparando-se para os vestibulares de Arquitetura, ganhou uma bateria de seu pai, o jornalista Luiz Carlos Zanoni, e em sua mansão na rua Itupava, adaptou uma das garagens para os ensaios do grupo. A presença feminina veio na (bela) forma de Carla Meira, 23 anos, estudante de jornalismo em Ponta Grossa e afinada cantora. Inteligentes e de bom gosto, evitaram as armadilhas do rock: embora apreciando os Beatles e alguns outros grupos dos anos 60, buscaram influências positivas da melhor MPB, especialmente da bossa nova e, como resultado, os dois mais velhos do grupo - Marcelo e Dulcídio - produziram mais de 30 músicas próprias - 14 das quais serão conhecidas no show, inclusive uma canção ao melhor estilo bossa nova: "Nós Cegos". Outra canção, "Sala 101", tem um estilo mais para a linha Djavan, outro compositor que tem a admiração da rapaziada e, numa prova de que há valor em seu trabalho, "Falando de Você" já foi incluído no repertório da gorda Cyda Moreira que, oportunisticamente, está fazendo um "projeto" para divulgar os autores paranaenses. xxx Trocando a imediaetez de aplausos da "tchurma" em ambientes localizados (bares locais, festinhas etc.), Os Intocáveis - o nome vem do fashion style em se apresentarem trajados como os policiais do esquadrão de Eliott Ness - ensaiaram duramente nos últimos 12 meses, com orientação do violonista Célio Malgueiro. Só então decidiram partir para o show, buscando uma direção cênica em Edson Bueno, que vislumbrou o espetáculo com muitas luzes e cenografia apropriada. Sempre generoso com os integrantes de seu grupo Delírio, Edson incluiu no espetáculo a participação especial de Aldice Lopes e Kátia Drumond. Célio Malgueiro, ex-Os Metralhas, ex-Sam Jazz, ex-editor da revista "Coro de Cordas", hoje dono da mais próspera academia de violão do Estado trabalhou bastante com Os Intocáveis, preparando-os o mais que pôde para este show de apresentação. Todos filhos de famílias abastadas, informadíssimos e de bom gosto musical, Os Intocáveis chegaram ao campo de batalha musical com um correto aprimoramento. O fato de dois de seus integrantes serem filhos de homens da comunicação - Dulcídio Caldeira e Giuliano Zanoni (filho de Luiz Carlos, 47 anos, Prêmio Esso de Reportagem-70, ex-Panorama, ex-Múltipla), por certo ajudou bastante para que não seja mais um grupo musical nesta cidade repleta de roqueiros, mas que, infelizmente, até hoje raros foram os que se destacaram com um trabalho criativo. Mesmo quando conseguem chegar à gravação, a indigência promocional (sem falar na artística) dos roqueiros de garagem desta cidade sem portas é lamentável: o lp "Cemitério de Elefantes", reunindo bandas de 1988 (a maioria já de saudosa memória), ou a exemplo do recém-produzido "Vampiros de Curitiba" (com nove bandas amadoras) sairam sem qualquer promoção, não cabendo sequer aos integrantes das bandas uma quota de divulgação. Resultado: de nada adianta fazer discos ou se programarem shows que, mesmo aplaudidos por suas tchurmas, não ganham a menor repercussão. Para não cair neste esquema - e inclusive não serem confundidos como grupo de rock - Os Intocáveis começam com o pé direito, sabendo que há muito que o mercado exige profissionalismo, competência e, naturalmente, talento. O que, prometem eles, vão se esforçar para mostrar agora, pela primeira vez, num espetáculo em teatro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
10/11/1990

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